Qual a relação que tem os estudos do mundo subatômico da Física Quântica com a Ciência da Administração?
É o que procuro responder no presente artigo.
Durante o passar dos séculos, os cientistas sempre se dedicaram à busca das “leis fundamentais da natureza” por trás da grande diversidade de fenômenos naturais.
Questões relativas à natureza essencial das coisas eram respondidas na Física Clássica segundo o modelo mecanicista newtoniano do universo-semelhante ao modelo de Demócrito-que considerava todos os fenômenos como resultantes dos movimentos e interações entre átomos sólidos e indestrutíveis. Porém, no início do século XX, os físicos, com o auxílio de uma tecnologia altamente sofisticada, começaram a investigar a natureza da matéria removendo camada após camada da mesma em busca de seus “blocos de construção básicos”. Assim, foi criado um grupo internacional de físicos para pesquisar e estudar essa natureza, formado, entre outros, por Niels Bohr (Dinamarca); Louis de Broglie (França); Erwin Schroedinger e Wolfgang Paul (Áustria); Werner Heisenberg (Alemanha) e Paul Dirac (Inglaterra). Desse modo, partindo-se dos átomos, foram descobertos os seus constituintes (núcleos e elétrons); os componentes do seu núcleo (prótons e nêutrons) e, principalmente, outras partículas subatômicas. A partir daí, foram descobertas mais de duzentas partículas ditas “elementares” da matéria.
Com a continuidade dos estudos e experiências a Teoria Quântica veio a demonstrar que as partículas não são pequeníssimas partes isoladas de matéria, mas, interconexões de uma teia inseparável, derrubando por terra a noção de “blocos de construção básicos” da matéria, ou seja, as partículas do mundo subatômico são processos, os quais, são inerentes a própria matéria, não podendo ser analisados separadamente. Assim, são esses padrões dinâmicos (partículas subatômicas) que formam as estruturas nucleares, atômicas e moleculares, dando à matéria, o seu aspecto macroscópico sólido.
As descobertas advindas da investigação do mundo subatômico vieram a modificar profundamente a visão da diversidade material como uma coleção de objetos separados componentes de uma gigantesca máquina cósmica (Reducionismo) para uma visão integrada do universo, ou seja, das moléculas aos seres humanos e destes aos sistemas sociais são “todos” cada um por si no sentido de serem estruturas integradas, e, “partes” de “todos maiores” em níveis mais altos de complexidade numa interação dinâmica entre a tendência auto afirmativa e a integrativa, estabelecendo o equilíbrio do sistema geral no qual se encontra inserido (Holismo).
Considerando-se que as ciências sociais estudam os aspectos sociais e culturais do comportamento humano, incluindo a ciência econômica; a política; a sociológica; a antropológica social e a histórica, todas, por sua vez, “partes” componentes da Ciência da Administração, constatamos que a não consideração, por parte do Administrador, nem que seja de só uma delas no contexto gerencial no qual atua, pode pôr em risco todo o empreendimento planejado, sendo o erro mais comum a divisão desse “todo” em pedaços tomados como independentes, muita das vezes sem incluir as realidades sociais, históricas e políticas presentes. Fato também prejudicial à Administração Pública ou de Governo, onde enfoques fragmentários podem resultar na separação entre a política social e a econômica.
Por falta dessa Visão Integrativa, alguns Administradores, na tentativa de maximizar lucros, não contabilizam os Custos Sociais e Ambientais resultantes de suas ações, empurrando-os de uns para outros dentro do Sistema Geral, colaborando com o aumento da inflação. Portanto, o Administrador de Sistemas Sociais e Econômicos tem de estar atento sobre o estado de interligação dos sistemas, sabendo que há um limite para cada estrutura; organização ou instituição, e, que a atenção dada, em separado, a qualquer variável (lucro, eficiência, competição, etc.) acabará por produzir a deterioração do Sistema Maior no qual se encontra incluído, exercendo uma Administração Quântica de acordo com a Nova Visão de Mundo nascida da Física Moderna, Mãe do Atual Processo de Globalização.
Logo, dentre as consequências da não aplicabilidade da Administração Quântica, temos:
- Os custos sociais provenientes de acidentes, litígios e assistência à saúde são incorporados como contribuições positivas para o PNB (Produto Nacional Bruto);
- A Educação considerada como despesa ao invés de investimento;
- O Trabalho Doméstico e os bens por ele produzidos não considerados;
- A não observância do Vínculo entre Lucros Privados e Custos Públicos;
- Apesar de serem essenciais, as atividades como: Serviços Domésticos, Serviços de Limpeza, Serviços de Manutenção e Conservação, Serviços Prestados Por Trabalhadores Rurais são tratados como trabalho de “segunda categoria”;
- Ausência de responsabilidade e de satisfação do trabalhador em seu ambiente de trabalho;
- Falta de Parceria entre o Capital e o Trabalho;
- Desequilíbrio Ecológico causado pela Monocultura e o Uso Excessivo de Fertilizantes;
- Incompreensão da Dinâmica Econômica, que, como qualquer outro processo, está sujeita à flutuações;
- Desconhecimento do aspecto multidisciplinar da Economia em relação à Ecologia, Sociologia, Ciência Política, Antropologia, Psicologia e outras disciplinas correlatas, impossibilitando a análise dos diferentes aspectos e implicações das Atividades Econômicas;
- Visão Fragmentada do Mundo Sócio-Político-Econômico colaborando com Fontes de Estresse Físico e Psicológico (ar poluído, ruídos irritantes, congestionamento de tráfego, poluentes químicos, etc.), prejudicando o bem estar social global.
Atualmente, toda a Economia Mundial se encontra interligada e interdependente, o que vem a confirmar a compreensão da realidade em função de totalidades integradas, de acordo com a Nova Concepção do Universo demonstrada pela Física Quântica, cabendo, então, ao Administrador, como “parte desse todo”, interagir conciliando suas tendências auto afirmativas e integrativas em benefício geral do sistema, sabendo que nada e ninguém pode ser fracionado, pois, tudo faz parte de Um Todo Interligado onde o excesso de especializações pode resultar em retumbante fracasso.
(Carlos Portella, professor, administrador, escritor, analista e pesquisador de Novos Métodos de Ensino Aplicados À Educação e ao Processo Comportamental Individual e Coletivo)