Na questão 886 do Livro dos Espíritos temos a seguinte pergunta:
Qual o verdadeiro sentido da palavra CARIDADE como a entendia Jesus?
Resp.: "Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas"
A caridade é a viga mestra de todas as virtudes. Dela é que derivam outras virtudes que nos impulsionam à perfeição. Quanto mais secreta, mais valor terá. Procuremos então nos conscientizar da importância de desenvolvermos esta virtude para com todos e com o planeta que nos abriga, sem o qual seria impossível promovermos nossa evolução moral.
É bem verdade que procuramos exercer a caridade em seus diversos campos de ação. A desculpa oportuna, a compreensão de um erro alheio, a atenção ao desabafo de um amigo, a higiene e a adequada alimentação pessoal, a ajuda material, são alguns exemplos. Porém, se é difícil desenvolver essas virtudes para com o próximo e para conosco mesmo, muito mais difícil é a praticarmos para com o Planeta que nos acolhe. O desperdício, o desnecessário, a poluição, são bons exemplos de falta de caridade para com o Planeta. Ao não reciclar ou acondicionar o lixo em local apropriado, poluímos! Ao adquirirmos algo que só usamos uma vez ou nunca usamos, concluímos, é desnecessário! Torneira aberta ou gotejando, luz acessa em ambiente vazio, sobra volumosa de alimentos, caracterizam, desperdício!
Os recursos naturais são fonte primacial donde nascem todas as outras riquezas que o Pai colocou a nossa disposição. Assim, quando não praticamos a caridade para com o Planeta, por tabela, não a praticamos para nós e para o nosso próximo. Tudo depende de tudo. A ideia de consciência ecológica, de sustentabilidade, em “Moda” nos tempos atuais, poderia ser substituída, sem perda de importância, para caridade para com o Planeta. Dessa forma, vamos refletir sobre as nossas atitudes. São pequenos gestos individuais que constituem grandes resultados coletivos.
Ser grato pelo planeta é, ou pelo menos deveria ser, um sentimento inerente de todos nós, uma vez que podemos compará-lo com a nossa própria casa.
Nela devemos: respeitar o espaço daqueles que residem conosco, cuidar da preservação do ambiente, ter responsabilidade com as nossas tarefas de preservação tanto da casa quanto da harmonia entre os familiares. Tudo isso também está relacionado com o planeta, pois na vida em sociedade é preciso ter o mesmo comprometimento.
Há vinte anos, o Greenpeace expõe e questiona o modelo agrícola praticado no Brasil. As sementes transgênicas, os agrotóxicos, a expansão da agropecuária sobre a Amazônia e os impactos climáticos da nossa produção comprometem o futuro da nossa alimentação e do planeta. Não temos escolha: é urgente e necessária a mudança para uma outra agricultura, que produza alimentos de maneira ecológica e socialmente justa, para cidadãos cada vez mais preocupados com sua saúde e a saúde do planeta.
O modelo global de produção, distribuição e consumo de alimentos precisa ser revisto, e com urgência. No mundo, quase 800 milhões de pessoas ainda passam fome, enquanto a obesidade e o sobrepeso atingem 1,9 bilhão de pessoas.
De fato, nunca produzimos tanta comida, ao passo que o futuro desta produção nunca foi tão incerto – o uso intensivo de agrotóxicos e de recursos naturais (solo e água, por exemplo), a expansão da fronteira sobre matas nativas e a enorme contribuição da agropecuária para as mudanças do clima colocam em xeque esse modelo insustentável e desigual.
O Brasil é um país simbólico, tanto do ponto de vista do problema quanto de sua solução. Por aqui, a produção convencional cresceu exponencialmente ao longo das últimas décadas, via de regra esgotando recursos naturais que garantem a própria sustentação das lavouras.
Por outro lado, houve grandes avanços na solução agroecológica no Brasil. A despeito deste modelo historicamente receber uma parcela ínfima dos investimentos públicos e privados, estabeleceu-se uma rede ampla de produtores ecológicos que se integram às paisagens, conservam o solo e os mananciais, se adaptam à seca e produzem comida – muita comida.
No meio ambiente, a aplicação de veneno impacta os solos, as fontes de água, a flora e a fauna ao redor das plantações. A esterilização provocada pelos agrotóxicos causa desequilíbrios ambientais gravíssimos, que aumentam a proliferação de “pragas” e reduzem a produtividade agrícola. Tal cenário provoca o uso de ainda mais produtos químicos, numa espiral insustentável – mas lucrativa para as empresas do ramo. Um exemplo dramático do impacto ambiental dos agrotóxicos é a redução da população de abelhas, responsável pela polinização de 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo (incluindo espécies comerciais como o café e a laranja).
A necessária mudança no modelo de produção de alimentos nos oferece a oportunidade de agir. Como consumidores, mudamos o futuro da nossa alimentação quando escolhemos o que compramos com base em critérios socioambientais, quando observamos a origem e os impactos dos produtos, quando demandamos informação para uma decisão responsável, quando cortamos intermediários e compramos em feiras ou diretamente dos produtores, onde o preço é quase sempre muito menor
Tudo no Universo funciona através de ciclos, inclusive nossas vidas, portanto o respeito com o meio ambiente significa praticar a verdadeira caridade com o planeta, sempre lembrando que a Terra passará por novo estágio: de provas e expiação para regeneração. Esta transição já está sutilmente ocorrendo. Espíritos inferiores estão sorrateiramente arquitetando planos a fim de nos influenciar para o mal.
A pegada hídrica (water footprint) é o volume de água necessária para produzir um determinado produto em nível industrial, levando em conta seja a água efetivamente utilizada, ou a água poluída resultante dos vários processos dentro da cadeia produtiva industrial.
Não surpreendentemente, no que se refere à indústria alimentícia, as primeiras colocações na classificação water footprint ocupam as carnes bovina e suína, fato que nos faz refletir mais uma vez sobre o forte impacto ambiental na criação de animais.
Para produzir 1 quilo de carne de bovina são necessários 15.400 litros de água e para produzir um quilo de carne de porco são necessários 6.000 litros d'agua. Parece incrível, mas para produzir 1 litro de leite se usa 1.000 litros de água.
Poderíamos enumerar outros tantos alimentos que demandam um consumo excessivo de água para serem produzidos, mas este não é o objetivo deste artigo. Nosso intuito é demonstrar que é possível sermos caridosos com o planeta prevenindo os excessos de toda ordem, onde os únicos prejudicados somos nós mesmos. Chegou a hora de pedir à indústria alimentícia limitar o consumo e o desperdício d'água.
No Livro dos Espíritos encontramos algumas questões no capítulo V, como nas nas questões 711 a 719, em que o Espírito da Verdade nos responde sobre as consequências do uso abusivo dos recursos naturais pelos seres humanos. Vejamos algumas delas:
- O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens?
“Esse direito é conseqüente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo.”
- Traçou a Natureza limites aos gozos?
“Traçou, para vos indicar o limite do necessário. Mas, pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”
- Como pode o homem conhecer o limite do necessário?
“Aquele que é ponderado o conhece por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa.”
Como podemos ver, não há maldições no mundo que nos acolhe. Nele encontramos a Bênção Divina, envolvente e incessante, nas bênçãos que nos rodeiam. Do mundo recebemos o pão que nos alimenta e o fio que nos veste. O criador não nos ofertou por exílio ou prisão, mas por escola regenerativa e abrigo santo. Se algo nele existe que nos mancha de lágrimas e empesta de inquietação, é a dor de nossos erros.
Sabemos como é difícil sermos indulgentes e benevolentes para com as limitações alheias. Sempre achamos que os outros têm a obrigação de entender tudo o que queremos, tudo o que dizemos. Esquecemos de que somos colocados entre Espíritos mais evoluídos e menos evoluídos.
Por isso temos de entender que, do mesmo jeito que muitas vezes queremos que os outros tenham paciência conosco, porque não entendemos as coisas, nós também temos de ter a paciência, benevolência para com os outros.
É necessário exercitarmos a indulgência em relação aos defeitos dos nossos semelhantes, não acusando, desprezando, julgando. Mas, sempre que possível dando o exemplo, instruindo, ensinando a fazer de outro modo, de modo que nós saiamos ganhando vida e o planeta possa nos proporcionar qualidade de vida.
Não nos façamos, assim, causa do mal no mundo, que, em todas as expressões essenciais, consubstancia o Bem Maior em si mesmo. Lembremos de que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Que Deus abençoe cada um de nós e nos conduza pelos caminhos da preservação da vida....de nossas vidas.
(Manfredo Hipólito de Azevedo, Engenheiro civil, membro do Grupo de Edificação Espírita (GEE), e membro titular da Academia Espírita de Letras do estado de Goiás, cadeira 08).