A festa dos Ázimos e a Páscoa estavam próximas e seriam dali a dois dias. E aconteceu que, tendo Jesus concluído todos esses ensinamentos, disse aos seus discípulos:
“Sabeis que daqui a dois dias acontecerá a Páscoa e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado”.
Os principais sacerdotes e os escribas procuravam como prender Jesus, à traição, para matá-lo, mas temiam o povo.
Então se reuniram os principais sacerdotes e os anciãos do povo, no átrio do palácio do Sumo Sacerdote, que se chamava Caifás, e deliberaram prender Jesus astuciosamente e matá-lo. Mas diziam:
“Não durante a festa, para que não haja tumulto no meio do povo”. (Evangelhos de: Mateus, cap. 26, vv. 1 a 5 – Marcos, cap. 14, vv. 1 e 2 – Lucas, cap. 22, vv. 1 e 2).
Ao termino do Sermão Profético, os Evangelhos iniciam as narrativas vinculadas ao martírio do Mestre Jesus. Este é o primeiro episódio. Ele sabia a respeito do plano macabro que o levaria à prisão, ao simulacro de julgamento e à crucificação e torturas humilhantes.
A festa dos Ázimos ou asmos, palavra que significa “pães sem fermento”, era distinta da Páscoa. Durante sete dias, os judeus comiam pães ázimos, ou seja, pães feitos somente de farinha e água e alimentos sem sal nem azeite. Essa festa agrícola era comemorada nos fins de março ou início de abril, início da primavera ou no início da colheita da cevada e do trigo, época da Páscoa, em lembrança da fuga do Egito, quando não houve tempo para levedura do pão, principal alimento fabricado (Êxodo, 12:1-20 e 39). O sentido figurado dessa festa representa que na antiguidade a levedação era um fenômeno de corrupção e por isto simbolizava a influência moral corruptora.
A festa da Páscoa, no hebraico pasach, palavra que significa “saltar por cima”, “passar por sobre”, libertação. Essa principal festa judaica surgiu devido a lembrança de que o “anjo da morte”, ou “anjo destruidor”, “passou por sobre” as casas dos hebreus marcadas com o sangue do cordeiro, quando todos os primogênitos dos egípcios foram mortos. Isto fez com que o faraó autorizasse a saída do povo hebreu do Egito, depois de séculos de escravidão, em direção à “Terra Prometida”, Canaã. Também há uma crença de que a Páscoa judaica originalmente era pastoril, e que o seu nome, “saltar por cima”, corresponde ao hábito das ovelhas de saltar por cima das coisas, quando brincam (Êxodo, 12).
A Páscoa dos Cristãos é comemorada na mesma data da Páscoa dos Judeus, no domingo depois de 14 de Nisã, primeiro mês do calendário judaico (Levítico, 23:5 e Números, 28:16). A morte e o ressurgimento de Jesus ocorrida na Páscoa dos Judeus, representa a libertação definitiva da Humanidade.
O Mestre revela: “Sabeis que daqui a dois dias acontecerá a Páscoa e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado”. Jesus fez esse anúncio em 4 de abril de 30, noite de terça-feira. No dia 6 de abril, por volta da meia noite, no Getsêmani, Jardim no sopé do Monte das Oliveiras, o Mestre seria preso. No dia seguinte, 7 de abril, seria crucificado, depois de um julgamento sumário e teatral. No dia 9 de abril de 30, domingo, antes do despontar do sol, o Mestre reapareceria do túmulo.
Verifica-se que Jesus era amado e respeitado pelo povo, por isso os sacerdotes e os escribas, que procuravam prendê-lo, temiam o povo. Quantos discípulos, simpatizantes, ex-enfermos e seus respectivos familiares o defenderiam diante da agressão iminente... Jesus seria preso durante a noite, longe dos olhares e da curiosidade do povo.
Naqueles dias, os principais sacerdotes, escribas e os anciãos do povo se reuniram no pátio do palácio do Sumo Sacerdote Caifás e decidiram prender e matar o Messias, mas não durante a festa da Páscoa para evitar a reação imprevista do povo.
Caifás ou José Caifás, do grego “depressão”, era saduceu e por isto era contrário ao ensino da ressurreição e da imortalidade da alma. Foi Sumo Sacerdote de 18 a 36 d.C. nomeado pelo procônsul romano Valerius Gratus e demitido pelo procônsul Vitellius. Foi casado uma filha de Anás, que era Sumo Sacerdote “de jure”, por direito, enquanto Caifás era “de facto”. Anás foi Sumo Sacerdote influente entre 6 e 25 d.C., nomeado por Quirino, governador da Síria. Anás também se destacou no processo de condenação de Jesus, mas Caifás presidiu o Sinédrio durante o processo de Jesus, colaborando com sua condenação (Atos 4:6; Josefo Antiq. xx.10 e xxiii 2,1).
Os anciãos, ou notáveis, eram membros de direito do Sinédrio e chefes das famílias patrícias. Originalmente os anciãos eram líderes das igrejas de Jerusalém.
Os escribas eram também chamados “legistas” ou “doutores da Lei”. Junto aos anciãos e principais sacerdotes formavam o Grande Sinédrio, composto de 71 membros. Os escribas eram os intérpretes oficiais da legislação mosaica. No principio foram os copistas ou escrivães públicos, os secretários dos reis de Judá, depois, mestres ou doutores da Lei.
Jesus sabia que se aproximava o momento prenunciado em muitas ocasiões. Alertava os discípulos sistematicamente para que o impacto de seu martírio não os afetasse vertiginosamente. Ainda assim, o Messias teria pleno controle de todas as situações que vivenciaria para atender aos propósitos de Deus.
Os sofrimentos de Jesus representam a reação negativa da ignorância e do desamor, da injustiça e da crueldade dos que resistem aos ditames do progresso espiritual. Jesus nada tinha do que resgatar perante a Lei porque era o “ramo verde”, mas os recalcitrantes do mal, os “ramos secos” passam por dores atrozes indescritíveis. Ele sofreu para dar as lições de Amor maior, de Perdão incondicional e de Compaixão infinita. Por isso, do alto da cruz o divino Rabi solicitou o perdão de Deus aos enlouquecidos pela ignorância e pela ambição material (Lucas, 23:34).
Somos os “ramos secos” que necessitamos de muito trabalho moral para o devido resgate das injustiças praticadas perante a Lei e evitarmos novas ações injustas porque, como disse Jesus, nesta reflexão: “Se ao ramo verde fazem isto, que se fará ao ramo seco?” (Lucas, 23:31).
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é Mestre em Educação, Autor de várias obras, Doutor em Direito e Pós-Doutor em Ciências da Religião. Autor do livro Sabedoria da AB Editora. Membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras)