A sociedade brasileira está em fase de amadurecimento, com evolução em vários campos sociais, econômicos e políticos, travando lutas históricas a cada década. São ciclos longos para vencer batalhas e encontrar o ponto de equilíbrio, como vencer a questão da redemocratização, formação de um sistema político mais sólido, a hiperinflação e os constantes desafios impostos pela segurança e saúde pública. São passos constantes, como disse, no social, político e econômico, no qual cada cidadão vai recebendo efeitos das interferências do poder público nos modelos adotados, buscando soluções, mas que, pela complexidade, demoram até décadas para começar a aparecer.
Na Educação, temos vários avanços e gargalos. Um passo importante que une a Educação e Economia está sendo dado e pode trazer, no futuro, bons frutos para nossa sociedade. O País vive uma crise de inadimplência nunca vista no País, são mais de 60 milhões de pessoas (um terço da população economicamente ativa) nas listas de restrição ao crédito. Um dos motivos por este desajuste é a falta de conhecimento dos brasileiros sobre educação financeira. Os problemas nesta área vão da não compreensão da importância de um orçamento familiar até o desconhecimento do custo do dinheiro quando se faz um empréstimo, passando pelas razões que devem nortear uma compra.
Essa realidade poderia – e deve ter, a partir de agora – a escola como um ponto de partida para melhorar essa relação do brasileiro com o dinheiro, pois foi homologada a Base Nacional Comum Curricular e a Educação Financeira passa a ser obrigatória. Ela deverá ser abordada em Matemática e Ciências da Natureza para crianças de ensino fundamental. A iniciativa vem sendo estudada há tempos e o Banco Central participou, em conjunto com o Ministério da Educação, da elaboração do documento – que já começa no próximo ano letivo – por meio e audiências públicas. Será um processo lento, com debate e assimilação, mas logo os livros do fundamental vão agregar o tema, os professores vão se envolver e os alunos – com o tempo – vão levar para dentro de casa, mais informações e interações com pais e irmãos sobre o assunto. Pelo documento os Estados e municípios vão decidir como o tema vai entrar na grade curricular, mas o que importa que é que nossas crianças vão crescer tendo contato com essa área que é uma deficiência da economia popular, no cotidiano da maioria das famílias brasileiras.
A definição de Educação Financeira traduz bem o espírito deste processo de evolução que já deveria ter sido adotado há tempos no País: “É o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua compreensão dos conceitos e produtos financeiros. A gestão das finanças precisa levar em conta as oportunidades e os riscos para que se façam escolhas embasadas.” De igual forma, o consumo precisa ser mais lógico e racional, visto que boa parte das compras se dão por razões emocionais, gerando apenas consumo e não necessariamente bem estar ou aumento patrimonial.
A introdução da Educação Financeira na escola não resolverá problemas estruturais da economia, mas é um avanço para o amadurecimento do país na sua busca por uma sociedade mais preparada para os desafios do futuro, além de ser um passo relevante na interação da educação com o cotidiano das pessoas, ressaltando que este é um dos principais papéis dela. Ressalte-se, ainda, que controle financeiro pessoal não é apenas uma questão econômica, mas social e até de saúde, afinal, problemas de endividamento desestruturam relações – inclusive familiares - e afetam a saúde das pessoas. Por isso, a escola como um agente social de forte expressão precisa se estabelecer e não ficar de fora desta questão.
(Paulo Arcanjo, advogado e diretor dos colégios Metropolitano e Metropolitano Jr. metropolitano@metropolitano-go.com.br)