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Forças Especiais do Exército em Goiás: orgulho silencioso que deve ser despertado

Ul­ti­ma­men­te, ba­ten­do pa­po com pes­so­as em Go­i­â­nia e no in­te­ri­or, per­ce­bi que pou­cos sa­bem da pre­sen­ça da ver­da­dei­ra "tro­pa de eli­te" do Exér­ci­to em nos­so Es­ta­do. Os Co­man­dos e os For­ças Es­pe­ci­ais, são, por na­tu­re­za, dis­cre­tos. Não po­de­ria ser mui­to di­fe­ren­te. Vi­vem sob o man­to do ano­ni­ma­to na so­ci­e­da­de go­i­a­na, que pra­ti­ca­men­te des­co­nhe­ce ter en­tre os seus ver­da­dei­ros he­róis, her­dei­ros mes­mo das me­lho­res tra­di­ções de An­tô­nio Di­as Car­do­so, do Du­que de Ca­xi­as, dos ab­ne­ga­dos da Guer­ra da Trí­pli­ce Ali­an­ça ou dos pra­ci­nhas. São eles, os Co­man­dos, os guer­rei­ros das som­bras.

Sua his­tó­ria em Go­i­ás co­me­ça em 2003. No fim da­que­le ano, che­ga­va à ca­pi­tal go­i­a­na um pe­que­no gru­po de mi­li­ta­res do Exér­ci­to com a de­sa­fi­an­te mis­são de trans­fe­rir o 1º Ba­ta­lhão de For­ças Es­pe­ci­ais, do Rio de Ja­nei­ro pa­ra so­lo go­i­a­ni­en­se. Não se tra­ta­va ape­nas da re­a­lo­ca­ção de uma uni­da­de, mas tam­bém da sua am­pli­a­ção de es­tru­tu­ra e efe­ti­vos: aqui se cri­a­ria a iné­di­ta Bri­ga­da de Ope­ra­ções Es­pe­ci­ais, ho­je Co­man­do de Ope­ra­ções Es­pe­ci­ais, com se­de pró­xi­ma ao Ae­ro­por­to San­ta Ge­no­ve­va.

A vi­tó­ria da se­le­ção de nos­sa ci­da­de foi co­me­mo­ra­da en­tre os gor­ros pre­tos. Is­so se deu, em fun­ção do pre­su­mi­do au­men­to da qua­li­da­de de vi­da e da lo­ca­li­za­ção ge­o­grá­fi­ca pri­vi­le­gi­a­da em re­la­ção ao cen­tro na­ci­o­nal de po­der e a to­do ter­ri­tó­rio bra­si­lei­ro. A bus­ca por uma ci­da­de me­nos vi­o­len­ta e com me­nor pos­si­bi­li­da­de de in­fil­tra­ção do cri­me or­ga­ni­za­do no seio das tro­pas tam­bém foi con­si­de­ra­da.

A ideia era evi­tar ca­sos co­mo o ocor­ri­do no Rio de Ja­nei­ro, no iní­cio des­sa se­ma­na. Na­que­la tris­te ma­dru­ga­da, per­de­mos pa­ra a cri­mi­na­li­da­de Bru­no Ca­zuka, um jo­vem For­ças Es­pe­ci­ais com­ba­ti­vo, ha­bi­li­do­so, ide­a­lis­ta, ze­lo­so pai de fa­mí­lia e um pro­fis­si­o­nal de ex­ce­lên­cia. Sua vi­da foi cei­fa­da du­ran­te um as­sal­to. O Es­ta­do Bra­si­lei­ro tem obri­ga­ção mo­ral de re­a­gir e de im­pe­dir que os ci­da­dã­os de bem, far­da­dos ou não, se­jam re­féns de uma ban­di­da­gem que ma­ta agen­tes pú­bli­cos em pro­por­ções tí­pi­cas de uma guer­ra.

Vi­san­do, as­sim, di­mi­nu­ir a pro­ba­bi­li­da­de de ocor­rên­cia de si­tu­a­ções co­mo es­sas, os Co­man­dos e os For­ças Es­pe­ci­ais, en­tão, aqui che­ga­ram. Aqui se ca­sa­ram, com go­i­a­nas. Ti­ve­ram fi­lhos go­i­a­nos e es­tu­da­ram aqui. Fi­ze­ram ami­za­des aqui. Cons­ti­tu­í­ram pa­tri­mô­nio aqui. Trou­xe­ram pa­ra cá su­as fa­mí­lias, seus pa­is. Es­co­lhe­ram, de co­ra­ção, ser go­i­a­nos. São, en­tão, mem­bros da nos­sa co­mu­ni­da­de.

Ocor­re que de 2004 até ho­je, de­ze­nas de go­i­a­nos nas­ci­dos aqui se sub­me­te­ram aos ri­go­ro­sos trei­na­men­tos pa­ra tam­bém se tor­nar Co­man­dos. Mui­tos dos nas­ci­dos em so­lo go­i­a­no, ho­je, os­ten­tam or­gu­lho­sa­men­te a ca­vei­ra nos seus uni­for­mes, sal­tam de pa­ra­que­das, ati­ram, mer­gu­lham, cum­prem ou cum­pri­ram mis­sões no Rio de Ja­nei­ro, no Ama­zo­nas, no Hai­ti ou em qual­quer ou­tra par­te do Bra­sil ou do mun­do.

Mas quem são eles, os Co­man­dos? O que fa­zem? Por que são tão es­pe­ci­ais? Os Co­man­dos, nu­ma guer­ra, são aque­les mi­li­ta­res que aden­tra­rão o ter­ri­tó­rio ini­mi­go, por cen­te­nas de qui­lô­me­tros, a pé, na­dan­do, sal­tan­do de pa­ra­que­das ou por qual­quer ou­tro meio de in­fil­tra­ção, com a fi­na­li­da­de de lhe cau­sar da­nos su­fi­ci­en­tes pa­ra fa­zê-lo de­sis­tir da guer­ra, mu­dan­do, mui­tas ve­zes, o cur­so da His­tó­ria.

São tão es­pe­ci­ais que a mé­dia de apro­va­ção em seu cur­so ra­ra­men­te ul­tra­pas­sa os 15%. O Bo­pe do Rio de Ja­nei­ro e de qua­se to­dos os Es­ta­dos da Fe­de­ra­ção usam a ca­vei­ra co­mo sím­bo­lo, ten­do co­mo pa­ra­dig­ma os Co­man­dos do Exér­ci­to. Ali­ás, a Po­lí­cia Mi­li­tar do Rio, na dé­ca­da de 1980, te­ve ins­tru­ção com os Co­man­dos, in­cor­po­ran­do a ca­vei­ra co­mo seu sím­bo­lo e se­lan­do uma ami­za­de de mui­tos anos en­tre os ca­vei­ras de lá e os de cá.

Eles, os Co­man­dos, são a ba­se de re­cru­ta­men­to pa­ra as For­ças Es­pe­ci­ais. Es­sas, ain­da mais es­pe­cia­li­za­das, con­gre­gam mi­li­ta­res ca­pa­zes de fa­lar vá­rios idio­mas, in­flu­en­ciar co­ra­ções e men­tes, con­du­zir a guer­ra ir­re­gu­lar, com­ba­ter for­ças ad­ver­sas ou en­fren­tar o ter­ro­ris­mo. São mi­li­ta­res tão es­pe­ci­ais que não é ra­ro que tur­mas egres­sas das Agu­lhas Ne­gras pos­suam me­nos de 2% de ofi­ci­ais en­tre seus qua­dros, aque­les pou­cos au­to­ri­za­dos a os­ten­tar a lu­va e o pu­nhal em seus gor­ros.

E eles es­tão aqui, en­tre nós. São, em ver­da­de, nos­sos ir­mãos e con­ter­râ­ne­os, por nas­ci­men­to ou por es­co­lha. Por is­so, ca­ro lei­tor, pos­so lhe in­cen­ti­var. Da pró­xi­ma vez que al­guém de fo­ra se ga­bar por qual­quer atri­bu­to de seu Es­ta­do, não he­si­te. Di­ga-lhe, or­gu­lho­sa­men­te, que tu­do bem, eles po­dem até ter al­go de bom, mas a ter­ra de Anhan­gue­ra é a ca­sa dos Co­man­dos e dos For­ças Es­pe­ci­ais, que são go­i­a­nos, co­mem pe­qui e têm o pé ra­cha­do.

(Vi­tor Hu­go Al­mei­da, ma­jor das For­ças Es­pe­ci­ais do Exér­ci­to Bra­si­lei­ro (re­ser­va não re­mu­ne­ra­da) e ad­vo­ga­do)

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