As festas e os ritos religiosos, de um modo geral, são demonstrações de fé e religiosidade de um povo. Contudo, algumas dessas manifestações se destacam e ultrapassam esse significado inicial, assumindo outras funções e características, como é o caso da Procissão do Fogaréu, na Cidade de Goiás.
Essa procissão, apesar de não fazer parte da liturgia oficial da Igreja, tem a sua origem católica no século XVIII, sempre na quinta-feira Santa, às 0 horas, quando remonta a perseguição e a prisão de Cristo por 40 homens encapuzados, os chamados Farricocos (que representam os soldados romanos), percorrendo as ruas da antiga Vila Boa, até o momento de sua prisão.
Alguns autores relatam que, no início, essas festas religiosas serviam como instrumento de catequização e colonização dos nativos. A professora Rita Amaral, em sua tese de doutorado “Festa à brasileira: Sentidos de festejar num país que não é sério”, descreve que a encenação de festas religiosas servia como forma de catequização da igreja sobre os nativos.
Contudo, os simbolismos não estão restritos aos ritos da encenação secular. Fazer parte dessa tradição é, também, uma forma de vivenciar a cultura popular, o folclore e algumas das visualidades que ajudam a compor a nossa identidade enquanto povo.
No entanto, falar sobre a Procissão do Fogaréu não é somente remontar a nossa história. Na atualidade, essas tradições nos chegam já ressignicadas e, muitas vezes, são vistas apenas como entretenimento e curiosidade. Vivemos em uma realidade onde quase tudo se torna espetáculo. Na sociedade midiatizada, muitas vezes estimulada por empresas que promovem o lazer e o turismo, a cultura popular torna-se mais um produto de consumo.
Com isso, essas festas populares assumem outras funções que, além da fé e da religiosidade, presentes na manifestação, passamos a conhecer a chamada ‘espetacularização’ da festa religiosa, tornando o que era religiosidade e fé em simples espetáculo para turistas, perdendo a sua essência e a pureza de seus primeiros idealizadores.
(Vinícius Luz, jornalista, designer gráfico e fotoartista)