Recentemente, a r evista Veja publicou uma pesquisa que arrolou diversas profissões que poderiam vir a ser substituídas, em um futuro não muito distante, pela inteligência artificial, por robôs, programas de computador ou máquinas capazes de livrar o ser humano de tarefas de determinada complexidade consideradas repetitivas, cansativas ou monótonas. Entre as profissões citadas, está a de contador.
O contador acabou fazendo parte desta lista por ter sido considerado apenas como o profissional encarregado de executar a contabilidade dos agentes econômicos e sociais para a extração de informações econômicas, financeiras e patrimoniais; de apurar os tributos devidos para o governo e as obrigações trabalhistas e sociais; e de prestar informações aos agentes governamentais. Ao considerar somente este lado da atividade do contador, é natural que a pesquisa indique que estas tarefas poderão em breve ser efetivamente executadas por máquinas, por sistemas de informática ou até pela inteligência artificial.
Contudo, a função principal do contador não está entre as atividades referidas anteriormente. O contador é o profissional responsável por validar as demonstrações contábeis, por executar auditorias e perícias e por assessorar outros profissionais quando o assunto envolve contabilidade. É também o responsável pela saúde dos agentes econômicos e sociais, uma vez que estuda o comportamento e as variações patrimoniais, sugerindo ações para o bom funcionamento das pessoas jurídicas.
Se o agente econômico ou social está com dificuldades para pagar as suas obrigações, isto é uma consequência da gestão, ou seja, há uma causa por trás deste evento e o contador tem o dever de saber o que está acontecendo, assim como em relação a todos os problemas decorrentes da gestão, entre eles: não ter lucros, não possuir capital de giro suficiente, apresentar resultados insuficientes ou ter uma carga tributária elevada.
Como o contador não tem por função principal fazer os registros dos atos de gestão, mas, sim, validar as informações contábeis, sendo, consequentemente, o responsável por manter a saúde das pessoas jurídicas em dia, não há perigo de este profissional ser substituído pelas novas tecnologias de informação em um futuro próximo.
A máquina não pensa, mas executa tarefas previamente programadas. Assim, funções próprias do contador como a de interpretar as informações contábeis para aplicar em benefício de seus clientes não podem ser executadas por sistemas de informática. O que deverá acontecer é uma adaptação natural das rotinas contábeis aos novos tempos, integrando estas novas tecnologias para facilitar o trabalho do cContador.
(Salézio Dagostim, contador; pesquisador contábil; professor da Escola Brasileira de Contabilidade (Ebracon); autor de livros de Contabilidade; presidente da Associação de Proteção aos Profissionais Contábeis do Rio Grande do Sul - Aprocon ContábilL-RS; presidente da Confederação dos Profissionais Contábeis do Brasil - Aprocon Brasil; e sócio do escritório contábil estabelecido em Porto Alegre (RS), Dagostim Contadores Associados, à rua Dr. Barros Cassal, 33, 11º andar - salezio@dagostim.com.br)