Na França do século XIX um professor cético, autor de renomadas obras pedagógicas, se definia ,em muitos de seus livros como sendo discípulo de Pestalozzi. Era diretor de escola da Academia de Paris e membro de diversas sociedades científicas.
O nome dele?
Hippolyte Léon Denizard Rivail. Mais tarde,aos 53 anos, por uma questão de ética adotou o pseudônimo de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo.
Fez seus estudos em um dos centros de ensino mais inovadores e renomados da Europa, o Instituto de Yverdon, na Suiça, fundado pelo professor, jornalista e escritor Johann Heinrich Pestalozzi, para onde foi levado, aos 10 anos de idade por seu pai, o juiz Jean Baptiste Antoine Rivail e sua mãe, Jeanne Duhamel, dona de casa, ambos católicos.
Ali entrou em contato com os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade difundidos pelo filósofo Jean Jacques Rousseau. Princípios que foram hasteados como bandeiras, na então recém-vitoriosa Revolução Francesa.
Numa época em que era obrigatório decorar e repetir verdades irrefutáveis, impostas, sem argumentação, sob pena de punição, Pestalozzi ensinava a arte de pensar, causando revolução.
Pontuava o respeitado educador que a época era de ensinar, fundamentando a ousadia do livre pensar. O século da razão não se contentaria simplesmente com o ato de julgar e criticar.
Primava pelo conhecimento e cultivo da individualidade do aluno como tarefas sagradas ao educador.
Defendia que o principal objetivo do ensino elementar não deveria ser o de sobrecarregar o cérebro infantil de conhecimentos e talentos, mas desenvolver e intensificar as potências da inteligência da criança em desenvolvimento.
A influência do mestre de Yverdon falou alto. Ao se tornar professor, Rivail listou entre os próprios princípios adequados ao ensino os seguintes objetivos: estimular o espírito natural de observação da criança; cultivar a inteligência para que buscasse as próprias descobertas; levar a conhecer o fim e a razão de tudo o que faz e vier a fazer; conduzir o aprendiz a “apalpar com os dedos e com os olhos todas as verdades.”
Observar e descobrir para repetir, quantas vezes se queira, fazem parte do aspecto experimental que é apanágio da ciência, mas que permeia os conceitos educacionais do Pedagogo de Lion.
Marcel Souto Maior, no livro Kardec, Editora Record, 2013, aborda a biografia de Kardec de forma jornalística num texto ágil, calcado na pesquisa e na seriedade, mas bastante agradável.
Faz referências às descobertas científicas da época, voltadas para a investigação de mundos invisíveis rastreados por microscópios e telescópios sempre mais potentes.
Refere-se ao eletromagnetismo estudado pelo físico Faraday como sensação apaixonante no girar dos imãs no ar. Nada mágico. Tudo ciência em comprovação.
Os limites do conhecimento do micro ao macrocosmo estavam rompidos.
Da mesma forma, o questionamento sobre a possibilidade da comunicação entre os vivos e os mortos, surge com este aparato de ciência e investigação. As fronteiras entre as duas dimensões estavam abertas.
Numa dedicação espetacular Allan Kardec atesta a realidade entre os dois lados da vida. Não mais a dúvida, a incerteza ou o desespero.
Seu trabalho de pesquisador racional e comprometido com a busca do desvelar dos véus e a ciência dos novos tempos gerou um legado de verdades incontestes.
(Elzi Nascimento – psicóloga clínica e escritora / Elzita Melo Quinta - pedagoga – especialista em Educação e escritora. São responsáveis pelo Blog Espírita: luzesdoconsolador.com. Elas escrevem no DM às sextas-feiras e aos domingos. E-mail: iopta@iopta.com.br (062) 3251 8867)