Desde a primeira vez em que focalizei o golpe de 2016 qualifiquei-o de civil. Não lera nem ouvira qualquer pronunciamento militar que suscitasse a dedução de ter havido mínima participação castrense na preparação e na execução do golpe consubstanciado pelo impeachment da presidente Dilma e consequente ascensão à chefia do Governo Nacional do Sr. Michel Temer. Para mim, pois, foi um golpe genuína e exclusivamente civil.
A leitura de declaração do general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, publicada na primeira e na página 14 do Diário da Manhã de anteontem, levou-me a mim e certamente a todo brasileiro que dela teve conhecimento a entrever, nas palavras desse general, a ocorrência de uma intervenção pelo menos de algum segmento militar no processo político brasileiro a partir do julgamento de Lula no STF.
O general Luiz Gonzaga chega a fazer pressão sobre o Supremo Tribunal Federal ao afirmar que se a mais alta Corte de Justiça do país “deixar Lula solto estará agindo como “indutor” da violência entre os brasileiros”.
É deplorável, sumamente grave esse tipo de manifestação. Tivemos os brasileiros, de 1964 a 1990, governos ilegítimos, a quase totalidade deles sob a chefia de um general de 4 estrelas e a sustentação por esquemas sistematicamente ditatoriais.
Quando se pensava que a democracia no Brasil estava consolidada com os pleitos livres de 1990 a 2014 – 24 anos portanto – de governos legítimos, acontece a deposição, por meio de impeachment inteiramente desmotivado, da presidente da República.
Por quê inteiramente desmotivado o impeachment?
Porque ocorreu sob o fundamento de prática da chamada “pedalada fiscal”. E no mesmo dia de sua decisão a Câmara dos Deputados votou uma lei estabelecendo que “pedalada fiscal não é crime”. Não foi ridículo o papel dos golpistas? Mais que ridículo uma farsa que enodoa e envergonha a História política brasileira.
Na verdade o que os golpistas queriam era tomar de assalto o poder a fim de se assegurar a vitória nas eleições presidenciais de 2018. Eles sabiam, por todas as pesquisas que os institutos especializados realizaram após o pleito de 2014, que havia uma candidatura impeditiva da vitória deles. Vitória que para se tornar possível teria de contar com o golpismo no poder – daí o impeachment de Dilma Rousseff – e de se alijar do processo político nacional o candidato Luís Inácio Lula da Silva. Era preciso, pois, após consumado o impeachment, destruir não apenas o candidato Lula, mas o alijamento dele de forma total, da vida política e da comunidade nacional.
Até aqui o golpe vem sendo administrado na medida em que os meios de que dispõem os seus fautores lhes permitem plena utilização. Esses meios são: Câmara Federal e Senado, um poderosíssimo esquema midiático, um juiz federal, alguns representantes da alta cúpula federal do judiciário e representantes das classes dominantes.
Existem, naturalmente, grandes vítimas desse criminoso processo político. A maior de todas elas, não se tem dúvida, é a Democracia.
(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal à sextas-feiras. E-mail: eurico_barbosa@hotmail.com)