Entre as várias crises enfrentadas pelo Brasil, uma delas é a inversão de valores exaltada de alguns valores que permeiam o sentimento de uma nação. Quase sempre alguns fatos chamam a atenção pelo bombardeio de notícias veículadas pelas grandes redes de televisão, portais de notícias da Internet e pelas redes sociais. O assunto repetido exaustivamente pelo noticiário reflete parte expressiva da opinião pública. É preciso que o brasileiro se municie de informações para ter discernimento e condições de enxergar aquilo que muitas vezes é deixado de lado pelo debate público e midiático.
O Portal de Notícias “O Dia” postou no dia 21 de março a notícia “Em menos de 24 horas, Rio tem três PM’s mortos”, narrando uma trágica realidade que se tornou comum no Estado do Rio de Janeiro e que pouco desperta a atenção das autoridades. Dois dos três policiais que perderam a vida estavam em serviço, enquanto um deles morreu em uma tentativa de assalto. O dado reflete a continuidade de outra estatística cruel mostrando que no ano passado 138 policiais foram mortos no Rio de Janeiro. Uma média assustadora de uma morte a cada dois dias e meio.
A chegada do Exército Brasileiro para reforçar a segurança pública carioca demonstra que, há sim, uma guerra instalada naquele Estado. O Governo Federal tenta colaborar para a redução dos índices da violência desenfreada e os inimigos parecem ser conhecidos há tempos. São as facções comandadas geralmente de dentro dos presídios, dominando o tráfico de drogas e de armas nos morros e favelas. Grupos fortemente armados com potencial de fogo para dizimar quem encontrarem pela frente, sejam policiais miliares, civis, agentes públicos, homens do exército ou mesmo um cidadão qualquer que tente cruzar os seus caminhos.
Todo este contexto de guerra civil urbana foi há poucos dias trazido à tônica para uma discussão ampla sobre a violência no Rio de Janeiro depois da morte da vereadora Marielle Franco, do PSOL, assassinada a tiros no dia 1 de março na região Central da Capital fluminense. As vítimas dessa vez foram a vereadora e o seu motorista, Anderson Pedro Gomes, ambos exterminados covardemente. O assunto dominou, e ainda domina, grande parte do noticiário nacional e até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) pleiteou institucionalmente para que o crime fosse esclarecido rapidamente e punido severamente os autores.
O que procuramos discutir aqui neste espaço, pretende ser um entendimento mais amplo para toda esta problemática exposta. Tanto a vida da vereadora quanto a vida dos policiais mortos devem ter importância para o Estado, para a população e para a opinião pública. O foco do debate deve ser a preservação da vida. E nessa guerra o policial militar está na frente de batalha 24 horas por dia. Ele é o lado mais frágil e mais facilmente atingido nessa batalha. A repercussão da morte da vereadora carioca deve ser proporcional à vida perdida de cada PM tombado. Não devemos defender que uma morte tenha importância, mas que todas as vidas perdidas sejam um motivo para lutar por um Brasil mais seguro.
E se assim persistir essa situação, o caos tende a se estender para todo o País. Basta lembrar de mais uma vida ceifada, desta vez no Estado do Rio Grande do Norte. A Soldado Caroline Pletsch, de 32 anos, foi baleada juntamente com seu esposo, o Sargento Marcos Paulo da Cruz, de 43 anos. Eles estavam em Natal e foram abordados por bandidos em uma pizzaria. Os bandidos chegaram em um carro, roubaram os clientes e quando perceberam que eles eram policiais atiraram. Os dois foram socorridos, mas a Soldado morreu.
Como se observa, é preciso de um grito de socorro pelas vidas dos PM’s assassinados diariamente em todo o Brasil. Também é preciso descobrir quem assassinou a vereadora Marielle Franco. O Estado precisa deixar claro que é a favor da vida e escancarar quem é o verdadeiro inimigo que pretende enfrentar. Enquanto o silêncio pela morte de muitos imperar centenas de policiais serão exterminados sem que isso tenha uma repercussão de impacto na sociedade. Que o clamor público seja pela vida a vida seja sempre o bem mais precioso a ser preservado.
(Eurivan Fernandes da Rocha, 3º sargento da Polícia Militar de Goiás, bacharel em Direito pela Uni-Anhanguera e pós-graduado em Direito Público pela Escola Superior de Direito/ESD Proordem)