Jovair Arantes está forçando a barra. Ele quer Demóstenes Torres na chapa majoritáriária encabeçada por Zé Eliton, custe o que custar. E vem subindo o tom de sua cantilena. Num encontro de militantes, semana passada, disse que na chapa da “Base aliada” não pode ter gente que “dá piti em palácio”. Ele não disse o nome de Lúcia Vânia. Precisava?
Agora ele se saiu com essa: quer prévias na “Base aliada” para a escolha do do candidato a Senador na segunda vaga.. Ele deve achar que está podendo.
O que é a “Base aliada”? Não passa de uma entidade mística que de vez em quando se manifesta em alguns terreiros de umbanda. Não existe. Não é, nunca foi um partido. Não tem organicidade. Não tem estatutos. É apenas uma ideia evanecente.
Por “Base aliada”, neologismo já velho que alguns jornalistas bajuladores inventaram quando Marconi subiu ao poder em l999, é apenas uma aliança informal, inorgânica e disfuncional hegemonizada pelo PSDB. Os outros partidos, na verdade, nunca passaram de satélites a gravitar em torno do governador-sol. E tem uns que estão na órbita mais externa, prestes a escapar para outro sistema solar, o caiadista.
O PSB de Lúcia Vânia e o PDS de Vilmar Rocha e deTiago Peixoto estão nestes níveis. Aliás, o partido de Vilmar já está livre da força atrativa do marconismo faz tempo e, devagar, com jeito – porque com jeito vai – se achega à constelação caiadista.
Como a “base aliada” não tem organização, nem estatuto nem nada desses lances legais, fica-se a perguntar como é que uma prévia pode ser feita. Não tem como. Cada partido tem soberania interna e relaciona-se com o PSDB de igual para igual. Certo, o PTB de Jovair não passa de linha auxiliar do PSDB, sendo assim que seus filiados veem a coisa e em consequência disso se comportam. Mas é exceção.
Do fato de nem todos os partidos da base terem interesse em pleitear uma vaga senatorial, não se infere necessariamente que estejam obrigados a participar desta “prévia” apenas para satisfazer as pretensões de Demóstenes e de Jovair.
A petulância dos tucano-petebistas está, na verdade, embaçando a vidraça e gestando uma crise interna. Com a má performance de Zé Eliton nas pesquisas, com a liderança precária de Marconi nessas mesmas pesquisas, tudo de que a“Base aliada” não precisa, neste momento, é de uma crise interna.
Em seu último dia de Governo, em entrevista concedida a este Diário da Manhã, Marconi declarou, com toda solenidade de estilo – e chegou a ser repetitivo – que uma das vagas para o Senado na chapa do PSDB é de Lúcia Vânia.
Até prova em contrário, deve-se dar crédito à palavra do Governador. E como esta fala jamais foi contestada por Zé-Eliton, presume-se que também o governador-candidato tem a mesma opinião. E se a tem, até que diga publicamente que dela discorda, o seu compromisso é com Lúcia Vânia. E fim de papo.
Mas tanto Demóstenes como Jovair estão forçando a mão para desfazer o que foi feito. Na verdade, o que eles não aceitam é a palavra dirigente de Marconi e o silêncio aquiescente de Zé Eliton. Forçar a ejecção de Lúcia Vânia, para colocar no lugar dela o ex-senador Demóstenes Torres, é querer levar Marconi a voltar atrás em sua palavra. É querer forçar José Eliton a se submeter a uma chantagem política que vai enfraquecê-lo mais ainda do que já está.
Para piorar as coisas, Demóstenes aparece muito mal na pesquisa DM/Grupom, ao passo que Lúcia Vânia vem empatada tecnicamente com Marconi, Se alguém tem chance de vencer a eleição, hoje, é ela, não Demóstenes. E por mais que o ex-senador se esforce para ganhar a simpatia da “Base Aliada”, aparecendo em todo evento promovido pelo Palácio das Esmeraldas, isto pode apenas acirrar a crise. A estratégia de Demóstenes é ganhar apoio interno para forçar Lúcia Vânia a pular fora da “Base”. Mas, se ela insistir em permanecer, as investidas agressivas de Jovair deixarão Marconi e Zé Eliton em constrangedora situação. Ficará provado que Marconi já não é senhor em sua própria casa.
Mesmo que se fizesse uma prévia, admitindo ser isto possível, ainda assim a situação de Eliton e Marconi ficaria delicada. Se Demóstenes ganhar a prévia, em princípio os dois chefes estariam desobrigados moralmente de sustentar Lúcia Vânia. Mas estariam sinalizando que não têm liderança interna e que qualquer um poderá exigir deles o que quiser, bastando que se convoque uma “prévia”. Repetindo, já não seriam mais senhores em suas próprias casas.
De resto, não há garantias de que Demóstenes venceria esta fantasiosa prévia. Mais fácil Lúcia Vânia vencer. Ela tem mandato, está confortavelmente instalada no topo das pesquisas, tem sua própria legenda caso queira sair candidata avulsa. Não precisa dos cartolas da Base Aliada para nada. Eles é que precisam dela. Seria fácil para ela articular-se aos demais partidos da Base para obter a vitória.
Mas Lúcia Vânia, claro, não se submeterá a tamanha humilhação. Ela tem dito e repetido que não disputa a indicação dentro da “Base”. Ou a “Base” fecha com ela... ou, um abraço pra quem fica. O PMDB e Caiado a esperam de braços abertos.
(Helvécio Cardoso, jornalista)