As inquietantes contestaçõesdos “comunistas” da Tchecoslováquia contra as ordens de Moscou começavam a germinar no que se sucederia como a “Primavera de Praga”; movimento liberalizante que Alexander Dubcek, chefe de Estado tcheco,ousou implementar.
O contexto da Guerra Fria – na disputa entre duas visões de mundo – altamente militarizada e tencionada pelas duas grandes potências, EUA e URSS, não permitiria qualquer desequilíbrio na sua correlação de força, principalmente na Europa.
Evidente que a troca de acusações entre Washington e Moscou energizou-se com os russos acusando os americanos de apoiarem a insurreição tcheca. Tanques e soldados de prontidão aguardavam apenas as ordens para a invasão.
Discursos duros fechavam cada vez mais as vias diplomáticas; porquanto, Moscou não permitiria qualquer espécie de fissura aos membros do Pacto de Varsóvia. O ultimato final para os tchecos foi dado na Conferência de Varsóvia, ocorrida em 14 de julho de 1968, que dizia: “Jamais consentiremos que o imperialismo abra uma brecha no sistema socialista e modifique a Europa. ”
Manobras tchecas recheadas de blefese de paixões num discurso de soberania, independência, afronta às ordens de Nikolai Podgorny, Secretário-Geral do Partido Comunista,e Presidente da URSS, anunciava o confronto.
Era necessário conter a insubordinação, pois os ventos subversivos sopravam fortemente em todos os continentes; medidas duras precisavam ser tomadas para evitar contaminações de insurgência no bloco soviético.
A rejeição à ortodoxia hostilizante do Kremlin era contraposta ao socialismo humanístico de Dubcek; contudo, a posição estratégica da Tchecoslováquia era fundamental para os russos manterem seu controle no leste europeu.
Não obstante, as sementes libertárias germinaram. A brevíssima “Primavera” chegara e os tanques russos desfilaram em Praga e em toda Tchecoslováquia. Os ventos insurgentes que sopravam em todos os continentes encontraram no socialismo soviético a força militar que o conteve.
O florescer prematuro de uma primavera, que objetivava um socialismo democrático, ruiu precocemente.
As circunstâncias da Guerra Fria, associada à uma visão totalitária, não permitiu a experiência de um socialismo democrático mais humano.
As fissuras tão temidas por Moscou vieram anos depois com o desmonte da URSS; porém, o capitalismo americano também não permitiu civilidade à humanidade.
Coexistimos em um sistema perverso de riqueza para pouquíssimos e miséria para milhões. E desta forma, somos milhões de miseráveis no mundo.
(Henrique Matthiesen, bacharel em Direito, jornalista)