Recebi uma pergunta sobre TRANSEXUALISMO na minha caixa postal. “Marcelo, o que está por trás da retirada do transexualismo da classificação internacional de doenças e sua colocação na categoria de “problemas que podem requerer atenção especializada de SAÚDE MENTAL”?
Eu respondo : Cara amiga, as causas são multifatoriais.
1\ Em primeiro lugar, a Organização Mundial da Saúde\ONU, são órgãos esquerdistas, contra a “opressão” que o “poder psiquiátrico” exerce sobre a humanidade. Tudo da psiquiatria, para um “oprimido” da esquerda, de um diagnóstico de autismo , esquizofrenia e até bipolar, é “estigma” , é “rótulo”, é “humilhação”, segregação, classificação, “doença”, “diminuição”.
2\ por isso é que a psiquiatria - “coisa de fálico”, “coisa de homem”, coisa de capitalista, coisa de moralista, coisa de gente de direita, coisa de gente que dopa, coisa de gente que ganha com a indústria farmacêutica, coisa de empresário da saúde, gente que ganha dinheiro em trancar pessoas - vem sendo abolida galhardamente pela “Saúde Mental”, coisa muito mais humanista, coisa de psicologia, coisa de quem “conversa”, coisa de quem se preocupa, acolhe, recebe, ajuda, se preocupa, “não dopa”, segue junto, compartilha, ama.
3\ É importante “aceitar as diferenças”, “diferença não é doença”. É importante não “moralizar” as coisas, não tolher a liberdade das pessoas fazerem o que quiserem com seu corpo. Diriam : daqui a pouco os psiquiatras\médicos\moralistas\controladores quererão ter poder sobre o corpo da mulher que quer abortar, dizendo que “ela está doente”.
4\ para a OMS, Org Mundial Saúde, “sexo é decisão”, “sexo é voluntário”, não é doença. “Cirurgia plástica” não é doença, porque cirurgia de mudança de sexo seria ? A pessoa querer ser “diferente” é doença ? A pessoa ser vaidosa é doença ?
4\ deixa-se de considerar aqui que : a- a maioria das pessoas obcecadas com plástica são, de fato, doentes, ou seja, sofrem com esta obsessão, nunca estão satisfeitas, tem depressão, ansiedade, incapacitações funcionais, pensamentos\comportamentos intrusivos, incapacidade de controlar estas disfunções voluntariamente, incapacidade de decidirem com plena liberdade de consciência e de volição. B- não se leva em conta que percentagem enorme - na casa dos 80% - de transexuais têm outras comorbidades psiquiátricas importantes, bipolaridade, toxicomania, depressão, hiperatividade, transtornos de personalidade dissocial, narcísica, borderline, histrionica, transtorno de controle do impulso, transtorno obsessivo, distúrbio de ansiedade, psicoses delirantes agudas, etc.
6\ Não se leva em conta que muitos se arrependem com a mudança de sexo, muitos se suicidam após este procedimento irreversível. Muitos mutilam irremediavelmente seus corpos, muitos se entregam a condutas patológicas sadicas, masoquistas, fissuras anais, rupturas retais, blenorragia, lues, Sida, hepatites B, C, condilomatose, ou seja, doenças anoretais gravíssimas, que comprometem gravemente seu funcionamento corporal.
7/ Uma mulher que faz cirurgia plástica, em muitos casos, compara-se à vaidade de uma mulher que troca de roupa. É um comportamento natural da espécie humana, a vaidade corporal. A coisa começa a ficar patológica quando : a- é obsessiva. B- a pessoa coloca aquilo como a única condição para sua felicidade. C- a pessoa tem limitações funcionais por causa de sua pretensa dismorfofobia, não sai de casa porque acha que o nariz é grande, o pé é grande, tem acne demais, tem odores demais, não tem queixo, etc. d- procedimentos muito numerosos, repetidos, sem necessidade ( pacientes que tem queixas puramente subjetivas, ou seja, só eles vêem o problema, ou o problema é muito mínimo para requerer uma intervenção daquela magnitude). E- pessoas que colocam a aparencia física acima de tudo, usam daquilo como pura arma de sedução, acham que a vida não tem sentido sem aquela modificação coporal, deixam de amar\trabalhar por causa daquilo ( amor e trabalho são, segundo Freud, o que caracteriza uma mente saudável ).
8/ A OMS mostra , com sua classificação de doenças mentais, uma profunda crise médica psiquiatrica que pouca gente está vendo : a incongruência de diagnósticos. Muita pouca gente séria , hoje, dá valor na atual “tabela de diagnósticos psiquiátricos”. No último Congresso Europeu de Psiquiatria houve um painel onde especialistas do NIMH dos EUA disseram : em nossas pesquisas nós abandonamos as classificações psiquiátricas, são inconsistentes.
9/ nosso grupo de pesquisas psiquiátricas tem a mesma opinião. Publicamos já alguns anos ( “Psiquiatria Neuropsicológica” , Ed. Sparta ) um estudo que mostra a imbricação completa de doenças que a classificação psiquiátrica clássica julga como separadas. Mostramos que , de modo geral, autismo, esquizofrenia, bipolaridade, não são “doenças autônomas”, são processos etiopatogênicos\fisiopatológicos que pertencem a um mesmo continuum, a um mesmo espectro. Não são, portanto, doenças separadas, fazem parte de um mesmo grupo, um mesmo continuum. Esta “crise” se reflete nas ‘classificações psiquiátricas oficiais”, ora tendentes a transformarem-se numa pura “lista de sintomas”, ora tendentes a transformarem-se em um forum politico, anti-moralista, esquerdista, ideologistante. Não tem mais nada a ver com psiquiatria, tem a ver com o “espírito dos tempos”, tem a ver com o “humor coletivo”. Por exemplo, recentemente, houve um movimento para retirar a “pedofilia” ( gosto por sexo com crianças ) da classificação das doenças. Diziam eles : se a pessoa não prejudicar a criança, psicologicamente, fisicamente, não é doença. Como se fosse “normal” um adulto desejar uma criança, como se fosse “bullying”, ou diminuição, chamar isto de “desvio”, de diferença patológica da normalidade. O politicamente correto não deixa mais ninguem ser chamado de “doente”, tende-se a abolir a palavra “doença” por decreto.
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)