Este ano está fazendo 86 do assassinato de Antônio Americano do Brasil, meu patrono na Academia Goiana de Letras. Silvânia é a cidade de seu nascimento e Luziânia, onde clinicou e morreu covardemente assassinado, em 1932. Como deputado foi o grande vitorioso da mudança da Capital Federal para o Planalto Central, embora se realizando 28 anos depois da sua morte. Político a ser imitado, tendo como plataforma de trabalho parlamentar, o amor pela pátria, a responsabilidade em representar o povo goiano, e a honestidade, o respeito pelas coisas públicas.
O médico, parlamentar e escritor não foi o precursor do Folclore em Goiás, aliás, na região do Brasil Central, mas o que mais pesquisas realizou e escreveu utilizando o Folclore em seus livros.
Americano do Brasl, estudioso e produtor literário profícuo, seguiu as trilhas dos trabalhos dos seus antecessores, conseguindo riquíssimo material folclórico, constante do seu livro Cancioneiro de Trovas do Brasil Central. Estudou as transformações que sofreram os hábitos e costumes, como a poesia e as danças populares do Brasil Central.
Impressionado com uma conferência que assistira pelo eminente antropólogo João Ribeiro, se propôs a registrar todas as manifestações folclóricas do seu povo, além da poesia e danças, a crendice e superstições e o artesanato.
Estudou e anotou o que de mais rico e interessante encontrou entre os vales do Paranaíba, do Corumbá e do Paranã, onde estava o habitat mais fecundo do folclore goiano. Descobriu, também, que o manancial da poesia popular de Goiás é dos mais vastos e atraentes. Mostrou as origens e as transformações sofridas nas adaptações dos gêneros de poesias e danças para a literatura do povo. Assim, da monda e da sacha, veio o mutirão do Brasil Central, com as suas cantigas; a décima veio da xácara, porém, com mais naturalidade; o fado português transformou-se na genuína moda sertaneja, embora com grande diferença da modinha aristocrática; o batuque angolano foi se transformando e deu o recorte ou recortado, também o lundu e o coco; da quadrilha francesa surgiu o saruê (soirée); a curraleira foi vinda dos lanceiros que cantavam nos salões imperiais; a catira é a transformação do cateretê dos índios brasileiros, sendo a dança mais executada nos pousos-de-folias, no eixo norte de São Paulo, Triângulo Mineiro e sul de Goiás.
É interessante notar que a música sertaneja atual, com as suas duplas, que está aí preenchendo todos os espaços, e faturando alto, quer na zona rural, quer nas cidades, persiste ainda em ser sertaneja, não aceitando a transformação para música popular, pois se ela é absolvida totalmente pelo povo, é e deve ser popular, porque a sua temática não é mais sertaneja, assim como os ritmos, as vestimentas dos componentes e a instrumentação, nada disso é sertanejo. Portanto é música romântica popular cantada em duplas.
No Cancioneiro de Trovas do Brasil Central o leitor interessado no estudo do Folclore vai encontrar rico manancial de poesia popular, danças e folguedos, como os desafios, os recortados, as modas, os bailes, as décimas, os infindáveis ABCs, que foram como os jornais do sertão, relatando os acontecimentos. As danças populares enriqueceram o nosso sertão e hoje estão em extinção.
Regina Lacerda – Regina foi a responsável pelo avanço do Folclore em Goiás que, com a sua morte, outros intelectuais deram continuidade, inclusive eu, que sempre trabalhamos juntos.
Merecidamente foi contemplada como a maior folclorista deste País, e reconhecida, também, no exterior. Basta consultar a Bibliografia Folclórica. Além de folclorista, também educadora, escritora, historiadora, palestrante, conferencista... Dirigiu por muitos anos o Museu Zoroastro Artiga, pertenceu ao Conselho Estadual de Cultura, membro da Academia Goiana de Letras, da UBE – União Brasileira de Escritores – Seção de Goiás e de várias entidades culturais do País.
No seu livro paradidático – Histórias Que o Homem de Bronze Contou, reconta, muito ao gosto dos estudantes, a História de Goiás, pois ela é contada pelo próprio homem de bronze da Praça do Banderante.
Citamos aqui outros livros da eminente folclorista, todos esgotados, livros que deveriam ser reeditados: Fala, Goiá! – Cerâmica Popular – Papa Ceia – Pitanga – Vila Boa – A Independência em Goiás – Henrique Silva, General das Letras Goianas – Vila Boa: História e Folclore – Folclore Brasileiro – Procissão do Fogaréu – Cantigas e Cantares - Trindade: Romaria.
Informaçãoes – A nossa Comissão Goiana de Folclore já está com 30 comissões municipais, o que não ocorre com as demais estaduais. A historiadora e folclorista, atual presidente da Comissão Goiana, Izabel Signoreli, conseguiu chegar a esta marca. E várias outras cidades do Estado já estão programadas, graças a eficiência da nossa presidente e do seu vice Jadir de Morais Pessoa.
A Comissão Goiana de Folclore foi a única a trazer o Congresso Brasileiro de Folclore para o centro do Brasil, pois todos foram realizados no litoral. Até hoje o nosso evento, realizado em 2004, é lembrado pelos congressistas que participaram.
É necessário que o Folclore entre para o currículo escolar, principalmente no Ensino Fundamental, pois o Folclore é tão importante nesta fase de escolaridade, como é o Português e a Matemática.
O 2º Encontro de Cultura Popular Afro-Brasileira e Quilombola no Estado de Goiás acontecerá nos dias 23 e 24 deste mês, na Assembleia Legislativa de Goiás.
Preto é cor. Negro é raça (Bariani Ortencio)
Macktub!
(Bariani Ortencio, presidente de Honra da Comissão Goiana de Folclore – barianiorten[email protected])