Eu tenho muitos amigos, dizem alguns. Eu tenho muitos amigos, dizem outros. Alguns dizem, tenho amigos para quaisquer circunstâncias. Outros dizem, tenho amigos para defender-me até de uma agressão injusta e iminente que eu venha a sofrer. Como se vê, o mundo está cheio de tantos amigos, ao gosto de cada um, com todo tipo de perfil. É o que dizem as pessoas, no dia a dia, com convicção de que estão falando a verdade mais cristalina, sem medo de errar. Mas quando a situação está preta, em qualquer sentido, como se costuma dizer, o amigo verdadeiro se esconde, ou foge, como o diabo foge da cruz. Esse fato aconteceu, sem acrescentar, nem diminuir, com Rafael, meu conhecido, pensando que tinha um amigo verdadeiro, porém o verdadeiro amigo era justamente sua própria pessoa. Como ele foi ingênuo! Como ele foi enganado! Como ele o enganou e foi cruel com ele! Triste experiência, que o machucou tanto e fê-lo sofrer! Porém, Rafael deu a volta por cima. Continua vivo, esbanjando saúde, alegria e tranquilidade, enquanto seu amigo verdadeiro já deixou este mundo, há muitos anos, vítima de uma doença, até certo ponto banal, aqui em Goiânia, onde a medicina já estava bastante avançada, naquela época, com recursos médicos relevantes. Mas é como diz a sentença divina: “quem aqui faz o mal, aqui mesmo o paga na mesma medida”, e, às vezes, até em dobro. Por uma questão de foro íntimo e espírito de religiosidade, Rafael deixou de relatar-me, em detalhes, o golpe covarde que sofreu, de valor patrimonial considerável, logo que ele se formou em Direito. “Prefiro, diz ele, embrulhá-lo no pacote de coisas esquecidas, mesmo porque o falso amigo não está mais em nosso meio para defender-se, embora sem nenhum argumento válido, se o fizesse”. Fica, entretanto, costuma dizer-me, a triste lembrança de um dia azíago, aquele de fazer uma sociedade de advogados com um colega, em que ele acreditava ser justo e leal, mas, sobretudo, agradecido, o que ele não foi.
Na política, principalmente, isso ocorre com mais frequência. Enquanto os beneficiados das benesses do poder delas se valem, são amigos sem quaisquer suspeitas. Porém, quando pelo menos uma delas, por qualquer motivo, escapa-lhe das mãos, começam as indiferenças e as traições. E quando não recebem mais nada, a traição é total, esquecendo-se de tudo o que recebeu, às vezes, em momentos de grandes necessidades. Rafael bem conhece esse filme, mesmo porque seu pai foi líder político, no interior do Estado, tendo condições de prestar os mais diversos favores aos seus eleitores, porque era um homem estabilizado, financeira e economicamente e, portanto, sem necessidade de valer-se do dinheiro de seus companheiros para bancar a sua política, que era praticada por puro idealismo, como um homem honrado e isento de qualquer desconfiança. Por isso, sempre militando na oposição, foi um vitorioso nas suas campanhas eleitorais, amado e admirado pela grande maioria da população de seu município, por muitos anos, até quando deu o suspiro derradeiro nesta terra de tantas provações. Mesmo com essa condição e esse modo de ser e viver ele foi traído algumas vezes por quem ele menos esperava, que se arrependeu e voltou a ser seu companheiro político, em pleitos seguintes.
Precavenha-se, Marconi, contra os seus traidores. Arquive-os, para sempre, na sua memória. O senhor ainda está novo e poderá voltar ao Palácio das Esmeraldas num futuro muito próximo, porque as obras realizadas, nos seus mandatos como governador, foram simplesmente grandiosas. Aí, será outra história e outra conversa com seus pseudos amigos de hoje, que o estão apunhalando pelas costas e de todas as maneiras. No contexto deste artigo, é oportuno que ainda se acrescente que os falsos amigos são como chupins. Quando se esgota o sangue para se alimentarem eles procuram uma nova vítima para não morrerem de fome.
Fato como o acima relatado, no início deste texto, é mais uma lição que a vida ensinou a Rafael para que ele não mais caia nas tentações de seus falsos amigos, embora ainda existam raríssimas exceções, a esse respeito, senão seria o buraco negro para onde todos iriam, sem possibilidade de recuperação.
Porém, é sempre bom repetir esses dois axiomas:
“Gato escaldado tem medo de água fria”. “Amigos são como aves de arribação. Se faz bom tempo eles veem. Se faz mau tempo eles vão”.
(Sisenando Francisco de Azevedo, advogado, escritor, historiador, articulista do DM e membro da Associação Goiana de Imprensa – AGI)