Os estudiosos das organizações nos ensinam o quanto é difícil mudar a cultura das empresas. É difícil pelo fato das pessoas, no âmbito das organizações, serem resistentes ao novo. Mexer na cultura delas é mudar crenças, rituais – enfim: as normas da instituição.
A administração como ciência que é nos ensina que as empresas têm dois ambientes – o externo e o interno. Sobre este último às organizações tem controle; sobre aquele primeiro, não. Vejamos dois exemplos. As empresas controlam seu quadro de pessoal porque este está no ambiente interno delas, mas não controla o concorrente que está no seu ambiente externo. Mais um exemplo: a organização controla seu endividamento interno, mas não controla as turbulências externas advindas da economia.
A partir daí vem uma importante conclusão: as empresas para não irem a falência devem necessariamente se adequar ao ambiente externo que as rodeia. Empresas feitas para durar são aquelas flexíveis às mudanças ambientais.
Posto isso, voltemos às questões culturais que envolvem as organizações. Veja-se a metamorfose da falecida estatal Celg e a empresa que esta se transformou: a Enel, Privada. Duas empresas, dois mundos completamente diferentes um do outro.
Navegando nas águas tranquilas de uma empresa estatal a velha cultura da Celg se manteve imutável por mais de três décadas. Nesse contexto imperava internamente a crença do apadrinhamento político, dos insubstituíveis carregadores de piano, dos donos de área e, por que não dizer das famosas “panelas”.
Nesse processo de privatização testemunhei “insubstituíveis” eternos donos de departamentos, superintendências e assessorias derreterem que nem sorvete ante a brutal mudança cultural que foi essa privatização. Apagaram-se as fogueiras das vaidades alimentadas por uma instituição carcomida pela má gestão facilitadora da maior praga do serviço público brasileiro: a corrupção. Nesse contexto, a fogueira das vaidades fomentava a inercia cultural. Entrava e saia governo a engrenagem continuava sempre a mesma.
Não tenham dúvidas de que a privatização da outrora maior empresa de Goiás provocou uma radical mudança no ambiente externo da instituição. O discurso falacioso do Estado produtor de “energia para o desenvolvimento” (desenvolvimento para quem? Para encher os bolsos dos empreiteiros com suas obras sobredimencionadas?) cedeu seu lugar para uma empresa multinacional cuja existência gera em torno do lucro. E assim mudanças no ambiente externo provocam mudanças no ambiente interno. Com isso, a cultura dos insubstituíveis e da informalidade se metamorfoseou na cultura do profissionalismo em busca de resultados.
Apenas uma observação final: a elevação no patamar da gestão certamente levará aos lucros da Enel. Essa empresa fez em meses aquilo que o Estado não realizou por mais de trinta anos. Nunca se esqueçam: a falta de vontade política do governo em implementar mudanças na Celg levou a privatização da sua maior empresa. Como já disse este escriba em outros escritos: criou-se um novo pacto não escrito de dependência – qual seja: a de que a elevação da eficiência da organização conduzirá aos lucros. Lucros que serão exportados da periferia do capitalismo,Goiás, para a metrópole italiana. Ciente disso, as urnas cidadãos!
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outros livros, de A Construção de Goiás)