Quando existir uma crise hídrica no meio ambiente com certeza ocorrerá uma crise hidráulica nos sistemas públicos de abastecimento de água. Uma é a causa a outra é a consequência. Na ocorrência do stress hídrico, com falta d'água nas captações, o stress hidráulico se instalará nos sistemas de água tratada - ausência de pressão manométrica (água) nas redes e adutoras.
Abordo o assunto porque observo rotineiramente formadores de opinião se manifestando sobre crise hidráulica, quando seus argumentos estão relacionados à crise hídrica e vice-versa, há muita confusão nos raciocínios.
Usuários de recursos hídricos existem diversos, incluindo-se aí sistemas de água tratada, mas a gestão desses recursos será sempre de responsabilidade dos vários Órgãos e Secretarias de Governo e também dos Comitês de Bacias Hidrográficas.
Nos momentos das crises aparecem "especialistas" com argumentos embaralhados e soluções esdrúxulas, que nada contribuem para equacionar problemas e soluções desses assuntos. Entendo que, no momento das crises, o importante mesmo é discutir ações de preservação do meio ambiente e dos recursos hídricos, embasadas nas causas e nos agentes da degradação das bacias hidrográficas e na dimensão dos estragos. Isso é fundamental, pois sem o diagnóstico correto não haverá como identificar ações para atuar na mitigação dos problemas.
Como exemplo de soluções já tomei conhecimento de propostas que sugerem a extinção das companhias de saneamento; transferências dessas para a iniciativa privada ou assunção dos serviços por parte de prefeituras municipais; o que é uma visão rasa do problema. Se isso fosse a solução seria até muito fácil resolver os problemas hídricos e hidráulicos apresentados, mas, paradoxalmente, nesse caso estar-se-ia resolvendo o problema pela suas conseqüências, e não pelas suas causas, o que é errado.
As pessoas, os verdadeiros especialistas e os agentes públicos e privados responsáveis pelo problema necessitam voltar o foco para as ações de preservação do meio ambiente urgente, pois sem essas a duração e a intensidade do stress hídrico e suas conseqüências serão cada vez mais acentuadas. As pessoas nas grandes cidades sofrerão muito. É só uma questão de tempo para se verificar a confirmação do enunciado.
As companhias de saneamento pelo jeito ainda vão sofrer muito com os ataques dos "especialistas".
(Dioremides Ajala Cristaldo, 68 anos, casado, sanitarista, gestor público no seguimento de saneamento, obras e serviços de hidráulica, gestão e treinamento de pessoas e processos, cultura universal)