Neste Dia dos Pais, 12 de agosto, senti uma saudade inquieta, quando as reminiscências despertaram momentos vividos ao lado de meu pai, Otávio, do meu avô Juca dos Santos e, somando a elas, as boas lembranças do amigo Danilo, de Vianópolis, que nos deixou na madrugada de sábado.
Falar de Danilo é ir ao encontro da alegria de viver, de confraternizar-se com os amigos, de reconhecer suas amizades e, como poucos, saber valorizá-las. É discorrer sobre as constantes brincadeiras e trolagens, feitas diariamente com os amigos, levando alguns à loucura. Gostava muito de brincar, tal qual um menino traquina. Quando a confusão estava grande, ele mesmo intervinha e colocava um fim na molequice. Vai fazer uma falta danada em um dos grupos de wattzapp da querida Vianópolis, no qual me divirto diariamente, bem como na convivência de seus amigos e gravações de seus vídeos.
Estar entre os amigos era o que ele mais amava, principalmente em sua residência, nas famosas “jantinhas” que ocorriam quase que diariamente. Na verdade, eram “jantaços”, com cardápio sempre ligth: macarronada, rabada, feijoada etc., sempre regada a cerveja e um bom vinho. Divertia-se com as constantes e indispensáveis presenças de Muriçoca (cozinheiro principal), Ivan Mattos (grande tenor), Marcelo, Antônio Neto (seu filho de coração, como ele dizia) e quem mais desejasse ir, pois sua casa sempre teve portas abertas a todos que conviviam com ele, não sendo poucos.
Ao tempo em que era festivo, evitava as grandes festas da cidade, sempre buscando viajar para algum lugar do Brasil e exterior. Poucos conheço que viajaram tanto quanto Danilo que, segundo ele, já tinha passado por mais de cinquenta países. Nessa próxima terça, estava com viagem marcada para Manaus, no Amazonas.
Um ser humano muito inteligente e conectado, mas de uma teimosia imensa. Tanto, que passou mal em Caldas Novas, cidade a que ele sempre ia nos finais de semana, hospedando no hotel Nossa Senhora da Guia, de propriedade da dona Maria, estabelecimento que tinha seu quarto sempre reservado. Ao passar mal, foi levado por Zé Mauro, genro da proprietária, para receber os primeiros atendimentos em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), sendo recomendada sua ida imediata para Goiânia ante a falta de recursos – o que ele não fez.
Ao retornar a Vianópolis, na sexta-feira, passou uma noite em claro com fortíssimas dores abdominais, acompanhado pelo fiel amigo Marcelo, até que o encaminhamento ao Hospital Neurológico foi inevitável. Passou por procedimento cirúrgico, trazendo esperanças a todos, mas faleceu na madrugada de sábado.
Segundo o Phd Robert Veatch, professor do Instituto Kennedy de Ética, biologicamente não existe um momento exato da morte, mas sim uma série de minimortes, com diferentes partes do corpo se desligando em seu próprio ritmo. Por isso, segundo ele, determinar o momento exato é essencialmente uma questão religiosa ou filosófica.
Por mais que acreditemos em continuidade, nunca estamos preparados para a partida dos que nos são especiais. Morte é uma palavra forte, mas ela ocorre gradativamente e não há como fugir dela. O nosso envelhecimento nada mais é do uma morte gradual, que poderemos acerar ou retardar, mas não por muito tempo.
Se Danilo foi teimoso, não se cuidada como queríamos, em contrapartida fez o que muito de nós não fazemos, que é aproveitar intensamente sua vida e o seu dia como se fosse o último. Estava sempre próximo de seus filhos e netos. Provocava encontros diários com os seus principais amigos. Mantinha uma conexão quase que contínua com quem tinha afinidade por mensagens no WhatsApp. Foi o que desejou ser. Se certo ou errado, quem somos nós para julgá-lo?
Uma canção denominada “Trem bala”, da cantora e compositora Ana Vilela, mexe com muita gente, pois o que diz a letra é uma verdade indubitável, principalmente em um de seus trechos: “Segura teu filho no colo, sorria e abrace teus pais enquanto estão aqui. Que a vida é trem bala, parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir”.
Richard Bach, no livro Ilusões, as aventuras de um Messias indeciso, tem uma passagem que reiteradamente escrevo nos momentos das partidas de amigos e familiares, que é: “Não fique triste nas despedidas. Uma despedida é necessária antes de vocês poderem se encontrar outra vez. E se encontrar de novo, depois de momentos ou de vidas, é certo para os que são amigos”.
Crer na imortalidade da alma, na erraticidade, na possibilidade de reencontro conforta o coração de quem tem fé. Os cépticos talvez sofram mais, pois o vazio da ausência que existe, indubitavelmente, dentro de todos nós, não pode ser preenchido tão facilmente, quanto aqueles que creem na certeza do reencontro.
Ao longo desta vida já perdi muitos amigos e familiares (que me fazem muita falta) e, somando-se a eles, hoje, estará Danilo Mattos. A nossa última conversa por mensagem – o que fazíamos muito – foi para marcar um almoço em que daríamos prosseguimento a uma conversa iniciada. Hoje, amigo, converterei a mesma em orações, pois sei que é o que necessitas neste momento, pois se a morte incomoda a quem fica, não deve ser fácil para quem vai.
Sempre falávamos de nossos netos e o quanto é bom a convivência com eles. É um amor sem culpa, desregrado e, por que não dizer? – totalmente antagônico aos que nossos filhos desejam. Por isso existe o velho adágio: “Pais educam, avós atrapalham”. Mas não tem amor mais seguro e cuidadoso que o nosso. Danilo teve a felicidade de viver intensamente ao lado de seus netos e netas.
Dizem que saudade é tudo o que fica de quem não pôde ficar. Mas aprendi que converter a saudade em orações é criar um momento de uma boa conversa, que faz bem aos dois lados.
Reitero aqui o meu abraço de conforto aos seus filhos Danilinho e Daniela, aos netos Miguel, Daniel, Bruno, Mariah e Antônia, e à esposa Valéria Conceição Mattos Guimarães, bem como aos seus inúmeros amigos e familiares.
Danilo, a você, até qualquer dia!
(Cleverlan Antônio do Vale, administrador de empresas, gestor público, pós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, proprietário da empresa Valle Assessoria e Comunicação, articulista do Diário da Manhã)