Comemorado hoje, o Dia do Advogado não deve ser de festa. Não me entendam mal, pois nossa categoria merece as mais altas homenagens e festejos, especialmente em seu aniversário.
Todavia celebrar qualquer coisa no atual momento não seria condizente com o espírito de nossa classe, tendo em vista o estado atual de nossa nação, que sofre com a mais relevante crise econômica de sua história recente. Como resultado desse momento, há também uma crise de representatividade, pois as lideranças que estão no poder não refletem mais a esperança de um futuro melhor. Esse quadro de desesperança no País é percebido também na Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO) depois da ascensão de Lúcio Flávio Siqueira de Paiva à presidência.
Ao longo desse quase triênio dele no poder, vimos que discursos com palavras bonitas são a especialidade do presidente, mas uma realidade melhor para a advocacia em Goiás se constrói é com muita luta e muito trabalho, justamente o que tem nos faltado.
Darei um exemplo prático disso. Para este ano de 2018, o Orçamento da OAB-GO prevê gastos com publicidade de R$ 1,3 milhão, contra apenas R$ 552 mil em obras, reformas e aquisição de bens. Só há uma conclusão possível disso: importa muito mais divulgar o que tem sido feito, que é praticamente nada, do que realmente atuar em prol da nossa categoria, que sofre de todas as formas possíveis.
Para quem duvida da falta de assistência à advocacia, cito como exemplos os constantes desrespeitos às prerrogativas dos advogados, a falta de transparência nos atos da Ordem, a crítica situação do mercado de trabalho para a advocacia jovem e a falta de estrutura das subseções no interior, só para ficar em situações que me veem à cabeça por estarem sempre na ponta da língua dos colegas com quem divido corredor de fórum.
É com extremo pesar que vejo a OAB-GO falar em comemorações do Dia do Advogado e, ao mesmo tempo, observar jovens recém-saídos da faculdade com ganhos mensais pouco acima de um salário mínimo. Aquele que ocupa hoje a presidência foi eleito justamente para defender a jovem advocacia, mas não é mais essa a percepção que existe em relação ao presidente Lúcio Flávio. Salta aos olhos, na verdade, a pouca sensibilidade dele sobre o tema, tanto que não há ações concretas dele para solucionar o problema, principalmente em relação à melhora da remuneração dos advogados.
A postura dele se limita ao oferecimento de descontos nos cursos da Escola Superior de Advocacia (ESA), o que é importante, mas não satisfaz os desejos de quem acabou de sair da faculdade. Falta coragem e comprometimento para o presidente, que, neste caso, deveria lutar pela implantação de um piso salarial para nossa classe. Essa, aliás, foi uma promessa de campanha de Lúcio Flávio, o que mostra bem como palavras bonitas não resolvem nada.
Fica claro, portanto, como a OAB-GO precisa mudar de novo. Três anos depois, a distância entre tudo o que Lúcio Flávio prometeu em 2015 para o que ele efetivamente entregou até agora é astronômica.
Não adianta nada só lembrar da nossa classe no mês do advogado ou em ano de eleição na OAB, quando é preciso buscar os votos para se reeleger. Para mudar de verdade, nossa classe precisa de alguém verdadeiramente comprometido a lutar por mais dignidade e respeito. Estamos cansados de promessas.
(Matheus Scoponi, advogado, com 4 anos de inscrição da OAB-GO)