Na última semana, os candidatos a “salvador da pátria” afirmaram, com convicção irresponsável, que a levarão de volta ao crescimento robusto, equânime e sustentável. Espertamente não revelaram como, para não dar a “deixa” aos inimigos.
O desenvolvimento econômico, condição necessária (ainda que não suficiente) para o aumento do bem-estar da população, é apenas o outro nome do “aumento persistente da produtividade do trabalho”.
Pois bem. Observação milenar informa que ele depende do aumento persistente da quantidade de bens de produção (trabalho inteligente que no passado foi cristalizado num objeto) que, alocado a um trabalhador, lhe aumenta a produtividade. Por exemplo, um agricultor com uma enxada é mais produtivo do que sem ela. O que é uma “enxada”?
Um dia, um agricultor inventivo e habilidoso deixou de plantar milho e aplicou a sua inteligência e o seu trabalho para forjar uma lâmina de metal à qual se associou um cabo de madeira. “Congelou” o seu trabalho num “bem de produção” (a enxada) que, reproduzido, ampliou a produtividade de todos. É a esse processo que se dá o nome de desenvolvimento econômico.
O conjunto dos “bens de produção” (ferramentas, máquinas, infraestrutura) é o estoque de capital (K) associado ao trabalhador (L), ou seja, (K/L), para produzir o PIB (Y) per capita (Y/L). O gráfico abaixo sugere a estreita dependência entre a produtividade do trabalhador (Y/L) e o capital médio a ele alocado (K/L). Qual é a conclusão? Só há desenvolvimento se o estoque de capital (K) crescer mais depressa do que o número de trabalhadores (L). Não há mágica. Trata-se de verdade incontornável.
Também não há mistério. Da população total (N) são extraídos os trabalhadores (L), que vão aplicar o seu trabalho sobre o estoque de capital (K) que lhes aumentará a produtividade. O resultado é o PIB por trabalhador (Y/L). Ele só pode ter dois usos: o consumo, que alimenta a população, e o que é poupado e investido para cobrir o uso do estoque de capital (sua depreciação) e ampliá-lo para expandir a relação (K/L), sem o que não há desenvolvimento.
O que isso significa? Que o crescimento do PIB per capita depende de uma harmonia entre o consumo “presente” e o aumento do estoque de bens de capital que condiciona a possibilidade de consumo “futuro”.
O que cada candidato à Presidência da República deveria explicar, sem enrolação demagógica que provavelmente esconde a sua ignorância, é muito simples: como, no regime de plena liberdade democrática, acomodará as evidentes pressões para o consumo presente (vide as recentes “bombas” legislativas e judiciárias) sem reduzir o aumento do estoque de capital necessário para aumentar o consumo futuro? Distribuição e crescimento são dois lados da mesma moeda.
O grande drama nacional é que há alguns anos o aumento do nosso estoque de capital tem sido negativo. Não tem coberto sequer o capital que se consome na produção anual do PIB (a sua depreciação). Estamos nos subdesenvolvendo.
Para se ter uma ideia da desgraça deixada nos últimos 14 anos pelos programas voluntaristas e aleatórios de investimento público para estimular o “desenvolvimento”, que deram errado, basta registrar que deixaram mais de 3 mil obras paralisadas, porque os recursos federais para executá-las só existiam na “fantasia orçamentária”, frequentemente ajudados por medidas de controle, necessárias, mas às quais falta o senso de urgência, como se vê no interessante e importante documento Impacto Econômico e Social da Paralisação das Obras Públicas, da Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC), de 2018.
O fantástico é que a cegueira ideológica debita isso ao governo Temer. Reduzir o custo social desse perverso desperdício de recursos deve ser uma das altas prioridades do novo presidente da República.
Todo o resto é lamentável enganação que desmoraliza o exercício da política e corrói as bases da nossa democracia.
(Delfim Netto, formado pela USP, é professor de Economia, foi ministro e deputado federal)