Os candidatos majoritários e seus respectivos estafes têm supervalorizado as alianças de última hora. No MDB, celebra-se a adesão do PP como se o escrete canarinho tivesse levantado o hexa.
Os partidos nanicos, essas vivandeiras dos palácios, existem meramente para negociar o tempo de televisão e gastar perdulariamente o fundo partidário. Possuem programas fantasiosos, estatutos de faz de conta, e chefes que são coroneizinhos petulantes exigindo mundos e fundos.
A perca do PP representa grande coisa para a assim chamada “Base Aliada”? Representa apenas uns segundinhos a menos de televisão. Não é a primeira vez que a base marconista vai à luta sem o PP. Em 2010, o PP, sob comando de Alcides Rodrigues, marchou com Vanderlan Cardoso. Nem por isso Marconi deixou de ganhar com folga a eleição daquele ano.
Tem uma banda do PP que não segue os atuais gerentes da sigla em Goiás, e a ala liderada pelo deputado Roberto Balestra. Em 2010, ele lutou como um leão para manter o PP na base marconista. Agora, a mesma coisa. A sigla, e o que representa em vantagens materiais, vão para o MDB de Daniel Vilella. Segundinhos a mais para os marqueteiros de Jorcelino Braga encherem linguiça.
O problema dessas alianças fisiológicas é que nada é combinado antes com o eleitor. É duvidoso que o eleitor tradicional do PP vote em Daniel. O eleitor tradicional do PP tem um espelho em Roberto Balestra, um político sério, discreto, sóbrio, que em nenhum momento de sua vida foi peemedebista. Sempre que o MDB esteve de um lado, Balestra pulou para o oposto. O certo é que uma parte dos pepistas ficará ao lado de Marconi, outros ao lado de Caiado, mas dificilmente marcharão com Daniel.
Origem do PP
Durante a Ditadura Militar, somente dois partidos eram permitidos, a Arena e o MDB. Na Arena aboletaram-se todos os simpatizantes da ditadura oriundos da velha UDN e alguns outros que, embora não udenistas, recebiam o “nilhil obstat” dos militares. No MDB acomodaram-se ex-pessedistas, trabalhistas e esquerdistas que escapavam à fúria repressora do regime.
Com o retorno ao sistema pluripartidário, a velha Arena virou PDS. Mas esta legenda logo iria se cindir em duas: O PDS propriamente dito, sob direção de Paulo Maluf, e o PFL, de Aureliano Chaves Chaves, Antônio Carlos Magalhães de Marcos Maciel.
Em Goiás, o ex-governador Otávio Lage e seus correligionários ficaram com o PFL. No PDS ficaram os seguidores do ex-governador Ary Valadão e remanescentes da velha UDN. Ary, a propósito, é, junto com Ana Braga, o último fundador da UDN goiana, a “UDN de 45”. Depois de vários percalços, os malufistas de todo o país se aglutinaram em torno da Sigla PP, Partido Progressista. Nada a ver com o abortado PP de Tancredo Neves, o Partido Popular.
PP e PFL , com Ronaldo Caiado à frente, caminharam juntos em Goiás na oposição ao irismo. Aliaram-se depois ao PSDB de Marconi Perillo, formando o seria, em l998, a chamada “Base Aliada”.
Força atrativa irresistível do governo inchou esta base. Náufragos do Irismo agarraram-se às boias que o marconismo triunfante lançava aos adesistas desesperados. Um bom exemplo disso é Sandes Júnior. Este deputado pepista era peemedebista, irista e maguitista juramentado té l998. No ano seguinte, ele iria se aderir ao “Tempo Novo”, assinando ficha de filiação ao PP. Ele ainda está no PP, mas, percebendo que os ventos agora sopram a favor da oposição, foi um dos que advogaram a coligação da sigla com o PMDB. É certo que, quando Caiado se eleger Governador, lá estará ele ansioso para servir à facção triunfante.
A sina do nanismo
Com o declínio do malufismo a nível nacional, e com o crepúsculo da liderança de Ary Valadão, o PP goiano teve que se nutrir das forças de Roberto Balestra. Durante os anos áureos do governo militar, Balestra não tinha existência política. Ele floresce na vida pública goiana durante os anos de supremacia do PMDB e do Irismo.
Balestra chegou a ser lançado candidato a governador, em l998, mas desistiu. A arriscar sua reeleição garantida ao Congresso Nacional a tentar a aventura temerária da candidatura majoritária, ele preferiu continuar deputado federal. Mas foi um dos esteios da eleição de Marconi, que sempre o teve em alta conta, nunca deixando de prestigiá-lo.
O problema de todo partido nanico é que seu líder local só te m o controle da sigla de estiver em bons termos com a direção nacional, em geral sediada em São Paulo. Com exceção de poucos, todos os partidos brasileiros são partidos paulistas.
Várias vezes Balestra teve que ceder a gerência do PP goiano para atender conveniências da direção nacional. O PP já foi alcidista; já esteve sob comando de José Eliton; agora está sob tutela de Alexandre Baldy. Todos passaram pela sigla com objetivos meramente acomodatícios. Eles chegam como grileiros partidários. Saem logo depois, deixando para Balestra juntar os cacos.
A direção nacional do PP decretou a coligação da sigla com o MDB. E o fez para salvar o ministério ocupado por Baldy, cujo mandato de deputado federal foi obtido pela legenda do PSDB. Sem contar que Baldy só teve chances na vida pública porque Marconi é amigo do sogro dele. Claro, o moço tem talento, capacidade. Mas nada que uma boa relação familiar não ajude.
Não é fundamental
A defecção do PP não vai provocar a derrota de José Eliton. Ele vai perder a eleição, é claro, mas por outras razões. O ingresso do PP na coligação de Daniel também não vai torná-lo vitorioso. É um acordo que agrega tempo de TV, mais nada. Não agrega votos. Não agrega militância. Aliás, o grosso da militância emedebista já está mesmo é com Caiado, cujo estado maior é chefiado por um insigne prócer emedebista, o prefeito Adib Elias, de Catalão.
Os políticos de hoje em dia têm uma fé cega, supersticiosa, eu diria, em marquetagem. Acham que poderão se eleger se tiverem um espaço maior na televisão. Bobagem. Se marquetagem ganhasse eleição, todos os candidatos terminariam empatados.
Mas busca insana por uns segundinhos a mais no horário eleitoral levaram a que a publicidade tomasse o lugar da política. Os preços astronômicos de produção dos programas televisivos é causa eficiente da prática dos caixa 2. Há uma linha direta ligando os grandes esquemas de corrução com o financiamento das campanhas televisivas. É porque existe o horário gratuito de televisão, e a proibição de campanha antecipada, que estão dadas as condições de possibilidade da proliferação de partidos nanicos, esta excrecência da democracia à brasileira.
E o PP goiano, que nunca foi grande, mas era o herdeiro de uma tradição democrático liberal respeitável, virou mais um fulano de tal da política goiana. Mas sempre haverá um Roberto Balestra autóctone para reunir os cacos depois que os grileiros se forem.
(Helvécio Cardoso, jornalista)