Para o Jornal da Cultura Goiana entrevistamos o ambientalista Osmar Pires Martins Júnior, bacharel em Biologia (UFG) Engenheiro Agrônomo (UFG), Engenheiro de Irrigação, Licenciado em Biologia (UCG), Administrador de Cooperativas e, recentemente, concluiu o Mestrado em Ecologia, na UFG. Aos 45 anos, além do tempo dedicado á escolaridade de 1º e 2º graus, aplicou 14 anos da vida e, sua formação superior.
Sua trajetória de profissionalização iniciou-se como auxiliar de Tabelião no Cartório de seu pai em Amorinópolis. Foi monitor de Zoologia, que valeu-lhe o sustento durante bom tempo de formação universitária. Após formado, foi Assessor do Detran nos assuntos do equilíbrio do meio ambiente, controle de poluição urbana e qualidade de vida relacionados aos problemas do trânsito. Pertenceu aos quadros da Secretária Estadual da Agricultura, como Engenheiro Agrônomo e de 1993 a 1996 ocupou a pasta da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Goiânia, gestão do Prefeito Darcy Accorsi. Depois ingressou no Ministério Público onde exerce a função de Perito, na área do Meio Ambiente.
Ecologia, o forte apelo mais forte que atingiu nosso entrevistado nos ramos de sua formação e profissionalização. Conta ele: “Ainda criança vivi uma experiência marcante que fez-me voltar para os problemas do meio ambiente”.
Numa viagem, acompanhando seu pai na região do Mato Grosso (até o município de Aragarças),vivenciou fatos importantes relacionados ao período em que ocorreu a expansão da fronteira agrícola devido ás tecnologias permitiram a exploração do solo do cerrado na agricultura. Relembra ele: “Fui criado nessa região, com rios de águas caudalosas, cristalinas, muitos poços par se banhar, variedades de pássaros, muitos peixes. A gente convivia com onças pintadas, com as histórias de caçadores dessas onças os quais exibiam aquelas peles tão bonitas... muitas histórias ! A minha infância foi marcada por um convívio com uma natureza relativamente rica e diversificada.”
Natureza em Agonia
Na sua viagem, por volta de 1969 a 1970. Deparou-se com o processo mais agressivo da expansão da fronteira agrícola “que foi o desmoronamento, o uso do fogo”.
Relembra ele que a viagem, em estrada de chão, era lenta. Á noite não precisava ligar os faróis do veículo: o fogo iluminava a estrada. “Era comum passarem á nossa frente, cruzando a estrada, animais em chamas. Chocou-me a visão de uma fêmea de tamanduá-bandeira, com dois ou três filhotes em seu dorso... uma mãe carregando seus filhos, em chamas! Acabariam carbonizados vivos, lenta e agonizante. Eu chorei! Aquela agressão gritou forte dentro de mim, evocando-me para fazer alguma coisa a respeito. Fiquei extremamente sensibilizado.”
No segundo grau, já na preparação para o vestibular, Osmar Pires tomou contato com uma disciplina que era ministrada no pré-vestibular, dentro da Biologia: Meio Ambiente. Disse para si mesmo: “É aqui o meu caminho.”
“Fez uma trajetória de vida até então, como perspectiva profissional e, até hoje, dedica-se a essa área, como ele mesmo afirma, ‘profissional e emocionalmente’.”
Secretário de Meio Ambiente
Para Osmar Pires Martins Júnior, ser Secretário Municipal de Meio Ambiente representou a oportunidade de executar parte daquilo que, profissionalmente, havia estudado e aprendido. Foi a oportunidade de concretizar a visão técnica de um ambiente urbano especifico, que foi Goiânia.
Na pesquisa de Mestrado
Resultado de trabalho num projeto de pesquisa do Mestrado em Ecologia, na Universidade Federal de Goiás, UFG, tendo por Orientador o Dr. Divino Brandão, Doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas e, co-Orientadora, a Mestre Patrícia Romão – especialista na área de geoprocessamento – com objetivo de avaliar a qualidade de vida do papel da vegetação urbana sobre essa qualidade de vida, tendo por objeto Goiânia, dados importantes surgiram fruto de levantamento das áreas públicas urbanas goianienses, com a utilização de imagens de satélites: 562 bairros identificados e apenas pouco mais da metade regularmente aprovado.
O restante são bairros em processo de aprovação ou clandestinos, frutos de ocupações irregulares. Goiânia tem o incrível índice de área verde de 102,00 m2 por habitante- índice de área verde é indicador de qualidade de vida urbana, a exemplo de outros, sociais, políticos, econômicos, renda “per capita”, número de leitos hospitalares por pessoa, analfabetismo, vagas escolares por habitante, número de crianças em evasão das escolas. O dobro de Curtiriba ( 52,00 m2 por pessoa), capital referenciada até na Onu com exemplo de qualidade de vida urbana, ela que tem mais de 300 anos de existência, contra menos de 70, de Goiânia. Conforme Osmar Pires, essa proporção de área verde por habitante demonstra a capacidade do ambiente urbano de realizar seu próprio metabolismo, renovar a qualidade do ar, realizar a ventilação, filtragem natural eliminar os poluentes atmosféricos, melhorando a umidificação do ar, controlando e amenizar a temperatura, regulariza o ciclo da água, permitia a reinfiltração e controla as enchentes.
Goiânia, cidade-Jardim
Relaciona Osmar Pires o ex-pressivo índice de área verde “per capita” de Goiânia ao seu plano original, elaborado em 1933 por verdadeiros expoentes do urbanismo brasileiro- o Arquiteto e Urbanista carioca Atílio Correia Lima e o Engenheiro e Urbanista Armando Augusto de Godoy, ambos com atuação centrada no Rio de Janeiro, naquela época- ao comando do iniciador e empreendedor da nova Capital, o médico Pedro Ludovico Teixeira, que tinha uma capacidade intelectual acima da média, dono de excepcionais visão e perspectiva. Assim, a cidade recebeu todo esse impacto positivo na sua criação, que ainda teve o concurso de personalidades expressivas, a exemplo do Professor Colemar Natal e Silva, que integrou a Comissão de Estudos para Implantação de Goiânia.
Os dois famosos urbanistas elaboraram o plano de nossa Capital de acordo com uma concepção-marco do urbanismo mundial, o conceito “cidade-jardim” de Ebenezer Howard, um inglês que fez história com essa proposta no inicio do século vinte e, como empreendedor, implantou sua proposta em duas cidades inglesas nos arredores de Londres, Welwin e Letchworth. Essas cidades existem até hoje e influenciaram, como modelo vivo que deu certo, o planejamento urbano de Londres no pós-guerra de 1945 e na reconstrução de dezenas de outras cidades inglesas. A Inglaterra, com isso tornou-se referência mundial e influenciou a remodelação de outras metrópoles europeias como Paris, Versailles e Copenhagen.
Mais conceitos e informações
Nas palavras do nosso entrevistado:
– ONGs e meio ambiente, sua importância comunitária – “A participação das organizações- não governamentais é fundamental no papel de fazer a aproximação do Estado com a sociedade, na área de meio ambiente para o avanço dessas instituições, no sentido de incorporar a dimensão ecológica á econômica, na formação consciente do desenvolvimento sustentado”.
– O Brasil frente a outras nações quanto ao futuro melhor do planeta – O Brasil possui uma situação bastante particular: representa uma grande parcela do globo com uma grande biodiversidade, tanto animal quanto vegetal e também cultural, aspecto pouco falado, existe em nosso pais o patrimônio cultural de vários povos, várias culturas, muito rico, inclusive na região do cerrado por ser área de migração e roteiro migratório de grandes animais e do homem, então caçador, no período de caça e coleta. Isso trouxe a implantação de um ciclo de vida, de tradições culturais, de interação do homem com a natureza – provado em sítios arqueológicos que tem sido resgatados, para nos contar essa pré-história. Essa pré-colonização, todo a multicomposição histórica, missegenação das raças, interação com biodiversidade, situam o complexo de estrutura da nossa nação que hoje desperta vigorosamente como laboratório e fonte permanente de recursos, gigantescos reservatório que, com certeza, constitui garantia signifivativa participação do Brasil na preservação da vida planetária.
– Projeto e Construção do Parque Vaca Brava – O Parque Vaca Brava é o símbolo de uma situação emblemática de Goiânia. Foi criado em 1951, parte do loteamento do Setor Bueno. Trouxe a tona um processo de apropriação ilegal de um patrimônio público. Mas em 1974 foi loteado em 1985, aprovado um projeto para construção, na área da nascente do córrego Vaca Brava, de doze arranha-céus, provavelmente um condomínio de luxo. Em 1993 a Prefeitura de Goiânia decidiu implantar o Parque criado em 1951, tendo por primeira alternativa desapropriar a área, por tratar-se de local de uma nascente, com muitas minas, portanto, área de interesse ambiental. Quando a documentação pertinente foi levantada, constatou-se o quadro de ilegalidade formulada com a participação até de um ex- Governador de Goiás que era sócio de empreendedora imobiliária familiar, qual tinha títulos de propriedade registrados da área que envolvia a té as nascentes do córrego – fruto da fraude detectada. – Munido dos elementos indispensáveis, procuramos o Ministério Público, através do Procurador, Dr. Sullivan Silvestre Oliveira, então Coordenador do Núcleo do Meio Ambiente. Estabelecida uma parceria com base num convênio, pela Prefeitura e o Ministério público, elaborador por mim e pelo Dr. Sullivan Silvestre, podemos debruçar sobre a questão “Vaca Brava”. Logo o Dr. Sullivan saiu do Ministério Público e foi para Brasília, tendo sido substituído no Núcleo do Meio Ambiente pelo Procurador, Dr. Newton Matos. Com a colaboração da Dra. Miryan Bele Moraes da Silva, Procuradora da Justiça, tomamos várias providências que culminaram na ação civil pública. Com a felicidade do Juiz Geraldo Salvador de Moura acatar o pedido do Ministério Público para a implantação do Parque Vaca Brava, numa área que havia sido loteada e registrada fraudulamente em nome de um particular, revertemos a propriedade ao patrimônio público sem desembolso de um centavo sequer. Lembrando que com base no projeto de contrução no complexo de 12 torres, aquela área valeria, no mercado imobiliário, uma fortuna de milhões de dólares que a prefeitura, num processo de desapropriação, levaria mais de dez anos para pagar. Acredito que esse foi um ganho muito grande para a população de Goiânia. Isso mostra o potencial quase infinito das instituições atuarem a benefício dos interesses comunitários. Quero dizer, é uma perspectiva que traz um alento ao cidadão de que quando há interesse em trabalhar pelo patrimônio coletivo a vitória será conquistada.
Entrevista concedida ao Jornal da Cultura Goiana.
(Walter Menezes e Roberval Borges, jornalistas)