Vou tomar emprestada frase da ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal, dita em palestra durante evento jurídico, na semana passada: “ com o que fazem, Brasil era para ter dado errado há muito tempo”. É mesmo, ministra. Mas quem disse que o Brasil deu certo. É bem verdade que em algumas áreas avançamos e estamos no topo do mundo. Mas não podemos tomar a parte como todo. Há muito o que avançar e o Judiciário é um dos gargalos a serem superados. Muito do nosso atraso deve-se, exatamente, ao Judiciário, uma verdadeira tartaruga de bengala, se me permitem o uso de expressão bem popular. A Constituição de 88 deu ao Judiciário, é verdade ao Ministério Público também, posição de protagonismo na vida brasileira. E nenhum consegue dar respostas rápidas, vivem se agarrando ao formalismo conveniente, atrasando decisões fundamentais. Não é outra a situação envolvendo a candidatura de Lula. A defesa do ex presidente usa e abusa do direito de promover chicanas processuais com o intuito claro de atrasar solução. Faz isto porque conhece o comportamento de nossas excelências que sempre, empurram com a barriga a tomada de decisões. Não se importam com a desmoralização do Poder. Não se importam com as consequências que a tibieza de um Poder causa ao povo. Bom seria se fosse este, mesmo muito grave, o nosso único problema. Não é. A campanha eleitoral que está apenas se iniciando mostra que continuamos fazendo tudo para o país dar errado. O que dizem os candidatos – um deles vai chegar lá- é de assustar. Ninguém tem proposta, embora todos afirmem que têm solução para tudo. Um debate eleitoral entre candidatos, em que o grande destaque foi o confronto entre Marina Silva e Bolsonaro, mostra, com clareza, para aonde caminhamos. A incapacidade de Alckmin e Meirelles, queiram ou não os mais preparados, exporem suas propostas. As bravatas de Ciro, o fanatismo religioso de Daciolo e o nada dos demais, indicam que, se estamos à beira do abismo, corremos o risco de darmos um passo à frente.
(Paulo César de Oliveira - jornalista e diretor-geral da revista Viver Brasil e jornal Tudo BH)