25 de agosto, dia dedicado ao soldado brasileiro. A Pátria quer parabenizá-lo por tudo que o eleva, que o agiganta. Parabenizá-lo não por tudo que sofreu, mas pelo modo como sofreu. Parabenizá-lo por ter galgado os píncaros do dever lançando, por sobre ela, o manto de suas glórias. O soldado brasileiro faz parte integrante da história do Brasil. Ele é um testemunho vivo da grande obra pela independência, e pela soberania nacional, obra que se renova e cresce na paisagem onde foi concebida e nasceu. O soldado brasileiro, assim como nosso povo, originou-se de raças humildes, mas valentes, cheias de lutas e gloriosas tradições na vida do País. Pelo seu indiscutível patriotismo conquistou a admirada condição operacional-moral, subindo de degrau em degrau, trabalhando, suando, sofrendo, lutando contra o inimigo da pátria e os obstáculos que se multiplicavam à sua frente. Os seus ideais, as suas lutas, e suas aspirações sublimes em prol do Brasil, forjaram, durante séculos, o aço admirável do seu estilo. Quem desconhece a vida, o temperamento, a coragem indômita, o moral elevado, o desprendimento patriótico e o devorador senso do dever do soldado brasileiro - que vem pagando com o próprio suor e sangue a admiração da posteridade -, não conhece a verdadeira história do Brasil. É cumprindo seu dever de honra e de fidelidade que o soldado defende o Brasil das cobiças de outras nações, protegendo suas fronteiras, resguardando o país daqueles que não ignoram as imensas riquezas que dormem inexploradas em nosso solo, reservas inesgotáveis que alimentarão o mundo e os homens de amanhã. O soldado brasileiro sabe que a guarda da honra e da fidelidade, no homem e na mulher, é a devoção voluntária e esclarecida do dever. Sabe, também, que a disciplina encerra, em si, a honra do militar, e que este se disciplina pelo exemplo de seus superiores hierárquicos, os quais se espelham, por sua vez, no grande vulto do seu patrono, o imortal Caxias.
A história militar brasileira está cheia de vitórias sobre vitórias, é a reconstituição fundamental da pátria, da organização radical do futuro, do renascimento nacional. É, o compromisso moral, é o dever patriótico da expulsão dos invasores, da eliminação das normas servis que tiveram raízes no consórcio da escravidão, é a consolidação da liberdade e do regime democrático, é a defesa, é o exemplo, a imagem do sacrifício que faz nossa sociedade subsistir intimamente, vendo o soldado por uma das faces mais autênticas da sua marcante presença: a de um incansável combatente que não poupa esforços em prol do seu povo e de sua pátria, oferecendo-lhes a vida e dedicando-lhes o espírito. Vê, também, nele, um homem que consegue manter a esperança e a fé, que são as nossas maiores forças. Vê, um homem que vive nas lutas, porque são elas o ambiente de seu viver, a brandir a clava demolidora da sua coragem, fazendo desta um escudo invencível, sempre a serviço da justiça, da liberdade do solo pátria, e até mesmo do mundo, onde é conhecido e reconhecido por seus feitos heróicos. O soldado brasileiro (das nossas três Forças), Exército, Marinha e Aeronáutica, não dá ouvidos a intrigas. Ele escuta com grande sentimento as pancadas fortes do coração da pátria, lutando Acima de Tudo, para levantar a fronte, os olhos, o rosto da nação, de onde deve irradiar a Inteligência construtiva, a vontade, o pudor, a disciplina, a honra, onde Deus nos imprimiu o selo da conquista e da liberdade.
No limiar do século XIX, a 25 de agosto de 1803, da fazenda São Paulo, Vila da Estrela, na Capitania do Rio de Janeiro, hoje cidade fluminense de Duque de Caxias, nascia Luiz Alves de Lima e Silva, que viria durante a sua trajetória militar a receber o título de "Duque de Caxias" espelho do soldado brasileiro. Devemos ver a pessoa de Caxias, não como um gênio da guerra, mas como o cidadão e o militar dotado pelo equilíbrio e bom-senso, pelo sentido do dever, pela capacidade profissional, pela dedicação à ordem, pela desambição e pela humildade. A ambição, a vaidade e o poder não faziam parte de seu plano de vida. Apesar de tudo que conquistou, foi sempre um cidadão obediente e herói recatado e modesto. Era chefe rigoroso, a disciplina ficava acima de qualquer consideração. Mas era magnânimo e justo. Ele foi sem dúvida um predestinado, uma referência nacional. Suas altas virtudes e severa disciplina acionadas por ardente patriotismo fizeram o segredo das vitórias de Caxias. Pelos depoimentos e os fatos da história podemos considerar o papel de Caxias como o do militar que preza o conceito segundo o qual: "na anarquia ainda há uma nação; mas na indisciplina não existe mais exército". O Exército Brasileiro o elegeu por patrono porque certamente participa dessa opinião. Ele representa dentro da força terrestre um dos seus monumentos mais significativos, e foi, sem dúvida, a figura mais representativa da transformação pela qual o exército passou no decorrer do Segundo Império, até chegar à Instituição que é hoje dentro do conjunto de forças atuantes no seio da nação, dando-nos lições que jamais envelhecerão. Há muito a narrar! Só a mais vigorosa concisão unida à maior singeleza é que poderá contar os seus feitos. Não há pompas de linguagem, não há arroubos de eloqüência capazes de fazer maior essa individualidade, cujo principal atributo, foi a simplicidade na grandeza. Intransigente com a desordem. Enérgico com a rebeldia. Conciliador nas negociações. Humano no perdão. Artífice da integridade nacional. Nas ocasiões em que o consenso não foi possível, mostrou-se decisivo e pertinaz no cumprimento de sua missão, sem no entanto usar a força desnecessária, evitando humilhar ou gerar sentimentos de vingança nos vencidos, que sempre foram vistos como compatriotas e não como inimigos. "Caxiísmo" não é conjunto de virtudes apenas militares, mas de virtudes cívicas, comuns a militares e civis. Os "Caxias" devem ser tanto paisanos como militares. O Caxiísmo deveria ser aprendido tanto nas escolas civis quanto nas militares. É o Brasil inteiro que precisa dele "... Deus abençoe o soldado brasileiro para que ele possa celebrar no altar das esperanças da pátria, o supremo ofício que lhe foi conferido realizar, honrando as gerações de soldados que pelo amor aos mandamentos de liberdade e de paz se viram arrastados aos campos de batalha, a enfrentar todos os perigos em defesa de um mesmo ideal: "Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil". Viva a Nação Brasileira...
(Edmilson Alberto de Mello, escritor)