É de conhecimento de todos, seja por meus singelos escritos ou pelas pessoas do meu círculo mais próximo que o rádio é presença constante em minha vida. E não poderia ser diferente, afinal desde a mais tenra idade eu me encantava com aquela caixa de tamanho médio que ficava em lugar de destaque na sala da casa simples da Fazenda Nova América, onde passei minha primeira infância.
Aliás, é interessante informar que foi através do rádio que meu pai soube de meu nascimento. Ocorre que minha mãe, por complicações na gravidez, a partir do sexto mês havia buscado melhores recursos de saúde e se hospedado na casa de familiares, na cidade de Porangatu, que distava 120 km da fazenda. E por recomendação médica lá ficou até que eu desse as caras por esse mundo.
A comunicação entre pessoas àquela época era muito difícil. As cartas demoravam uma eternidade para chegar do destino – quando chegavam. Restava o popular e onipresente rádio.
E no dia do meu nascimento, um conhecido da família – por nome de Zé Bentin, filho de Zé Bento – que rotineiramente buscava mantimentos em Anápolis para abastecer o comércio da pequena cidade onde ficava a fazenda, passou na casa de minha tia e soube do acontecido.
Ao chegar a Anápolis, deixou o caminhão carregando e tomou um ônibus com destino a Goiânia, onde foi direto e à sede da Rádio Brasil Central e através do programa Nossa Fazenda, comandado pelo saudoso comunicador Morais César, enviou o recado para meu pai. Recado que não podia faltar: “mãe e filho passam bem” e ao final o tradicional “quem ouvir por favor comunicar”. Foi assim que meu pai naquela longínqua década de 1960 soube de meu nascimento: através das ondas do rádio.
O tempo passou e o pequeno menino apesar de algumas enfermidades bravas, como sarampo, foi vingando. Logo se tornara um irrequieto, chorão e atentado moleque, para tristeza de minhas irmãs mais velhas que tinham a incumbência de cuidar de mim.
E eu ficava encucado diante daquela caixa onde homens, mulheres e crianças falavam a todo momento. Na minha ingênua cabeça de criança não cabia muito a ideia que homenzinhos viviam ali dentro. Como sobreviviam? E para onde iam quando o rádio era desligado?
Eu procurava sempre ficar por perto quando meu pai, após um árduo dia de trabalho na roça, pegava o violão e diante do velho ABC – A voz de ouro, se punha atentamente a ouvir e tirava “de ouvido” canções, que pouco tempo depois reproduziria à sua maneira, por suas mãos rudes e calosas, no violão. Depois, soube que eram canções de Bach, e a rádio era a BBC de Londres.
O tempo passou e tive a compreensão do que é o rádio e suas maravilhas. Até hoje não consigo mais me dissociar do rádio. É através do rádio que eu, assim como milhares de pessoas, tomo conhecimento das notícias mais recentes do meu guerreiro Vila Nova, bem como das novidades da política e outros assuntos do cotidiano.
Já há algum tempo estou do outro lado, seja como entrevistador, apresentador ou locutor de rádio, além de cronista do Seresta na Rádio Universitária. Sinto a emoção de ver pessoas que não conheço pessoalmente, mas que sei da bondade de seu coração, entrarem contato com a emissora e falarem do meu trabalho, da minha opinião sobre determinados assuntos, nem sempre concordando, mas dando a mim a oportunidade de refletir sobre aquilo que afirmei. Não posso conter a emoção.
O estúdio de uma emissora de rádio é uma pequena sala, onde não cabe muita gente. Mas o rádio é o veículo que consegui convergir pessoas de diversos pensamentos, credos e opiniões. E o coração de um comunicador, assim como o de quem recebe a mensagem, é de capacidade infindável.
Assim é o rádio, maravilhoso e tão importante na vida das pessoas. Na vida de pessoas que as vezes tentam resumir em um único nome: ouvinte.
Mas eu acho pouco; prefiro chamar: sua excelência, o ouvinte.
(Paulo Rolim, jornalista e produtor cênico – Twitter: @americorolim)