Dia 21, domingo. Pela manhã, visita ao Prefeito Gladstone, que, ontem à tarde, esteve aqui, no hotel, para visitar-me. É pessoa muito comunicativa e piadista. Médico, foi apoiado por Aldemar, que já foi Prefeito, pela terceira vez, e, agora, tenta a Prefeitura pela quarta vez. Dele, dizem nada fez nesses quatro anos. Mas é uma pessoa que sempre agrada, pela comunicabilidade. Ofereço-lhe meu livro “Direito Penal e Direito de Execução Penal”. Acerca-se a roda o Juiz Paulo Roberto, de Elizeu Martins, que substitui, aqui, pois a Comarca está vaga. Ofereço-lhe, também, o meu livro. Também me visita o aluno Silas, da FD-UCG, que eu conheci num Seminário de Direito do Trabalho, promovido pelo Sindicato dos Advogados, sob a presidência do Ismar Pires. Como ele ainda não tem o meu livro, dedico-lhe um exemplar.
- Antônio José, filho de Padrinho Nezinho, vem ao hotel a fim de nos levar a sua casa para o almoço programado desde anteontem. Lá, encontramos a Prof ª Maria Emília, minha ex-Professora do Curso Primário, e minha Madrinha de Fogueira, que raramente sai de casa. Principalmente, depois que o esposo. Doutor Raimundo, único médico da Cidade faleceu, de saúde publica, Zevítor, esposo de Nailda, que não sai de casa desde que faleceu o filho Engenheiro (e que, por isso, não compareceu); Madrinha Anita, freira da Congregação dos Pobres, irmã de Nailda; Filhos de Antôno José e de José Martins; Francisca Maria, filha de Zilda em casa de quem almoçamos anteontem; Zilda, mãe de Francisca Maria, e irmã de Antônio José e de Nailda; e várias crianças. Almoço farto: galinha caipira, e frango ao molho pardo, assado em fatias, arroz e várias outras iguarias, regado a cerveja, ‘whisky’, refrigerante e cajuína. Prefiro cajuína, a bebida da terra. Sobremesa: Sorvetes de chocolate e de maracujá. E, mais tarde, pudim de leite condensado. Mando levar Madrinha Marimília, Madrinha Anita e Zilda a suas respectivas casas. E às 16h, retiramo-nos, Abadia e Eu. Deixamos com Berenice uma lembrancinha: Uma travessa de metal com trabalhos dourados.
Aurélio Miguel ganhou o ‘Bronze’, no ‘Judô’, em Atlanta. Por um triz, não venceu o Polonês, sobre quem esteve em vantagem. Mas venceu o Holandês, logo no primeiro momento. Aurélio tinha cacife, pois, para disputar o Ouro. Mas um detalhe, na luta, o prejudicou.
- Vancy, filha de Orlando Piauilino, faleceu vindo de Teresina na viagem. Desenganada pelos médicos, foi liberada pelos médicos para vir morrer em casa. Mas não resistiu, vindo a morrer no caminho.
- Desastre no Futebol brasileiro: A Seleção canarinho perdeu de 1x0 para a Seleção Japonesa. Eu guardava a perspectiva de uma goleada, assim como 5x0; e, na metade do 2º tempo, o gol do Japão. E o Brasil não conseguiu reverter o ‘placard’. Um desastre! Mas o Zagallo bem que mereceu a humilhação: Dos jogadores acima de 23 anos, não convocou Giovanni, nem Túlio, nem Romário, o maior jogador do mundo, na atualidade, eleito em 1994, vice-artilheiro carioca em 1995, artilheiro em 1996, e campeão carioca. Mas o ego de Zagallo não admite o brilho da estrela de Romário. E aí está o resultado, na catastrófica estréia.
A estréia dos tetra-campaeões.
- Vamos à casa de Francisca Maria, que mora na caasa de Doutor Raimundo que, hoje, pertence à Prof ª Marimília, sua viúva. Francisca ficou igual á Tia Auristeia, filha de Vovô Aureliano, e irmã de padrinho Francisco, meu avô paterno. Entro casa adentro, e vou até o quintal que eu conheço desde quando, nos anos quarenta, eu era convidado para almoçar, aos domingos, com o casal. Lá ainda estão o coqueiro imenso, e os muros cobertos de telhas.
- Vamos ao Fórum, - antes mercado, - onde também se encontra a Câmara Municipal. Aí, encontramos Ivone, que trabalha no Cartório do Crime. Solicito-lhe que expeça a certidão de casamento de Papai e Mamãe, certidões de nascimento minha e de todos os meus irmãos; de óbito de Mamãe. E cópia do processo criminal de Tio Nélson, acusado e condenado lá pelo ano de 1940, injustamente. Ivone não mostra boa vontade, mas promete fazer o possível para me fornecer os documentos que procuro.
- Mas eu quero o impossível, - retruco, sorridente.
Ela me apresenta Drª Cláudia Portela, Promotora de Justiça, que mora com Ivanilde; e Rejane, casada com seu filho.
- Almerinda almoça conosco no restaurante “Sabor da Terra”. Lá, um primo se acerca de nós, filho de Tio Miguel. Muito extrovertido, fala de suas venturas e desventuras. E de suas traquinagens com Ozires, meu irmão, vigiando as plantações de milho. - Deixávamos os passarinhos comerem a plantação, enquanto assávamos espigas de milho verde para comer, - conta.
- À tarde, após a sesta, voltamos às visitas: Ivone, que perdeu uma filha às vésperas do casamento. Pessoa de grande sensibilidade, que me encantou. Quase à nossa saída, chega Sérvulo, o esposo, filho de Amândio, meu ex-colega no “Franklin Dória”. Ele é mais velho que eu cerca de 3 anos, pois é de 1932. Ivone não acredita que eu seja o mais velho dos irmãos. Ivone sublimou a perda de sua filha, noiva, prestes a casar-se. Vamos à Igreja Matriz onde, nos anos quarenta, ajudei, como Sacristão, a celebrar a Santa Missa. Subo a escadaria da Torre, e bato as 07 (sete) badaladas do Sino, chamando para as orações desta noite. Dou uma volta à Igreja, e entro na casa da Luzia, filha do Ângelo ‘Goteira’.
- Cadê o João? – indago, referindo-me a seu irmão.
- Está em Goiânia, retruca a Luzia, minha contemporânea de escola.
- Que ele está fazendo? – insisto.
- Nada.
- Aposentou-se?
- Sim.
- Você morou em Goiânia, durante quanto tempo?
- Dez anos.
- Você está bem, - digo , sendo lisonjeiro.
Ela, que foi bonita, durante a sua juventude, está um tanto ou quanto gorducha. A igrejinha está em reforma: Deslocaram a Sacristia para detrás do Altar, as Arcadas laterais foram abertas; e fizeram tantas modificações.
- Vamos à casa da Julita, irmã de Almerinda, que nos acompanha. Ela foi esposa de Ivo, filho de Tio Vicente, que a abandonou com três filhos, à míngua. E nunca lhe deu nada. Julita se mantém bordando e costurando. É uma boa modista.
De lá, deixo Almerinda em casa, e volto ao hotel, de onde saio para jantar, com Abadia e Walter, o motorista, no restaurante ‘Sabor da Terra’.
- Último compromisso da noite: Visita a Ivone, viúva de Joaquim Piauilino, filho de Orlando Piauilino. Ela não deixou falar, falando cerca de uma hora, em que ficamos em sua casa. A viuvez deixou-a solitária e carente. Walter pediu licença, e foi à porta da rua, ‘ ver estrelas’.
- Voltamos para casa às 11.30-h, saturados do monólogo.
Dia 23, terça-feira - Antônio José, filho de Padrinho Nezinho e irmão de Zilda e Nailda, nos levam cedo, em casa de Dr. Francisco, seu genro, e candidato a Prefeito da Cidade. Entrego-lhe o presente: Uma bela escultura de cavalo, esculpida em resina, ou acrílico, jateada. Que belo! Exclama a secretária. E faz questão de que eu vá jantar ou almoçar com ele, em Cristino Castro. Fica acertado que o visitarei na sexta-feira, dia 26, à tardezinha. Antônio José, se havia oferecido para ir conosco, pois ZeMartins vai almoçar com ele. Você não vai, não: Eu vou almoçar em sua casa, diz ZeMartins, enérgico.
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail liciniobarbo[email protected])