O Espírito, criação divina, tem, em princípio, a faculdade de estar em dois ou mais lugares, ao mesmo tempo, bem assim de rever o passado e devassar o futuro.
É evidente que tal poder é diretamente proporcional ao seu grau de evolução, sobretudo com relação ao futuro.
2 – A questão 247, de “O Livro dos Espíritos” , esclarece bem a questão. Veja-se:
Para verem o que se passa em dois pontos diferentes, precisam (os Espíritos) transportar-se a esses pontos? Podem, por exemplo, ver simultaneamente no dois hemisférios do globo?
“Como o Espírito se transporta aonde queira, com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo. Seu pensamento é suscetível de irradiar, dirigindo-se a um tempo para muitos pontos diferentes, mas esta faculdade depende da sua pureza. Quanto menos puro é o Espírito, tanto mais limitada tem a visão. Só os Espíritos superiores podem com a vista abranger um conjunto.”
No propósito de aclarar ainda mais o assunto, acrescenta Allan Kardec:
“No Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há trevas, nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona. Daí se segue que, não havendo luz, o homem fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver constitui um atributo seu, abstração feita de qualquer agente exterior, a visão independe da luz.”
3 – A Física Moderna, na versão de Física Quântica, defende esse mesmo fenômeno sob o nome de “Não-Localidade”, ou “Não-Local”.
Consulte-se na mesma obra citada a questão 92, que registra:
Têm os Espíritos o dom da ubiquidade? Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se, ou existir em muitos pontos ao mesmo tempo?
“Não pode haver divisão de um mesmo Espírito; mas cada um é um centro que irradia para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um Espírito em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É um somente. No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus raios. Contudo, não se divide.”
- a) – Todos os Espíritos irradiam com igual força?
“Longe disso. Essa força depende do grau de pureza de cada um.”
4 – E Allan Kardec complementa:
“Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, sem que se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é que se deve entender o dom da ubiquidade atribuído aos Espíritos. Dá-se com eles o que se dá com uma centelha, que projeta longe a sua claridade e pode ser percebida de todos os pontos do horizonte; ou, ainda, o que se dá com um homem que, sem mudar de lugar e sem se fracionar, transmite ordens, sinais e movimento a diferentes pontos.”
5 – Amit Goswami, em seu famoso livro “O Universo Autoconsciente”, confessa-se como um dos propugnadores do fenômeno da “Não-Localidade”, ou “Não-Local”.
Falando sobre o assunto, sob o título– A Filosofia do Idealismo Monista –, no capítulo 4, à página 85, da ob. citada, informa:
“Até a atual interpretação da nova física, a palavra transcendência raramente era mencionada no vocabulário dessa disciplina. O termo era mesmo considerado herético (o que acontece ainda, até certo ponto) para os praticantes clássicos, obedientes à lei de uma ciência determinista, de causa e efeito, em um universo que funcionava como um mecanismo de relógio...
...Hoje, a ciência moderna está se aventurando por reinos que durante mais de quatro milênios foram os feudos da religião e da filosofia. Será o universo apenas uma série de fenômenos objetivamente previsíveis, que a humanidade observa e controla, ou será muito mais esquivo e até mais maravilhoso? Nos últimos 300 anos, a ciência tornou-se o critério indisputado da realidade. Temos o privilégio de fazer parte desse processo evolucionário e transcendente, através do qual a ciência muda não só a si mesma, como também a nossa perspectiva da realidade.
Um progresso instigante – um experimento realizado por um grupo de físicos em Orsay, França – não só confirmou a ideia da transcendência na física quântica, mas está também esclarecendo esse conceito...”
6 – Em sequência, o autor explica que na Física Quântica criou-se uma expressão para designar o fenômeno de se estar em lugar nenhum – “Não-Local” –, ao contrário de se estar em algum lugar.
Para que se torne simples o pensamento do insigne autor, dou um exemplo de um fenômeno bem aceito pelos iniciados e pelos espíritas, em geral, quando se fala de Deus: Deus, nosso Pai, “Criador do Céu e da Terra”, está em toda parte e em parte alguma. Está em tudo no Universo e em nós também.
7 – Ao final, conclui o autor:
“...Mas há outra maneira paradoxal de pensar na realidade “Não-Local”– como estar em toda parte e em parte alguma, em toda e nenhuma ocasião. Essa ideia ainda é paradoxal, mas também sugestiva, não?
...A “Não-Localidasde” (e a transcendência) estão em parte alguma e agora/aqui, explica Amit Goswami.
Em assim se expressando, Amit Goswami aceita que o espaço e o tempo, nos fenômenos transcendentes da esfera da consciência – essência divina em nós –, não ostentam as mesmas propriedades, mas, sim, como não-espaço e não-temporalidade, no que também está plenamente de acordo com os postulados espíritas.
É em razão dessas descobertas da Física Quântica, que se pode dizer, de cabeça erguida, imbuídos, não obstante, de uma boa dose de modéstia, que a Doutrina Espírita é mesmo tríplice, isto é: Filosofia, Ciência e Religião.*
* - Páginas 272/276.
Nota: De meu livro "A Obra de Allan Kardec - Reflexões (Filosóficas, Científicas e Religiosas"), lançado pela ABRAME (Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas).
(Weimar Muniz de Oliveira, wei[email protected])