A tentativa de homicídio que vitimou o presidenciável Jair Bolsonaro no último dia 6 de setembro em curso em Juiz de Fora não é de causar estranheza.
Primeiro, porque não é incomum contabilizarem-se mortes e tentativas de morte de políticos em período eleitoral, com o também é mais ou menos normal ocorrerem assassinatos de pré-candidatos e candidatos em campanha, o que mostra o cenário de extrema violência; segundo, porque o desempenho de Bolsonaro nas últimas pesquisas, aliado a suas inegáveis promessas de “passar um pente fino” nas mazelas da política andou assustando os que estão cada vez mais acuados, com receio de uma vitória do capitão, que parece prenunciar-se logo no primeiro turno.
Aliás, se Bolsonaro não liquidar a fatura no primeiro turno, dificilmente levará o resultado no segundo, pois o cenário indica que a esquerda se unirá contra ele por razões ideológicas, e a direita não ligada a ele também formará um bloco sólido para evitar que ele revitalize a Lava Jato e leve para o xadrez notórios picaretas que posam de autoridade.
O leitor pode até ignorar que em 18 anos, foram assassinados 79 candidatos durante campanhas eleitorais.
A execução de Marielle Franco, vereadora do PSOL, no dia 14 de março deste ano reacendeu o debate sobre assassinatos por motivações políticas no Brasil.
Pesquisa recente divulgada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro revela que a violência contra políticos já está presente muito antes da posse. Entre 1998 e 2016, foram 79 mortes de candidatos em campanha, uma média de 16 assassinatos por período eleitoral.
O cientista político Felipe Borba, professor da universidade, pesquisou o assunto e concluiu que morrem candidatos de todas as tendências (esquerda, de centro e de direita). “Ao todo foram contabilizadas mortes em 22 estados com cerca de 25 diferentes partidos", contabiliza.
O estado do Rio de Janeiro protagoniza o “ranking” das mortes de candidatos em campanha com 13 assassinatos, seguido de São Paulo, com 10 homicídios de políticos.
Geralmente tais assassinatos e tentativas de homicídio ocorrem por razões de cunho pessoal e de repercussão local.
Mas esse atentado contra Bolsonaro era um episódio perfeitamente previsível e até anunciado nas redes sociais, exatamente devido às suas posições de extrema direita, que incomodavam muita gente, dos três Poderes, principalmente aqueles envolvidos em escândalos que faziam com que o presidenciável se identificasse com enorme parcela do povo, profundamente inconformado com a situação vigente no país.
Durante a última eleição no Rio de Janeiro, em 2016, houve 5 mortes de candidatos em campanha, porém na pré-campanha foram assassinadas 13 pessoas, segundo dados do TSE, o Tribunal Superior Eleitoral. Entre dezembro de 2015 e agosto de 2016, 20 pré-candidatos foram assassinados no Brasil, a maioria no estado do Rio de Janeiro.
Esses dados do Rio de Janeiro são bem expressivos de uma situação bastante grave que denota por um lado a permanência das práticas de violência no âmbito da disputa política. De outro lado, denota a incapacidade do estado em atuar com suas ferramentas e dispositivos de segurança pública para coibir esse tipo de prática que muitas vezes permanece impune.
Podem ter a certeza de que os inimigos voltarão a atacar, pois esse atentado veio fortalecer Bolsonaro ainda mais, e o lamentável episódio apenas vem demonstrar que os bandidos estão com medo, o que recomenda mais segurança para ele.
Diz um sábio ditado que em certas circunstâncias, “a inveja quando não mata aleija”, e no caso de Bolsonaro pode-se dizer, com absoluta certeza, que “quando a facada não mata elege”.
Diante dos fatos que antecederam o lamentável episódio, que, aliás, está se tornando comum no Brasil, merecem ser tecidas algumas considerações.
Tão logo a Polícia Federal começou a investigar os motivos do ataque encontrou no local onde o quase assassino se hospedou foi encontrado um cartão da Caixa Econômica Federal de uma conta com um saldo de 350 mil reais em nome de um laranja, resultante de um depósito sido feito uma semana antes do atentado.
Adélio Bispo de Oliveira, que tentou matar Bolsonaro, estava desempregado, segundo a imprensa se fartou de noticiar; no entanto, tinha toda uma estrutura logística e financeira a sua disposição, já havia estado em São Paulo e no Rio de Janeiro onde Bolsonaro fazia campanha, tudo pago por alguém, que a polícia não quer ou não pode declinar, o que indica que tem peixe graúdo por trás disso.
Sintomaticamente, a Globo está desviando o foco das investigações ao tratar o caso como “lobo solitário”, que, no jargão da imprensa, é aquele caso isolado, praticado por uma só pessoa por motivação pessoal própria, e o ministro da defesa, Raul Jungman, parece que embarcou na mesma canoa para corroborar a tese global, induzindo para outra linha de investigação. Sabe-se que a Globo deve R$ 358 milhões só de impostos, que Bolsonaro ameaça cobrar, além de cortar grande parte da publicidade governamental da empresa dos Marinho. E não é só a esquerda que tem interesse no fim de Bolsonaro, pois gente de direita e centro-direita é quem mais se vê encalacrada no cipoal da Lava Jato e outras operações da Polícia Federal. E com a ameaça de Bolsonaro passar um “pente fino” na pilantragem dos três Poderes torna periclitante sua situação de segurança.
Mas, voltando ao caso do “lobo solitário”, também soa estranho que sua hospedagem estivesse paga por três semanas, em dinheiro vivo; que o desempregado tivesse quatro celulares e portasse um notebook. Parece que os mandantes contavam com a morte do agressor pelos seguranças de Bolsonaro, sepultando qualquer tentativa de solução do caso, pois foi adrede escolhida uma pessoa sem relações de parentesco ou amizade, sem emprego e sem qualquer possibilidade de se chegar ao mandante. E as autoridades só não chegarão se não quiserem, mas há que se levar em conta que a esquerda, a direita e todos aqueles ameaçados pelas promessas de Bolsonaro er de seu vice, general Mourão de passar o Brasil a limpo.
Mais estranho ainda é o fato de a defesa de um desempregado estar a cargo de um renomado escritório de Minas, que mandou dois advogados em um avião particular às pressas de Belo Horizonte rumo a Juiz de Fora, na Zona da Mata, para participar da defesa de Adelio Bispo de Oliveira.
A defesa de Adelio era paga, de acordo com os próprios advogados, por uma congregação religiosa de Montes Claros, no Norte de Minas. O nome da igreja, entretanto, foi mantido em sigilo. Depois, saiu a igreja e surgiu um benfeitor anônimo. Muito estranho, estranhíssimo.
O que se conclui é que existem muitos interesses escusos por detrás desse atentado, ainda mais que já se fala em afastamento do delegado que investiga o caso. E também já se alvitra a hipótese de um golpe do PRTB: se vier a acontecer o pior a Bolsonaro, seu vice, o general Mourão, assumiria, tal qual Sarney, que ocupou o lugar de Tancredo.
Será que vai ficar insolúvel como o caso Celso Daniel, um crime praticado em janeiro de 2002, que continua convenientemente sem solução?
(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, escritor, jurista, historiador e advogado. liberatopo[email protected])