É compreensível: patinando nas pesquisas há meses, sem conseguir sair do empate técnico com Daniel Vilela, na faixa de 10 a 13% das intenções de votos, em média 30 pontos atrás de Ronaldo Caiado, era esperado que Zé Eliton procurasse no baú de soluções mágicas um artifício para tentar manter aceso o ânimo da militância da base governista. E o que encontrou? Uma “fake news”, daquelas que ele e o ex-governador Marconi Perillo vivem repudiando a cada dia, quando os dois são as vítimas. A notícia falsa que eles estão alardeando é a “virada” do candidato tucano ao governo de Goiás.
O golpe começou a ser armado com a pesquisa encomendada ao instituto Directa pelo publicitário Marcus Vinicius de Queiroz, através da rádio Jovem Pan, de sua propriedade. Depois, a conveniente publicação no jornal O Hoje, com uma manchete assegurando a certeza do 2º turno. Nessa tal pesquisa, Zé Eliton apareceu com fantásticos, incríveis, extraordinários 26,2%, número, se fosse real, capaz de conferir a ele reconhecimento como o maior fenômeno eleitoral do país e quiçá do planeta, dada a velocidade, poucos dias, com que foi alcançado.
Providenciada a pesquisa, começou a sua divulgação nas redes sociais e nos eventos de campanha, pasmem, leitores, através do próprio Zé e também de Marconi, ambos convertidos em propagadores de um tipo de “fake news” eleitoral, mas em essência a mesma coisa que eles dizem tanto detestar. Daí, veio a marola. Marconi é o que mais se esforça, talvez pela maior tarimba e traquejo em falar sobre coisas que não existem, já que tem 20 anos de exercício contínuo do poder (e o poder ensina a mistificar), mesmo tendo passado pelas agruras do governo Alcides Rodrigues, que elegeu, mas no qual não mandou tanto quanto gostaria.
Zé é mais comedido. Tenta com a sua falta de carisma e ausência de dons de oratória popular mostrar com a sua voz monótona e robótica que está animado, entusiasmado, convicto da “virada” e da sua vitória próxima. Acaba transmitindo uma imagem de debilidade, meio sem graça e sem jeito, mesmo porque é acostumado ao raciocínio jurídico e adquiriu o hábito de relacionar causa e consequência – conexão que não está presente na virada “fake”. Mas os dois, o governador e o ex, sabem que novas pesquisas estão chegando, como chegaram as do Diagnóstico e do Grupom, institutos de credibilidade indiscutível, confirmando que nada mudou, que tudo continua como dantes, que Zé patina nos mesmos índices de sempre, ombreado no 2º lugar com Daniel Vilela (o esforçado jovem emedebista autor da façanha de perseguir passo a passo o candidato tucano nas pesquisas, mesmo sem contar com uma fração dos recursos que o controle da máquina governista dispõe para o Zé).
Veja a lógica, leitor: como um candidato que segue com 10 a 13% nas pesquisas, com 66% a 70% dos goianos considerando a sua gestão como regular, ruim e péssima e, pior ainda, liderando o ranking de rejeição, com mais de 30% citando o seu nome ao responder à pergunta “Em que você não votaria de jeito nenhum?”, como esse candidato pode falar em “virada”, em alta nas pesquisas, em qualquer tipo de reação? Um candidato cujo principal apoiador, Marconi, é rejeitado por quase a metade do eleitorado goiano. Bem, se a oscilação que Zé mostrou, por enquanto dentro da margem de erro do Diagnóstico e do Grupom, puder ser entendida como guinada, mesmo diante de tantos fatores adversos, então temos não uma reviravolta, mas pelo menos uma viradela, se definirmos com bondade e generosidade a apertada e constrangedora condição do governador-candidato nas pesquisas. Temos um nada.
Infelizmente para o Zé e para Daniel, a história das eleições em Goiás mostra que há quase que uma regra: quem sai na frente, termina na frente. E que, quando acontecem as raras viradas, elas têm sempre uma motivação social ou política que pode ser identificada com facilidade. Um exemplo é a vitória de Marconi em 1998, quando saiu bem atrás de Iris Rezende, mas havia uma fadiga com os 16 anos de governos do PMDB e ele conseguiu inverter as expectativas e ganhar. Outro exemplo é Alcides Rodrigues, em 2006, que começou bem longe de Maguito Vilela, só que, puxado por um Marconi que havia acabado de deixar o governo com 82% de aprovação, também logrou passar à frente e triunfar.
O que temos hoje em Goiás é uma sociedade que se cansou da repetição do mesmo das duas décadas de poder do Tempo Novo. A disparada de Caiado é a prova desse sentimento. Caiado é a segurança de uma mudança radical, acredita o eleitor. Por isso, a preferência pelo seu nome. E o que mais temos? Temos um Marconi que, se tracionou Alcides Rodrigues para cima na virada sobre Maguito Vilela, hoje empurra o pesado Zé para baixo. Não se enxergam variáveis objetivas capazes de justificar uma arrancada do candidato do PSDB. No máximo, o movimento inercial de toda reta final de campanha, quando o candidato ou candidatos na retaguarda às vezes apresentam alguma evolução vegetativa. Às vezes. De resto, em toda eleição em que houve virada, as curvas ascendente e descendente, a menos de 20 dias da data da eleição, já estavam desenhadas.
A oscilação de Zé e Daniel no Diagnóstico e no Grupom lembra o doente terminal que dá uma melhoradinha... para morrer em seguida. O que o leitor precisa saber é o seguinte: as pesquisas refletem a realidade que está posta na sociedade e, por esse ângulo, não são produtos do acaso, ou seja, não apontam números abstratos e sim aqueles enraizados nas camadas do eleitorado. Elas só se modificam se houver um contexto capaz de justificar a movimentação dos índices, como houve em 1998 e em 2006. Na eleição deste ano, não há nada parecido, inexistem elementos que possam indicar qualquer alteração além de um mero vaivém beneficiando Zé Eliton ou menos ainda Daniel Vilela. Os dois, também, não exibem competências capazes de forçar uma virada. O resultado da eleição está posto e, não à toa, a campanha governista anunciou que vai se concentrar em 20 grandes cidades, abandonando as demais – óbvia decisão orientada pela necessidade reduzir gastos, esforços mobilizatórios e outros dispêndios inúteis diante da consciência de que as urnas que se avizinham trarão más notícias.
O FATOR KAJURU
As pesquisas dos institutos Diagnóstico e Grupom revelaram o empate de Jorge Kajuru com Marconi Perillo (e, dentro da margem de erro, mostrando para os quatro principais candidatos um cenário embolado para o Senado), com um agravante: Kajuru está em tendência de alta, enquanto Marconi encontra-se estagnado. Não cai, não sobe. Está estacionado no mesmo patamar de sempre, agora alcançado pelo polêmico vereador-radialista, que executa uma campanha primorosa na linguagem que usa e nos objetivos que persegue. Lúcia Vânia cai, enquanto Vanderlan Cardoso vem vindo. Para complicar, Marconi continua como o candidato majoritário mais rejeitado, no levantamento do Grupo com 44% de eleitores refugando o seu nome, enquanto Kajuru conseguiu até diminuir a sua, muito menor que a do seu arquirrival.
Marconi tentou enquanto pôde ignorar a força do seu adversário direto. Gastou tempo demais com Caiado, que é candidato a governador e não a senador e só colheu alguns pontos a mais na sua rejeição graças aos ataques rasteiros que fez ao democrata. Agora, quando finalmente decidiu descer do pedestal encarar Kajuru, o fez de maneira deplorável. Usou expressões de baixíssimo nível. Atacou canhestramente. Passou atestado público de que está, senão apavorado, pelo menos assombrado pelo fantasma de uma derrota da qual se julgava imune.
Se houver alguma “virada” nesta eleição, é a iminente ascensão de Kajuru e Vanderlan, assumindo as primeiras posições na corrida senatorial e derrotando Marconi e Lúcia. Pela pesquisa do instituto Diagnóstico, publicada nesta terça-feira no Diário da Manhã, Marconi ficou no mesmo lugar, Kajuru subiu quase três pontos, Lúcia caiu mais de quatro pontos e Vanderlan também ficou em posição idêntica à rodada anterior. A novidade é que Kajuru, na pesquisa espontânea, agora está em 1º lugar, com 14,1%, enquanto Marconi passou para a segunda posição, com 13,5%. Lúcia Vânia tem 9,9% e Vanderlan 8,7%. Já segundo o Grupom, Marconi, Lúcia Vânia, Vanderlan e Kajuru, nesta ordem, estão simplesmente empatados tecnicamente, por uma diferença mínima, que não chega a três pontos.
A “virada” na eleição para o Senado vem vindo aí e, esta sim, não é “fake news”.
(José Luiz Bittencourt, jornalista e autor do Blog do JLB – blogdojlb.com.br)