Comecei a trabalhar muito cedo. Meu pai era escrivão titular do cartório de família, órfãos e sucessões da comarca de Crixás e, assim que eu completei 12 anos, fui ser uma espécie de office boy da escrivania, ali permanecendo até os 17 anos de idade. As tarefas iam, desde a limpeza do chão e dos móveis, até a prática de serviços próprios de funcionário adulto, como digitar (na época dizia-se datilografar) peças processuais, atender às partes do processo, tirar xerox e organizar arquivo. Penso que foi nesse período da minha adolescência, em meio a advogados, juízes e promotores e, já auxiliando nas audiências, que comecei a me identificar com as técnicas e ferramentas do coaching, hoje em alta na sociedade.
Na fase adulta, além do curso de direito e posterior carreira no ministério público, onde ainda atuo, interessei-me por outros aprendizados, de cunho humanístico e de autoconhecimento, como a programação neurolinguística, o eneagrama e, nos últimos anos, o processo de coaching. Todas essas ferramentas têm contribuído decisivamente para o aprimoramento da minha vida pessoal e profissional.
As ferramentas de coaching têm potencial para alavancar pessoas e ajudá-las a traçar seus principais objetivos e alcançar as melhores performances, tanto na vida pessoal como profissional. Por meio de perguntas e de técnicas e conceitos cientificamente validados, a metodologia coaching contribui para que as pessoas possam definir melhor seus objetivos e a traçar metas eficientes para alcançá-los de maneira efetiva.
Essa aliança estratégica entre o técnico e seu cliente, ao promover o foco, a ação, o resultado e a melhoria contínua, conduz ao aprimoramento da excelência humana, a evolução na carreira, a visualização de oportunidades e novos cenários e a potencialização dos talentos do coachee.
O processo de coaching é uma oportunidade de visualização clara dos pontos individuais, de aumento da autoconfiança, de quebrar barreiras de limitação para que as pessoas possam conhecer e atingir seu potencial máximo. Cumpre ao coach estimular o coachee a aprimorar suas próprias competências com a utilização de técnicas e oportunidades para se expandir mediante processos de investigação, reflexão e descoberta dos pontos fracos e das qualidades, além do aumento da consciência de si mesmo e da capacidade de se responsabilizar pela própria vida.
Existem dois nichos principais de coaching: o Life Coaching – coaching voltado para a vida e necessidades pessoais, como esportivo e planejamento pessoal, por exemplo, e o Executive and Busines Coaching – voltado para o âmbito profissional, como carreira, liderança e gestão de pessoas. O processo envolve um profissional, Coach, responsável por aplicar as técnicas e estimular o aprendiz, e o Coachee, que pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas. Coach e Coachee formam, então, uma parceria que busca evolução, crescimento, aperfeiçoamento, felicidade e bem-estar, cujos fatores elevam a qualidade de vida e, por consequência, a longevidade e a prosperidade.
O interessante no processo de coaching é que o coach não precisa ser um expert no campo de trabalho do cliente. O caminho é trilhado pelo coachee e não pelo coach, que somente apoia e auxilia para que esta caminhada seja feita de forma correta.
Além de ser uma excelente ferramenta para a definição de visão e propósito de vida, o processo de coaching possibilita identificar e alinhar valores e crenças, potencializando o coachee para um melhor aproveitamento e uso qualitativo do tempo, com elevação da autoestima e autoconfiança.
Para o alcance dos resultados esperados, é necessário que tanto o coach como o coachee estejam focados e determinados a caminhar juntos rumo ao mesmo objetivo. O coach precisa estar determinado a ouvir e incentivar o coachee, mostrando-lhe os caminhos e possibilidades para que ele alcance seu objetivo.
Durante a sessão, o coach não deve fazer juízo de valor, devendo primar pela ética e confidencialidade, a segurança e confiança, com ênfase na arte de fazer perguntas poderosas ao cliente. O coach deve manter uma comunicação clara e objetiva com o cliente, mantendo o rapport necessário para não perder o foco e gerar estados emocionais positivos no coachee.
Compete ao coach estimular o coachee a encontrar nele mesmo as respostas que ele precisa e procura para chegar o mais rápido possível ao objetivo desejado. Esse desafio proposto pelo coach acontece com a definição de metas e objetivos a serem cumpridos pelo coachee, o qual se compromete a executar as tarefas estabelecidas pelo coach. O interessante é que essas tarefas são propostas pelo próprio coachee que consegue desenvolver as habilidades necessárias para atingir seu potencial máximo, contando com o incentivo do coach.
Para a efetividade dos resultados, é importante que o coach consiga identificar se existe algum fator que possa vir a sabotar o processo ou até mesmo a autossabotagem, vindo a dificultar o alcance do estado desejado.
Uma sessão de coaching ideal seria aquela em que, ao final, o coach se sentisse realizado por ter, junto com o coachee, alcançado um progresso na caminhada na direção do objetivo desejado. Nessa mesma sessão, o ideal é que o coachee saia com o sentimento de dever cumprido, acreditando em si mesmo e convicto de que aprendeu algo novo sobre si mesmo e que está quebrando suas crenças limitantes e vencendo seus medos.
À época de minha estréia no cartório de Crixás, falar em coaching era tão comum como falar em “aula de datilografia”, hoje, para os adolescentes. A análise dessa relação comparativa sugere uma afirmação e uma reflexão. A primeira é a constatação de que o jovem de hoje, mesmo com todo o avanço tecnológico da atualidade, não tem se utilizado do arsenal à sua disposição para desenvolver suas habilidades rumo à conquista de seus sonhos e objetivos. A reflexão passa por uma pergunta poderosa: como podemos utilizar as técnicas de coaching com vistas à contribuir para uma melhor formação do jovem de hoje? A resposta está, não só em cada um de nós, life coaches, como em nossos coachees do dia a dia, os quais, cada vez mais, mostram-se sedentos de transformação. O ponta pé inicial pode vir da utilização das ferramentas de coaching. Chegou a hora e a vez do coaching.
(Inácio Filho, promotor de Justiça e coach)