O misericordioso leitor sabe que sempre empenhei a minha palavra de honra que aqui, neste matutino vanguardista, neste espaço, nas minhas linhas, jamais mentirei, ou, omitirei, esconderei algo que ache significativo, de nenhum leitor, nem mesmo dos meus filhos mesmo que, para tanto, tenha que vituperar a minha “própria”, como direi? imagem, pouco me importa, não estou nem aí, já fui acusado e absolvido de tudo quanto é “coisa”, inclusive de “subversivo”, vou lá ligar de ser acusado de “lavar roupa suja fora de casa”, então, pois é, a “roupa suja” deste artigo foi o fato de eu ver o meu amigo Luiz Fernando chegar, hoje a tarde, terça, contristado, olhos lacrimosos, me dizendo que foi visitar um médico homeopático num hospital que trata de viciados em álcool e outras drogas e saiu de lá arrasado com tudo que viu. Seu rosto transfigurava o ressentimento com tudo ao derredor, e estou falando de onde estávamos, ele parecia uma fera acuada, saltava faísca dos olhos falando, especialmente, sobre a falta de amor das pessoas, que não estão nem aí com todas as desgraças que ocorrem, muitas vezes, ao lado da sua casa e, segundo ele, esta falta de amor generalizado é a raiz de todo o mal e, até, salientou isto, me perguntando se eu lembrava o primeiro mandamento, ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Depois de alguns minutos mostrou a sua coragem ao dizer-me que se sentiu miserável ao passar por um moribundo, pouco antes de chegar ali, não parando para perguntar-lhe se precisava de algo, se estava com fome, se queria banhar-se. Disse: “Henrique, na minha casa têm quatro banheiros”. Tentei lhe confortar e não houve como, pois, comecei a sentir-me, acho, pior que ele, ainda mais quando começou a narrar sobre senhoras, de muita idade, acompanhando filhos alucinados e outras, da mesma idade, alcoólatras, bêbadas, sendo arrastadas por filhos, netos, enfim, comecei a passar mal. Pedi licença e fui ao banheiro vomitar. Até.
(Henrique Gonçalves Dias, jornalista)