Com a ascensão da era digital e a consequente evolução das plataformas voltadas a produção de conteúdo, presenciamos um cenário que até 50 anos atrás compunha o roteiro de qualquer ficção científica: hoje, boa parte dos habitantes do globo terrestre está conectada pela internet, podendo interagir de qualquer lugar, a qualquer momento. Para se ter uma ideia, segundo um levantamento feito pela Hootsuite junto à We Are Social, mais da metade da população mundial já tem acesso à rede – o que representa mais de 4 bilhões de pessoas!
Os conteúdos assumiram formas diferentes das que conhecemos outrora e são mais democráticos. Hoje, seja por meio de plataformas próprias, como sites e blogs, ou redes sociais, todos nós podemos produzir conteúdo. Se no início a comunicação na rede era genérica e via de mão única – como a que conhecíamos no rádio e na TV – hoje ela permite a troca de informações entre nichos e grupos de interesses específicos.
A democratização do acesso à informação é sem sombra de dúvidas um dos acontecimentos globais de maior relevância dos últimos tempos. Mas é preciso que saibamos utilizar os benefícios que essas ferramentas nos proporcionam com responsabilidade.
No imaginário coletivo, essa variedade de fontes de informações trouxe uma amplitude das discussões, já que permite que o usuário tenha acesso a vários pontos de vista, independente do assunto. E isso de fato acontece. Mesmo nas redes sociais, onde os algoritmos têm nos direcionado cada vez mais para temas e posicionamentos compatíveis com nossos gostos, é inegável que com um clique conseguimos explorar melhor qualquer assunto. Mas na correria do dia a dia, não são todos que pesquisam a veracidade daquilo que chega por meio da web e, por isso, acabam disseminando informações inconsistentes.
E é nesse cenário que surgem as Fake News. Em grande evidência nos últimos tempos, esses conteúdos que costumam se utilizar de colocações sensacionalistas e sem evidências científicas podem prejudicar questões sociais de grande relevância, como a saúde, por exemplo. Quem nunca se deparou com noticias que prometem curas milagrosas ou que deturpam o uso de determinados medicamentos? Pois bem, segundo estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), as notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras.
A disseminação dessas informações tem sido facilitada pela ascensão de boots (aplicativos que atuam na web como pessoas) e sites de notícias falsas aliados às plataformas de publicidade, mas são alimentadas por um fator primordial: a falta de informação. O levantamento feito pelo MIT mostra ainda que os cidadãos comuns são os principais responsáveis pela disseminação dessas notícias. O que, sem sombra de dúvidas, nos coloca como protagonistas dessa mudança.
Quer um exemplo prático? Você com certeza já deve ter sido impactado – seja via redes sociais, correntes de WhatsApp ou até mesmo notícias na mídia – por alguns mitos relacionados à saúde, como a vacina da gripe causa a doença, comer ovos é prejudicial para a saúde, entre outros. São questões que, sem nenhum aval de especialistas, são disseminadas e se popularizam num piscar de olhos nos meios digitais. Um estudo publicado pela revista Meio & Mensagem aponta que 42% dos brasileiros já compartilharam notícias falsas nas redes sociais. Em 2016, mais de 126 mil postagens de notícias falsas foram replicadas por cerca de 3 milhões de pessoas.
No mercado onde atuamos também temos vários exemplos de como notícias não fundamentadas podem ser prejudiciais e corroborar para percepções equivocadas sobre algumas práticas – muitas delas resultantes de anos de pesquisas e estudos que garantem segurança à saúde do animal. Por isso acredito que as Fake News têm potencial de atingir todo e qualquer segmento.
Diante desse cenário, como consumir e compartilhar conteúdo de forma consciente e responsável? Acredito que esse é um dos maiores desafios do nosso tempo. Enquanto usuários da rede, precisamos ter a convicção de que toda e qualquer informação compartilhada pode impactar a percepção de alguém sobre um determinado assunto. Por isso, é fundamental manter o radar ligado quanto às informações que acessamos e reproduzimos.
Já enquanto profissionais engajados com os propósitos de uma marca, nosso papel é trabalhar para que o produto ou serviço no qual apostamos tenha total aderência com as necessidades do mercado, sem que para isso perca sua transparência. É fundamental ter um canal que permita a comunicação de mão dupla com seus públicos, onde os mesmos possam sanar suas dúvidas ou compartilhar experiências. Somente com o esclarecimento do consumidor e com a rápida articulação contra as Fake News é que conseguimos fomentar uma comunicação efetiva.
É importante ressaltarmos que a internet não pode ser responsabilizada pela disseminação das Fake News. Isso pode acontecer por meio de qualquer plataforma de comunicação. Inclusive, vale lembrar que todos somos influenciadores nos grupos aos quais pertencemos. Seja sua família, amigos, colegas do trabalho ou da academia: em todos eles você pode contribuir para a tomada de decisão de alguém. Tenhamos a consciência da responsabilidade que temos enquanto propagadores de conhecimento e informação.
O conhecimento ainda se mostra a principal e mais eficaz ferramenta para que possamos combater a disseminação de novas Fake News. Portanto, disponha de uma comunicação transparente e eficaz, que dialogue com as principais questões dos seus públicos.
(Delair Bolis, gerente geral da Vallée)