A coleta seletiva e a reciclagem de lixo urbano em Bela Vista já existe há uma década. Mas é um serviço extremamente precário, modesto, muito aquém da potencialidade da cidade. E porquê? Por falta de investimentos e compromisso com esse serviço extremamente importante à cidade.
O Serviço de coleta, separação e reciclagem do lixo urbano em Bela Vista foi implantando em 2007 com um ponto de coleta e depois passou para a coleta de porta em porta. Um serviço que legitimou o município a ter uma Secretaria de Meio Ambiente descentralizada, com independência para gerenciar a política pública de meio ambiente no município. Além disso, graças ao funcionamento, mesmo que precário, da coleta seletiva, que Bela Vista teve direito ao ICMS ecológico, que aumentará os recursos ao município em mais de R$ 100 mil por mês.
Nesses 10 anos pouca coisa melhorou na Coleta e, principalmente, na reciclagem do lixo. A central de Coleta e Triagem do Lixo continua a mesma, completamente degradada, sucateada e só não está pequena para o trabalho por que a coleta de porta em porta também não aumentou.
Além de prestar um serviço ambiental e econômico à cidade, a coleta seletiva e a reciclagem são um excelente espaço para educação ambiental e de novos hábitos de convivência com o planeta.
Guerreiras
Para fazer esse trabalho de triagem do lixo coletado na cidade, sete pessoas trabalham diariamente recebendo, separando e prensando papelão, papel, plásticos, vidros e latas, que depois são vendidos e o resultado financeiro dividido entre os recicladores. Quem lidera essa equipe, desde o início, é Lucimar Alves Brasil, a Lúcia. Além da Lúcia estão na lida diária a Alice Fátima, Maria Aparecida, Rosangela Aparecida e os três irmãos Ralf, Alan e Alex Brasil.
Ganhos
São esses anônimos, que muitos veem como lixeiros, que prestam às duras penas esse serviço de vanguarda para a população de Bela Vista. A coleta seletiva e a reciclagem promovem ganhos importantes, o principal é o ganho ambiental, como o aumento da vida útil do aterro sanitário, que no caso de Bela Vista calcula-se que o trabalho dos recicladores evitam que mais de 20 toneladas de lixo vá para o aterro por mês. Esse lixo reciclado e longe do meio ambiente promove geração de trabalho e renda aos recicladores. Também não se pode esquecer dos ganhos educacionais, com o estímulo à mudança de hábitos e valores no que diz respeito à proteção ambiental e conservação da vida. Sem falar nos ganhos culturais: criação de novas práticas de separação dos resíduos, considerando que os materiais recicláveis permeiam por todas as atividades sociais. Por fim, os ganhos econômicos com a redução de gastos com aterramento dos resíduos.
Mas isso não é percebido em Bela Vista. Para se certificar disso basta ir à Central de Coleta e Reciclagem, onde funcionava o antigo matadouro da cidade, agora adaptado, para se perceber como a cidade trata a reciclagem. O local é improvisado, insalubre e se o Ministério do Trabalho fosse um pouco mais rigoroso, já teria interditado o local. A central e o Serviço estão completamente abandonados pelo poder público local. A prefeitura mantém um caminhão para a coleta de porta em porta, mas somente isso.
Reformas
Deste o início da atual administração que as recicladoras, a maioria mulheres, solicitam o apoio da prefeitura no sentido de realizar pequenos reparos nas instalações, para facilitar o trabalho das mulheres e até hoje, quase dois anos e nada foi feito. Uma das reivindicações é a construção de uma rampa de acesso à prensa para retirada dos fartos de papel e plásticos, os quais pesam em média 200 kg e essas mulheres têm que manobrar essas peças pesadas em um degrau de mais de 50 centímetros. Pedidos para isso estão no gabinete da prefeita desde o começo do ano passado. A separação dos resíduos poderia ser feita de forma tranquilo por meio de uma esteira, que não tem na central. Sempre foi feita sobre uma bancada de madeira improvisada. O banheiro também não funciona e o portão da Central está quebrado há anos e a prefeitura não atende a solicitação de conserto.
Campanhas
educativas
Isso tudo sem falar que até hoje a atual administração não fez uma campanha educativa sequer para aumentar a coleta seletiva. Os recicladores informam que o material que chega à central diminuiu a cada ano, pois a população não é estimulada e educada para contribuir com a coleta seletivo. Sem campanha educativa, a população deixa de participar e prefere enviar todo o lixo para o Aterro Sanitário.
A cidade de Bela Vista ainda não percebeu a importância desse trabalho. A população não sabe, na sua maioria, que a cidade tem uma central de reciclagem e que isso poderia ser bem melhor. Com a Coleta Seletivo todos ganham. Essa responsabilidade de fazer da cidade um exemple de Coleta Seletiva é da Prefeitura, afinal ela possui uma Secretaria Especializada, com arrecadação de taxas ambientais para serem reinvestidas em campanhas ambientais. Se não faz é porque não sabe o que deve ser feito; ou não quer; ou não tem compromisso; ou não tem noção da sua função pública e institucional.
A população e as organizações sociais da cidade precisam convencer o poder público da importância de fazer esses investimentos, de melhorar a coleta seletiva, de apoiar a Cooperativa de Recicladores e de realizar constantemente campanhas educativas. Não dá para ficar de braços cruzados e ver esse descaso sem se importar. Cabe à câmara de Vereadores fiscalizar esses serviços e chamar a atenção dos gestores sobre a importância de não dar as costas à coleta seletiva e reciclagem do lixo.
O alerta foi feito. Se você, que mora em Bela Vista, não se importar com as questões como essa, verá um dia esse serviço acabar, os recicladores serem expulsos e perderem seu ganha pão.
(Rosimar Silva, jornalista, fundador do SOS Rio Piracanjuba, ex-secretário de Meio Ambiente de Bela Vista e diretor do Instituto Altair Sales)