Nós humanos seríamos seres matemáticos? De certa forma sim, porque temos raciocínio dedutivo e assim, compreendemos os entes abstratos e as relações que se estabelecem entre eles. Então2w os entes e as coisas são abstratos? Não, mas é de forma abstrata que nos expressamos com os números, com as figuras geométricas e os símbolos diversos. A matemática é o código de compreensão que está acima de todos os idiomas e se aplica a todos os ramos de conhecimento, inclusive para explicar a engenharia do ser humano. Segundo Descartes, a matemática é uma ciência universal completa, que se presta a desvendar o próprio universo.
DAS QUATRO OPERAÇÕES
Então seriamos iguais às quatro operações aritméticas: somar, diminuir, multiplicar, dividir? Começando pela soma, descobrimos que temos pelo menos três identidades: cósmica, genética e cultural. Ao nascermos, já recebemos um número do universo em trânsito, já que os astros em movimento plasmam a nossa estrutura psíquica. É a nossa identidade cósmica, que chamamos de signo astral. De nossos genitores humanos herdamos a marca genética, que define nosso perfil biopsíquico, e assim permanecemos inclinados a ter atitudes atávicas. Em nós predominam mais carências que potencialidades, mais deficiências que eficiências, mais aparências que essências. Afinal, somos também personagens portadores de uma máscara social, que se define de conformidade com a nossa formação cultural constituída, ou não, de uma escala de valores com que nos aparelhamos (ou não) para o enfrentamento do mundo. Podemos então somar ou diminuir, multiplicar ou dividir todas as conquistas que alcançamos ao longo de nossa trajetória existencial.
SOMAR E MULTIPLICAR
Mas não seria bem assim, segundo nosso amigo coronel Motta, matemático e financista. Afirma, peremptoriamente que na verdade só existem duas operações: soma e multiplicação. E lança o mote: a subtração é apenas a inversão da soma e a divisão é apenas o reverso da multiplicação. Exemplos: cinco mais cinco chegam a dez, cuja metade volta a ser cinco. Três vezes cinco é igual a quinze que, dividido por cinco, é apenas três. É como dizer que o mal não existe, a não ser como ausência do bem, e que o errado só prevalece enquanto não se faz o certo. Com o mal e com o erro não se constrói nada: só com o bem e a verdade se aprimora a sociedade. Nessa ordem de ideias, optemos pela soma e a multiplicação no campo dos valores construtivos.
DAS NOSSAS
SUBTRAÇÕES
Assim como podemos somar, podemos também subtrair a nós mesmos e aos outros com nossas atitudes egoístas. A vida social é como uma gangorra, de peso e contrapeso, com extremidades que se equilibram, ou desequilibram. O que sobra para uns não pode ser a falta para outros. Seria antes preferível ao outro subtrair do quanto lhe excede para poder propiciar o essencial a quem o falte. Mas ninguém quer perder. Vivemos numa sociedade competitiva, voltada para o lucro. Doar não é perder, não é diminuir de si mesmo, é apenas somar para o outro. Devemos compreender que o outro é a nossa medida, que é preciso compensar a subtração com a soma, garantindo assim o equilíbrio da balança.
MULTIPLICAR E DIVIDIR
Da mesma forma é também preciso equilibrar o multiplicar com o dividir. Muito do que dividimos com nossos semelhantes rende frutos multiplicados para nós mesmos. O que só multiplicamos para nós, sem dividir, não soma para ninguém. Eis o sentido universal da matemática que não é dar a cada um, o que é supostamente seu, mas dar a cada um segundo a sua necessidade. Assim deveria ser a justiça: uma operação matemática. Deus fez o universo infinito e o homem o transformou em mundos finitos, rompendo os horizontes do ser em função do ter, contra o princípio da reciprocidade universal. Os homens transformaram a matemática como essência em uma simples operação como forma (ou fórmula feita). A essência soma e multiplica. A forma divide e subtrai. Por isso nos falta amor como solidariedade, por isso nos falta justiça como bem do outro.
(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa. E-mail: evn_advocacia@hotmail.com)