Desde que me entendo por gente, conheço a política como um símbolo da hipocrisia, das promessas mirabolantes, onde as pessoas prometem como sem falta e descumprem como sem dúvida.
Depois de décadas de vivência observando, vejo que a coisa deve ser proveitosa, pois gerações e mais gerações vivem aproveitando-se das benesses do cargo, formando oligarquias com deslavadas intenções de entrarem pobres e saírem ricas, transmitindo aos herdeiros as formas de se perpetuarem no poder.
Apesar de ter estudado e observado por décadas o comportamento humano, ainda não concebi a razão de um político gastar dez milhões em uma campanha quando os ganhos do cargo lhe rendem menos de um décimo do que investiu, levando o mais ignorante dos apedeutas a concluir que o cargo lhe renderá dinheiro grosso, pois ninguém investe pesado em um negócio que de antemão lhe dará prejuízo.
Não creio naquele que na época das campanhas abraça indiscriminadamente o rico e o pobre (mais o pobre do que o rico), tirando retrato com menino perebento nos braços e dando atenção a tudo quanto é vivente que representa um voto, sempre ostentando um largo sorriso de orelha a orelha, que nos deixa na dúvida se está rindo pra gente ou da gente.
Vejo, como a mais trivial das situações, as promessas mirabolantes de gente que só aparece sazonalmente, de quatro em quatro anos, como se trouxesse um embornal cheio de promessas irrealizáveis, pois com a atual crise, cada vez mais grave, não se pode garantir com certeza o pão de amanhã, que dirá uma vida alvissareira, como prometem os inescrupulosos semeadores de esperanças, pois prometer não custa nada, e descumprir faz parte da sua vida de cara-de-pau, que repete a dose a cada quatro anos na maior desfaçatez.
Podem me perguntar: e por que, desacreditando nos políticos profissionais, eu me arrisco a entrar justamente num meio que enxergo como o suprassumo do que abomino?
Porque aqui de fora, no papel de alimentador dessa situação com o voto que os mantem, nada posso fazer, se não me infiltrar nela para descobrir como corrigir as excrescências e combater de dentro para fora com conhecimento de causa.
Já neste início de campanha, vou avisando a pretensos eleitores acostumados a engordar as urnas com votos embrulhados em sinceridade suspeita, que não compro votos de ninguém, pois guardo muita coerência e não seria lógico combater o fato praticando o mesmo que combato; quem quiser mercar a consciência, que venda o voto pra outro, pois não quero agora, depois de uma longa vida limpa conspurcar minha consciência, sair da minha coerência em troca de uma cadeira macia na Assembleia.
Quem quiser ser meu seguidor, que seja coerente como sou, combatendo as mordomias, a profissionalização da política, que se transmudou de um serviço público em prol do cidadão para um meio de vida e de enriquecimento sem causa.
Quem compra voto emite um evidente sinal de que deseja manter esta situação propícia à podridão moral, pois a compra substitui a falta de ideias, e o eleitor que troca seu voto não poderá pleitear nada do Governo, porque já recebeu o milheiro de tijolos, a cesta básica e a dentadura que trocou pelo voto.
As redes sociais vêm batendo firme para que não se reeleja quem já detém mandato, mas não se pode ser tão radical, a ponto de considerar pilantras apenas pelo fato de um político estar ocupando mandato há vários anos: não é salutar fazer uma generalização, pois é preciso que se separe o joio do trigo, porque há políticos sérios, mas a minoria os leva a nada poder fazer.
Uma das formas de se fazer uma boa triagem para não desperdiçar o voto é o eleitor verificar a vida parlamentar de um candidato que pleiteia a reeleição, verificando se cumpriu as promessas de palanque, se apresentou projetos úteis ou se continua a denunciar o que fez na campanha e nada fez para corrigir.
Hoje existem aplicativos que permitem aferir a vida política de qualquer um: seu trabalho, sua assiduidade, o cumprimento de suas promessas, a parcimônia nos gastos e sobretudo o seu espírito público, pois é público e notório que em ano eleitoral é quando mais se inauguram obras, para procurar demonstrar trabalho, e aplaudir um deputado, senador ou governador numa inauguração equivale a aplaudir e dar vivas a um caixa eletrônico quando a gente retira o próprio dinheiro no terminal.
Serei um político à moda antiga, que procura honrar o voto, com realizações coletivas, e não com empregos e sinecuras, pois se no retrógrado Brasil o voto é obrigatório, não se lhe pode atribuir o condão de garantir a sobrevivência com um emprego.
Vamos consertar Goiás e o Brasi, mas não comprando promessas e vendendo consciência.
(Liberato Póvoa, Desembargador aposentado do TJ-TO, Membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras escritor, jurista, historiador e advogado, liberatopo[email protected])