Em meio aos sonhos de liberdade e autoafirmação soberana os tchecos ousaram aspirar um momento de reflorescimento de sua sociedade.
A chamada Primavera de Praga, com seu reformismo, tentou sair da bipolaridade política, ideológica e militar que ditavam as regras da geopolítica mundial.
Sua posição estratégica no mapa, que dividia a Europa, jamais seria negligenciada, uma vez que a disputa se dava de forma feroz, e nenhum lado admitiria a perda de qualquer palmo de chão.
No dia 20 de agosto de 1968 as rádios de Praga e de toda a Tchecoslováquia anunciavam o que já era esperado. Tropas da URSS ocupavam todo território pátrio; a primavera e suas ambições de um jogo político de ambiguidade chegavam ao fim.
As forças militares mostravam a supremacia e o poderio do bloco socialista ao mundo, e declaravam, firmemente, que não admitiriam a ingerência do bloco capitalista e nem a insubordinação de qualquer membro de sua esfera de influência e domínio.
O inverno rigoroso chegara à primavera.
Os traumas de duas guerras mundiais e o poderio bélico do Kremlin arrefeceram a resistência, que era inútil e irracional.
Entretanto, movidos por paixões alguns tchecos resistiram nos primeiros dias do frio intenso e da paisagem desoladora do inverno que se impunha.
Os líderes da primavera foram presos, os expurgos arquitetados no Partido Comunista foram suspensos, um acordo de realinhamento foi feito, e o restabelecimento da geopolítica na polarização dos blocos antagônicos foi mantido.
Era 1968. O ano das convulsões, da mudança de paradigmas, da contestação, da mudança comportamental; o ano das paixões.
A Tchecoslováquia e sua primavera inesperada e breve chegaram ao fim, como vários outros movimentos que marcaram 1968 que, por ingenuidade, desprezaram a força da ordem estabelecida.
Contudo, o que se deixa de lição não foram os ideais socialistas, mas os métodos muitos dos quais autoritários de Moscou que, pela força do processo histórico, com a ameaça constante dos americanos se viram obrigados a lutar também no território da força.
Enfim o inverno chegou.
(Henrique Matthiesen, bacharel em Direito, jornalista)