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OPINIÃO

A escravidão dos animais

Nós hu­ma­nos, mais hu­ma­nos po­de­rí­a­mos nos tor­nar se nos re­la­ci­o­nás­se­mos mais hu­ma­na­men­te com os ou­tros ani­mais não hu­ma­nos. O mun­do se­ria mais be­lo, o mun­do se­ria mais apra­zí­vel, o mun­do se­ria me­nos vi­o­len­to, e to­dos, ho­mens e ani­mais po­de­rí­a­mos  vi­ver na ab­so­lu­ta har­mo­nia. Ops, mi­nhas es­cu­sas pe­las aná­fo­ras.

Ao cer­to o que se tem é que a re­la­ção do ho­mem com os ani­mais vem de pri­mi­ti­vas épo­cas. Tal in­te­ra­ção de pro­xi­mi­da­de, ex­plo­ra­ção e ca­ti­vei­ro se ini­cia na nar­ra­ti­va bí­blia da cons­tru­ção de ta­ma­nha nau, a ar­ca de Noé .  Is­to sem  dis­pen­sar o em­pre­go da for­ça ani­mal. Im­pos­sí­vel .  Em fei­to tão ár­duo e dis­pen­di­o­so ne­ces­sá­rio se fez o uso de aju­da de tra­ção de ele­fan­tes. Por­tan­to, o seu re­co­lhi­men­to à ar­ca não se deu de for­ma gra­ci­o­sa. E mes­mo quan­do da sol­tu­ra da pom­ba pa­ra que ela re­tor­nas­se com al­gum ve­ge­tal em si­nal de ter­ra à vis­ta. Era o re­cuo das águas do di­lú­vio. Con­for­me nos re­gis­tra o Li­vro de Ge­ne­sis .

Fo­ra da con­cep­ção e tra­di­ção bí­bli­ca o tra­to do ho­mem pa­ra com os ani­mais foi sem­pre de mui­ta ex­plo­ra­ção, vi­o­lên­cia e maus tra­tos,  an­tes do que de am­pa­ro, pro­te­ção e cui­da­do. E tal re­la­ção de des­res­pei­to e ofen­sas não se ate­nuou, mes­mo  após a era in­dus­tri­al e têm-se as ex­pli­ca­ções.

Mui­to da ati­vi­da­de mo­triz se fa­zia às cus­tas de ani­mais. Pe­guem-se os exem­plos dos equí­de­os. Quan­tos ca­va­los e mu­a­res não fo­ram em­pre­ga­dos em ope­ra­ções de guer­ra até fins do sé­cu­lo XIX e iní­cio do 20. Mes­mo nos tem­pos di­gi­tais, com a evo­lu­ção do au­to­mó­vel, e até das na­ves es­pa­cia­is. Mui­tas na­ções, mui­tas pla­gas des­se pla­ne­ta, ain­da se mo­vi­men­tam com  mui­to em­pre­go da for­ça ani­mal. Em mui­tas re­gi­ões  inós­pi­tas da ter­ra ca­va­los e bar­ros (as­nos) são os prin­ci­pa­is mei­os de tran­spor­te hu­ma­no e de car­gas.

A pre­da­ção de ani­mais é ou­tro tris­te ca­pí­tu­lo que en­vol­ve os hu­ma­nos ver­sus ani­mais. Se so­mos ra­ci­o­nais de­ve­rí­a­mos usar des­se atri­bu­to su­pe­ri­or pa­ra pro­te­ger nos­sos ir­mãos não  ra­ci­o­nais. Se­jam eles bí­pe­des, qua­drú­pe­des ou mes­mo ápo­des por um de­sign de cri­a­ção. É o ca­so por exem­plo dos ane­lí­de­os, dos hi­ru­dí­ne­os, dos pei­xes e ofí­di­os. E mes­mo gran­des ma­mí­fe­ros. Bas­ta re­ver a bi­o­gra­fia dos ele­fan­tes, dos ri­no­ce­ron­tes e mui­tos ir­mãos pri­ma­tas. Mui­tos já fo­ram ex­tin­tos e ou­tros em vi­as de sê-lo.

Pa­ra ser bem re­a­lis­ta, até nos­sa mãe Lu­zia, de que ti­nha ape­nas um es­que­le­to fós­sil no mu­seu na­ci­o­nal do Rio de Ja­nei­ro. A Lu­zia, que vi­veu em La­goa San­ta MG, ti­nha qua­se 12 mil anos de ida­de. No in­cên­dio do mu­seu se trans­for­mou em pó, ou me­lhor em cin­zas. Não é que ela es­ta­va des­ti­na­da a tor­nar-se ao pó. Mas, pe­lo des­ca­so de au­to­ri­da­des bra­si­lei­ras, vi­rou cin­zas. Cum­pri­ram-se as es­cri­tu­ras sa­cras,  veio do pó e ao pó tor­nou-se. Gra­ças à di­gi­ta­li­za­ção, fi­ca­ram ao me­nos sua sil­hu­e­ta vir­tu­al e al­gum bus­to de ges­so.

O aba­te de ani­mais co­mo fon­te de pro­te­í­na na ali­men­ta­ção das pes­so­as re­ve­la-se em ou­tro con­de­ná­vel ce­ná­rio ado­ta­do pe­la so­ci­e­da­de hu­ma­na. Não que o con­su­mo de car­ne ver­me­lha me­re­ça re­pú­dio. O que se cri­ti­ca é a for­ma de cri­a­ção, de tran­spor­te e aba­te dos bi­chos. Tu­do se ini­cia pe­la for­ma, e pe­las con­di­ções on­de se dão o cres­ci­men­to e en­gor­da des­ses ani­mais. Mui­tas das es­pé­ci­es pa­ra tais fins são con­fi­na­das em cur­tos es­pa­ços, em con­di­ções de­gra­dan­tes, com ex­tre­mo des­con­for­to e in­du­ção de ga­nho de pe­so com sub­stân­cias ana­bo­li­zan­tes. O uso des­ses hor­mô­ni­os se tra­duz em um da­no aos ani­mais e às pes­so­as que vão se ali­men­tar des­ses pro­du­tos fri­go­rí­fi­cos con­ta­mi­na­dos. Ou­tros de­ri­va­dos quí­mi­cos na in­dús­tria fri­go­ri­fi­ca são as ni­tro­sa­mi­nas, ti­das e pro­va­das co­mo can­ce­rí­ge­nas.

Os maus tra­tos e con­di­ções de­gra­dan­tes na cri­a­ção de ani­mais pa­ra aba­te têm ou­tros re­quin­tes de cru­el­da­de. A exó­ti­ca car­ne de vi­te­la é ob­ti­da com a cri­a­ção de be­zer­ros em di­mi­nu­tos con­fi­na­men­tos. São tra­ta­dos com di­e­ta pa­ra que a car­ne fi­que bran­ca ou ro­sa­da e aba­ti­dos com 3 a 4 mes­es. O ani­mal não tem ne­nhu­ma mo­bi­li­da­de e não tem di­rei­to se­quer a to­mar sol. Es­ta e ou­tras for­mas de vi­o­lên­cia são  prá­ti­cas co­muns com ou­tros ani­mais co­mo por­cos e aves pa­ra pro­du­ção de car­nes es­pe­ci­ais.

Na pro­du­ção do “foie gras” (fí­ga­do gor­du­ro­so ou es­te­a­tó­ti­co) os pa­tos ou gan­sos são tra­ta­dos com uma son­da pas­sa­da pe­lo esô­fa­go da ave. O ani­mal fi­ca em uma gai­o­la e re­ce­be uma di­e­ta lí­qui­da con­tí­nua num sis­te­ma cha­ma­do ga­va­ge. Des­ta for­ma a en­gor­da do ani­mal e o fí­ga­do gor­du­ro­so se dão em pou­cos di­as. Tra­ta-se de um pro­ces­so pa­to­ló­gi­co, a in­du­ção de uma do­en­ça, cor­res­pon­de à es­te­a­to­se, en­con­tra­di­ça nos hu­ma­nos; so­bre­tu­do em obe­si­da­de avan­ça­da, di­a­be­tes e  ex­ces­sos ali­men­ta­res e al­co­ó­li­cos.  Só mes­mo os hu­ma­nos são ca­pa­zes de tais es­qui­si­ti­ces. Pro­vo­car uma do­en­ça no ani­mal e de­la se re­fes­te­lar de pra­zer  e sa­tis­fa­ção gas­tro­nô­mi­ca (sic).

As téc­ni­cas de aba­te dos ani­mais são ou­tras de­mons­tra­ções  da ba­na­li­za­ção da vi­o­lên­cia e tor­tu­ra por que pas­sam os ani­mais.

Mui­tos dos maus tra­tos, vi­o­lên­cia e cri­mes con­tra os ani­mais se fa­zem sob a dis­pli­cên­cia, sob a to­le­rân­cia, quan­do não com a chan­ce­la e omis­são de go­ver­nos e au­to­ri­da­des sa­ni­tá­rias e do meio am­bi­en­te. Um exem­plo pa­ra além do ab­sur­do se deu com um na­vio de car­ga vi­va em ou­tu­bro 2015, em Bar­ca­re­na PA, no Rio Pa­rá. Co­mo apu­ra­do, a em­bar­ca­ção em pre­cá­rias con­di­ções tran­spor­ta­ria 5000 bois pa­ra a Ásia. O na­vio nau­fra­gou an­tes da par­ti­da. As car­ca­ças dos 5000 ani­mais con­ti­nuam no fun­do do Rio Pa­rá. Nes­se trá­gi­co da­no à vi­da ani­mal e ao meio am­bi­en­te  na­da mais se fa­lou, os res­pon­sá­veis pe­la tra­gé­dia con­ti­nuam im­pu­nes. Tra­ta-se da mais ro­bus­ta e mor­ta pro­va do quan­to tem si­do a in­dig­ni­da­de, vi­la­nia, des­pre­zo e ne­gli­gên­cia dos mer­ca­do­res e au­to­ri­da­des nas re­la­ções com os ani­mais.

A in­sen­sa­tez e bru­ta­li­da­de em ques­tão de re­la­ções dos hu­ma­nos com os ani­mais vão  a um ab­sur­do de es­cra­vi­zar­mos mui­tos bi­chos, en­car­ce­rá-los, pren­dê-los em pei­as e co­lei­ras e re­fe­rir­mos a eles co­mo nos­sos ani­mais de es­ti­ma­ção . Ima­gi­ne­mos ago­ra o in­ver­so, se fôs­se­mos ado­ta­dos pe­los bi­chos ( vi­de A Re­vo­lu­ção dos Bi­chos , de Ge­or­ge Orwell). Já pen­sa­ram nis­so ?  Se vi­vês­se­mos   gui­a­dos por co­lei­ras e pre­sos em gai­o­las , em  es­trei­tos e con­fi­na­dos  apar­ta­men­tos . Tu­do fei­to pe­los bi­chos, nos­sos ani­mais de es­ti­ma­ção, que nos que­rem tan­to bem !  Já Ima­gi­nou !  Ou­tu­bro/2018.

(Jo­ão Jo­a­quim - mé­di­co - ar­ti­cu­lis­ta DM   fa­ce­bo­ok/ jo­ão jo­a­quim de oli­vei­ra  www.drjo­ao­jo­a­quim.blog­spot.com - What­sApp (62)98224-8810)

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