Participei do último pleito eleitoral em Goiás, concorrendo a uma cadeira na Assembleia Legislativa, ocasião em que obtive substanciosos 3.648 votos da forma mais limpa, transparente e honesta possível. Sem apoio do partido, que agora sei precisa ser mudado na legislação, nem do sistema eleitoral, mas apenas de alguns poucos amigos a quem sou sincera e profundamente grato. Muitos foram meus aprendizados neste processo, os quais guardo com alegria, mas um deles se sobressai por revelar uma mancha negra no processo eleitoral. É certo que cada candidato tem seu lastro eleitoral, um número médio de votos que o acompanham, seja de amigos, admiradores ou familiares. Mas isto só, via de regra, não basta para uma eleição. É preciso um plus. Este plus vem de forma honesta ou não. Mas independente do meio pelo qual chegará ao candidato, dependerá de dinheiro, estrutura e equipe. Daí o fato de que, muitos políticos no poder, os desonestos principalmente, cortejam a miséria. Esta é a tal mancha negra e dela vem a máxima que dá título a este artigo: a miséria é cidadã.
Encontra-se no dicionário eletrônico a seguinte definição de cidadania: condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política. Logo, apenas para clarear, o condenado que ainda não cumpriu sua pena deixa de ser cidadão, de acordo com artigo 15, inciso III da Constituição Federal, por ter suspenso seu direito à participação no sufrágio que definirá, periodicamente, os destinos políticos do Estado. Note, antes de seguirmos, que o condenado é afastado não porque a população quis, mas porque o colocou-se em condição marginal perante a lei, não cabendo, a meu ver, reclamação por tal medida.
Por outro lado, a miséria, embora não sendo uma pessoa, participa ativamente do processo eleitoral. Como? Mantendo uma massa populacional às margens de tudo que o Estado deve oferecer, em termos de trabalho que dignifica, saneamento, saúde e, principalmente, de educação, tornando-se, por isto mesmo, passiveis de serem facilmente manipulados e funcionando como um celeiro para capitação de voto à velha moda, do toma lá dá cá. Essa massa, embora visivelmente reduzida ao longo da história, tem servido à senhores desonestos que governaram o país. Entende-se assim porque do desinteresse em dar dignidade a estas pessoas. Este grupo, mal atendido pelo Estado paternalista instituído, serviu ao império, fornecendo mão de obra barata e subserviente, como serve à República canhestra de um país que ainda não amadureceu por completo.
É verdade que mesmo entre os menos favorecidos há pessoas esclarecidas e de méritos nobres que se sobressaem ao jogo com políticos malfeitores. Não se trata de generalizar, o que seria pretensioso. Trata-se do fato de que, a muitos políticos ainda no poder, a miséria é benquista. Para eles, indiferentes à mudança cultural do povo Brasileiro, manter a dependência seria um jeito fácil de ganhar as eleições. São tão obsoletos no agir que não percebem nem a evolução tecnológica que impacta a cultura nacional. Daí vem a liderança massiva de Jair Messias Bolsonaro sobre a candidatura de Haddad, como foi a de Caiado sobre seus oponentes, e da mudança que os políticos tradicionais não notaram no último pleito. Não se trata apenas de rejeitar um candidato e sua agremiação política. Trata-se, pela vontade da maioria, de rejeição à forma de fazer política e de governar. Poucos ainda se agarram à tutela do Estado como forma de alcançar o bem-estar social. Já a grande maioria quer oportunidade e dignidade. A mensagem que se tira aqui é uma: Não precisamos que o governo nos diga o que fazer. O que queremos é poder fazer. Neste passo, em breve a miséria não será mais cidadã. Não impactará o processo eleitoral simplesmente porque ninguém se servirá dela: Nem aquele que precisa de auxilio, nem aquele que ganha para servir.
(Avelar Lopes de Viveiros, cel RR PMGO, bacharel em Direito pela Universo, presbítero da Igreja Batista Renascer)