Para enfrentar o grande desafio da injustiça e assegurar a liberdade real, a prática e a ciência política passaram a elaborar um novo conceito de democracia. Não se trata apenas de eleger representantes para tomar decisões, legislar ou administrar em nome dos cidadãos, mas de assegurar aos múltiplos setores da população meios de participar, na medida do possível, da solução dos problemas que lhes dizem respeito. O regime representativo tradicional reduz a participação do cidadão à formalidade do voto. Mas, as tendências cada vez mais claras das modernas concepções políticas acentuam a importância básica da participação dos grupos sociais no processo político e na solução dos respectivos problemas. O caminho democrático é o diálogo, que constitui a própria essência da participação e o instrumento insubstituível do desenvolvimento político, econômico, social e cultural. As novas condições de vida coletiva exigem novas soluções. A história não volta atrás. Camadas cada vez mais amplas da população tomam consciência do caráter meramente formal e aparente de antigas fórmulas democráticas, em que a participação do povo é mais simbólica do que real. E, de outra parte, as nações tomam também consciência de que os regimes não democráticos são incapazes de resolver, de forma estável e permanente, os problemas fundamentais do país e de sua população. É preciso descobrir novos caminhos dentro da via democrática. E, entre os caminhos possíveis, a serem abertos através de reflexão e do trabalho das lideranças sociais, pelas novas gerações de homens públicos e de estudiosos da ciência política, situa-se a democracia participativa. Esta pode ser caracterizada como um modelo de organização democrática, fundado não apenas na representação popular, mas, também, na participação organizada e ativa da população nos assuntos de seu interesse.
A exigência de participação leva naturalmente ao tema da comunidade. Porque é através das comunidades reais, em que vive e atua, que o homem pode participar de alguma forma de vida social. Nenhum homem é uma ilha. Ele vive no seio de uma família. É empregado de uma empresa. Estuda numa escola. Mora num bairro. É associado de uma cooperativa. É membro de um sindicato, de uma associação, de um partido ou de um clube. É dentro das comunidades reais que ele vive e se desenvolve. Nas comunidades ele atua. É através das comunidades que ele pode participar da vida de toda a sociedade. Dentre as principais modalidades dessa participação das comunidades, podem ser destacadas: 1) no plano local - as associações de moradores ou vizinhos, centros comunitários, clubes de mães e outros movimentos populares. 2) no plano do trabalho - o movimento sindical, a participação dos empregados na vida das empresas e em outras instituições da comunidade. 3) no plano da juventude e da educação – os movimentos de jovens, sua organização e participação em órgãos colegiados da escola, e no debate de problemas sociais. 4) no plano político – a luta pela estrutura democrática dos partidos e pelo direito que deve ser assegurado às bases de participar das decisões partidárias, notadamente na elaboração de programas e escolha de candidatos. 5) Outras modalidades de participação, como as associações de defesa da ecologia e do meio ambiente, cooperativas, associações de consumidores, instituições culturais e outras formas de organização e defesa (não armada) de setores da população. E, num sentido mais amplo do conceito de comunidade, vamos encontrar a mesma tendência nos diversos planos da vida pública: comunidade municipal, comunidades regionais, comunidades continentais e, acima de todas, a comunidade mundial. Vamos, assim, desde a pequena comunidade familiar – a família é a comunidade-base -, até a grande comunidade mundial, que deve ser a família das nações. Portanto, define-se melhor como comunidade, uma área geográfica contínua, em que grupos mutuamente dependentes atuam em conjunto para satisfazer às suas necessidades, através de organizações e instituições comuns.
(Edmilson Alberto de Mello, escritor)