...que no Pará, há poucos dias, gritou aos quatro ventos e agora tem a ilusão do acolhimento. Receba, nos versos do poeta antigo, o conselho de quem viveu os mesmos tormentos: “Acostuma-te à lama que te espera..., o beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja”.
Ninguém certamente nasceu para ser juiz (que mereça o nome) no Pará, em Minas, em Goiás, Rio de Janeiro ou em qualquer outro Estado do País, da forma que está sendo.
Não nascemos para sermos perseguidos quando cumprimos nosso dever enquanto outros são louvados, reverenciados e promovidos por serem omissos e até corruptos.
Certamente não estava no desígnio do Criador que quem se devota a distribuir justiça com isenção e imparcialidade seja ele próprio um injustiçado, que tem por juízes seus algozes.
Também passou longe da vontade do legislador que o CNJ, que viria para garantir nossa independência funcional, tenha se aliado aos tribunais que deveria fiscalizar, transmudando-se em órgão de inquisição e patrulhamento ideológico, mais uma escada de acesso aos carreiristas.
Disse-o bem, cara colega, no Judiciário “Só se pensa na pompa e circunstância de ser juiz ou desembargador. Esquece-se que, acima de tudo, somos todos servidores públicos!
Mas isto não é só no Pará senão em todo canto, porque quem controla a justiça só tem que temer uma coisa: o escândalo.
Então, se você quer prosseguir nesta empreitada, que já sabe tão penosa, siga o exemplo de um colega que, desde Curitiba, antes de investir contra os grandes tratou de conquistar a opinião pública.
Por isso não se fie em quem, querendo abafar seu grito, vem agora em seu socorro, pois os tribunais, corregedorias, CNJ, associações, não são a solução de nada, mas partes do mesmo problema.
Um filósofo disse-nos um dia, falando sobre a carreira acadêmica, que a ela estaria apto quem não se importasse em perder o amor próprio e se conformasse, dia após dia, ser preterido pelo medíocre, que são justamente os que, segundo uma Ministra, comandam o Judiciário.
Enfim, nada de novo sob o sol, porque lembrando Rui Barbosa, de tanto ver triunfar as nulidades, agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, fatalmente chegaria o dia em que nos cansaríamos de sermos honestos.
Mas se este dia ainda não chegou, outra profecia igualmente tenebrosa há verificado, porque “A corrupção, a partir de certo nível, exige que todos sejam corruptos. Quem se recusa passa a ser alvo de pressões insustentáveis”.
E por falar em corrupção, que você disse sistêmica, das duas uma: ela só quer dinheiro de Brasília ou então os estaduais somos com ela coniventes, pois não fosse a Federal nem Sérgio Cabral enquadraria.
Bem vinda, portanto, cara colega, à realidade circundante!Mas, se lhe serve de consolo, saiba que não está sozinha, porque juízes há em toda parte que resistiram, mas ao violar um código secreto de honra que reza, “Que o bom cabrito não berra”, foram colocados de lado como escória.
Por isso não pode haver ilusões, a decisão de ir ou ficar agora é sua.
(Danilo Campos, juiz de Direito em Minas Gerais, aposentado em Montes Claros)