O espaço que mais da vazão à imaginação e criatividade é o da universidade. São nesses templos do saber que se discutem as realidades que ainda estão por vir. Os países desenvolvidos e suas centenárias universidades sabem disso e têm a consciência de que seus centros de ensino e pesquisa devem ser abertos e voltados para atender às necessidades da sociedade. Vejamos alguns exemplos.
As universidades norte-americanas são a fonte de onde os governos requisitam quadros para dirigir suas mais importantes instituições. Não conheço nenhum presidente do Banco Central Americano, do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial que não tenha suas raízes nos grandes centros acadêmicos daquele país.
Não foi por acaso que um jovem e brilhante professor da prestigiada Universidade de Chicago, Barack Obama, veio a ser o que foi: presidente dos Estados Unidos. Era com orgulho que outro presidente norte-americano, George Bush (filho) propagava suas estreitas ligações com a Universidade de Yale. Praticamente, todos os planos e políticas públicas de governo nos Estados Unidos foram concebidos por gente criativa e inovadora oriunda dos grandes centros pensantes norte-americanos.
A Europa seguiu o mesmo rumo dos Estados Unidos: o de cooptar talentos em suas instituições de ensino e pesquisa para exercerem cargos no governo. Veja o caso da França. Lá, na terra do grande escritor Victor Hugo, a empresa símbolo do orgulho francês ? a Eletricité de France ? é completamente blindada contra qualquer interferência política. Entra governo, sai governo, e os quadros técnicos dessa empresa são recrutados nas melhores universidades francesas. O mesmo se pode constatar nos ministérios de vários governos daquele país. Nestes, os ocupantes dos cargos sempre têm um pé dentro das universidades.
Nos países subdesenvolvidos, a mentalidade é diametralmente oposta. Nestes, as universidades, geralmente, são um mundo voltado para dentro de si mesmo. Por isso, os centros pensantes pouco contribuem para sanar as demandas sociais mediante boas políticas públicas. No Brasil, estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco costumam buscar em suas universidades talentos para comporem os governos. Mas essas são exceções que confirmam a regra.
Nos meus tempos de Unicamp, testemunhei professores como José Serra e Luís Gonzaga Belluzo se licenciarem da instituição para servir os governos estadual e federal. A Unicamp teve presença marcante nos projetos da prefeitura de Campinas. Jurandir Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica, foi secretário municipal e estadual dos transportes. Gastão de Souza Campos, professor da Faculdade de Medicina, foi secretário da saúde de Campinas e, posteriormente, chegou a ocupar, também, o Ministério da Saúde.
Em Goiás, a face mais visível de nosso subdesenvolvimento, manifesta-se no apartheid existente entre nossas universidades e a sociedade. Nossos governantes não cooptam talentos existentes em centros de ensino e pesquisa como é o caso da Universidade Federal de Goiás.
Com isso, secretarias que requerem, no seu comando, gente imaginativa, como é o caso da Secretaria do Planejamento, jamais cumprem sua missão de direcionar as ações de governo rumo à construção do futuro. Sem liderança imaginativa nada se constrói. Quais são as políticas energéticas, de saúde e de transportes do atual governo? Sinceramente, desconheço.
Tantos bons pesquisadores da Escola de Engenharia, do Instituto de Matemática e Física (IMF), da Faculdade de Medicina que estão mais que habilitados para se tornar excelentes secretários e presidentes de empresa.
Infelizmente, a política goiana pensa pequeno e a curto prazo. Carecemos do estadista com a visão adequada que, para a construção do futuro, nossas universidades têm de ser inseridas no processo de desenvolvimento do Estado.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético pela Unicamp)