“As opiniões são como vidraças. Olhamos através delas mas elas nos separam da realidade”. ( Gibran Kalil Gibran ). A vontade espiritual vence sem derrotar ninguém. Com esta frase é possível sintetizar o conteúdo da palestra proferida em Goiânia, a convite da Sociedade Teosófica, pelo jornalista e escritor Carlos Cardoso Aveline.
O tema de sua brilhante palestra foi sobre o Anthakarana – a ponte entre a mente concreta e a mente abstrata, representando a união entre o ponto mais baixo da menete abstrata e o ponto mais alto da mente concreta, capaz de promover a conexão com nosso Eu Superior. Para Aveline, “Se não tivermos um bom contato com nosso eu imortal teremos problemas em nossas relações com os mestres de sabedoria.
Há um centro de paz no coração do Ser”. O palestrante citou, a propósito do senso de bondade para com os outros e compaixão pela terra, uma frase de Henry David Thoreau: “De nada adianta ter uma bela casa se eu tiver um planeta saudável e decente, onde possa colocá-la”. Isto é consciência planetária.
Estar bloqueado, nesta busca de conexão com nosso Eu Superior, é ser rigoroso com os outros e indulgente consigo: “A mais dura tarefa é ser rigoroso consigo e generoso com os outros. Esta ponte para o Eu imortal da criatura humana deixa de alcançar seu propósito de elevação da consciência “quando a pessoa fica triste com a vitória dos outros, ou se alegra com a derrota de outrem.
As leis que regem a distribuição da energia divina não beneficiam as pessoas que só pensam em ajudar a si mesmas. Todos nos imaginamos gênios, só faltando que o resto da humanidade seja avisada de nossa genialidade”.
A conexão com nosso Eu Superior vai bem quando há alegria sem que alguém esteja alegre, e quando há tristeza sem que alguém esteja triste, assinala o teósofo e escritor Carlos Aveline. É quando sentimos amor sem que exista alguém a quem possamos dirigir o nosso amor: “Ninguém pode dizer que tem a escritura do ar da chácara que comprou, menos ainda pode possuir a energia da Vida – tal substância inominável transcende toda palavra ou pensamento que tenham origem no intelecto humano.
Tudo o que vale a pena ser buscado não é passível de ser propriedade particular de ninguém. A quem pertence a lua? A quem pertence a atmosfera ou o espaço sideral, em que viajam os planetas e as estrelas? Como se pode vender o ar das montanhas e o fluir dos rios e lagos?”.
Por toda parte percebe-se a obsessão das pessoas em fugir do silêncio. Em clubes campestres, lugares bucólicos onde a canção dos pássaros seria capaz de lembrar a paz interior, de que tanto precisamos, só se ouve o ruído incessante de ruídos enervantes, a que chamam de música. Por que as pessoas têm tamanha dificuldade em conviver com a solidão e ouvir a voz do silêncio?
Para Aveline, “A pessoa que tem dificuldade em ficar em silêncio e solidão é porque pensa que existe o silêncio e a solidão – isto vem da heresia da crença no eu, e da sensação de separatividade. Não há nada separado no universo, embora hajam coisas distintas.
A diversidade não nega a unidade. Para se ver se a pessoa está bloqueada em seu Anthakarana basta ver como ela se alimenta – e não está nada bem quando come a sobremesa com gula e avidez”. Como Cada um de veria o quanto poderia ser melhor do que é, se compreendesse que cada aspecto da vida em nosso cotidiano retrata o nível ótimo, satisfatório ou sofrível de nossa caminhada em busca da conexão com nosso Eu Superior.
(Brasigóis Felício, jornalista e escritor. Ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de Letras, e integra os quadros de outras entidades culturais)