Pós primeiro turno das eleições de 2018, a dicotomia direita/ esquerda se instaura mais uma vez. Resta nos perguntarmos o que cada polarização defende e para quem defende. Mills já apontava em “A elite do poder”, ao final do século XIX, as altas rodas (elite militar, política e econômica), e sua naturalização de uma sociedade desigual, dominada pela elite e por seus próprios interesses, onde a hierarquia sempre foi um fator dominante, e como consequência, a impossibilidade democrática e a centralização do poder em uma minoria que não se interessa pelas massas.
Em pleno século XXI, pensar a democracia é um desafio, que começa na epistemologia da palavra: “Governo do povo”. Isso significa que o cidadão comum deve ter influência direta no processo decisório, tal como ter participação e igualdade política. Este é o momento de refletirmos como garantir que essa definição se aplique de forma concreta, e à qual classe pertencemos. Essa garantia, acima de tudo, tem início nas urnas, onde cada eleitor, secretamente, depositará seu voto para o segundo turno, definindo o futuro do país.
Assim, alguns fatores históricos devem ser relembrados: Em primeiro, o golpe de estado em 1964, que redefiniu todo o panorama econômico, político e democrático do Brasil, censurando a oposição, negando a liberdade de imprensa, assassinando e exilando inocentes, e impedindo que famílias enterrassem suas vítimas, em um regime autoritário, repressivo, impopulista, baseado na tortura e na detenção do poder. Por segundo, o sufrágio feminino: a conquista das mulheres ao voto, pós movimentos e lutas, conquistado em 1932 e incorporado à Constituição em 1934. Por último, a redemocratização do país, em que o regime militar transitou para uma nova história republicana, que permitiu a abertura para espaços de discussão pública e consequentemente de implementação de políticas públicas e sociais. Vale lembrar que essa nova democracia sofreu um golpe em 2016, quando a presidenta eleita Rousseff, foi deposta por ingovernabilidade num parlamento de elite.
A emergência da democracia (Sen, 1999) é o ponto de partida para entender que a fragmentação do processo democrático dá abertura aos riscos da implementação de novos regimes autoritários, que tiram os direitos do trabalhador, da mulher, da comunidade LGBT, dos negros, indígenas e de todas as minorias que diariamente lutam contra a hierarquia no poder, e contra a desigualdade social, de renda e de direitos, onde só a elite é privilegiada. Minorias essas que morrem todos os dias, de forma cruel, injusta, agressiva e odiosa. Eleger um candidato que legitima discursos machistas, racistas, homofóbicos, conservadores, xenofóbicos e de ódio, é uma ameaça à democracia construída à base de lutas das massas, em que o desejo e o direito do cidadão comum é participar do processo político que determina seu destino. O que é perceptível na descrição de Burckhardt sobre os homens de elite: “São tudo que nós não somos.”
Em um período onde beiramos à morte da democracia, percebe-se à necessidade da consciência de classes e acima de tudo, considerar Levistsky em suas palavras: “Se um candidato, em sua vida, carreira política ou durante a campanha, defendeu ideias antidemocráticas, devemos levá-lo a sério e resistir à tentação de apoiá-lo, ainda que, diante de circunstâncias momentâneas, pareça ser uma opção aceitável.”
(Laura Quaresma, discente de Ciências Sociais, bacharelado em Políticas Públicas - FCS/ UFG)