Há momentos na vida que nos deixam acreditar que estamos habitando num mundo diferente, onde só existem o respeito, a verdade, o bem e o amor. Eu mesmo já vivenciei alguns desses momentos agradáveis, no meu passado de criança, que permanecem vivos na minha lembrança e no meu coração, como bênçãos celestiais. Falo da convivência amorosa com meus inesquecíveis pais, Salvador e Dalva, das vezes que estive com vovô Lôra, na sua Fazenda Lameirão, quando tinha menos de dez anos, onde ficava encantado com suas serras da cor do firmamento, de seus regatos de águas cristalinas, dos buritizais ululantes com seus cachos amarelados e próprios para o fabrico de doces e outras iguarias, das frequentes visitas que fazia à nossa querida Fazenda Chuva de Manga, de então, quando contemplava, embevecido, a beleza de seu Rio Palma, de águas límpidas e profundas, do verde encantador de sua Ilha Rainha, de suas lagoas, a grande e a pequena, repletas de piaus, lambaris e outros peixes, de suas matas e cerrados ricos de frutas de toda espécie, das caças em quantidades variadas, das aves, as mais diversas, e de suas várzeas, lindas e extensas, onde porcos se alimentavam de pequenas raízes. Falo, também, de maneira especial, das conversas alegres e descontraídas com nossos sempre lembrados vaqueiros Luiz Xavier dos Santos e seu filho Constantino e com a esposa deste, Sinezina Canela, uma mulher de alma e coração puros e das visitas amáveis de nossos vizinhos Patrício Pereira Santiago, Benedito Ribeiro de Menezes e Cândido Pereira Borges, todos já octogenários naquela época, ocasiões em que me relatavam fatos interessantes de outro tempo, que os recolhi no escaninho de minha memória, como joias preciosas, que até hoje ainda são muito úteis na minha vida como valorosas lições, de que não me esqueço. Esses homens, vale dizer, não tinham a sabedoria dos livros, mas possuíam o saber do povo, no que existe de mais gratificante e elevado. Por isso, eram queridos e respeitados.
Como eu era tão feliz naquela época e não sabia avaliar, adequadamente!
Somente muitos anos depois, já aqui em Goiânia, é que vim conhecer o outro lado da vida, de muitas dificuldades e desencontros. Mas venci, com as graças de Deus e o apoio de grandes homens e hoje considero-me uma pessoa feliz. Feliz comigo mesmo, feliz com a minha crença religiosa, feliz com a minha família e feliz com os meus amigos. É o que basta para continuar andando, com segurança e serenidade, neste mundo de tantas privações, incertezas e dúvidas.
Por fim, à parte do conteúdo deste texto, a mensagem que me agrada passar, a quem queira aceitá-la, é a do amor, não do ódio, do apoio, não da cobrança, do auxílio, não do desamparo, do conforto, não da aflição, do apreço, não do tormento, do perdão, não da vingança, da união, não da dispersão, não ficando, pois, eu a remoer as coisas negativas do passado, mas construindo as pontes e alicerces no presente e para o futuro, com palavras, gestos e atos benfazejos. Essa é a melhor maneira de vivermos bem com a nossa própria consciência e com o próximo, que é nosso irmão, independentemente de cor, sexo, opção religiosa e poder econômico, como nos ensinou o doce, amável e justo Rabi da Galileia.
(Sisenando Francisco de Azevedo, advogado, escritor, historiador, articulista do DM e membro da Associação Goiana de Imprensa – AGI)