Ao poeta Ursulino Leão (Goiânia, 1995)
Sua crônica do dia 30 tinha mensagem dirigida ao seu modesto amigo.
Não sei se tenho condições de dirimir as dúvidas levantadas pelo senhor, principalmente quando a narrativa envereda para o lado poético da vida.
Penso, de antemão, respondendo ao seu questionamento, que o senhor terá, quando questionado, que definir o “seu caso“ de várias maneiras, de acordo com o interlocutor, senão vejamos:
- Para um médico não especialista em coloproctologia, porém afeito a nossa hermética nomenclatura, o senhor dirá tratar-se de um pequeno polípo hiperplásico.
Esta resposta satisfará a possível curiosidade do esculápio, pois, pelo fato de considerar o senhor, aliás, como todos nós consideramos, um homem "letrado", capaz de esmiuçar qualquer assunto, se fosse o caso, poucos se aventurariam a entrar nesta areia movediça de prolongar a discussão.
- Para os seus amigos rotarianos, como dizia meu falecido tio João Sampaio, um pessoal mais “filosofado”, o senhor diria simplesmente que foi operado de um polipo intestinal.
Não tenha dúvida de que iriam ao Aurélio buscar o significado do vocábulo e ali matariam a curiosidade:
Polipo: neoformação pediculada que surge na membrana mucosa. Provavelmente alguns tentariam aprofundar um pouco mais na pesquisa, creio que o desaguadouro natural seria o Dr. Abilio Maranhão, também rotariano e beletrista da nossa classe médica. Se o interlocutor, realmente, desejasse ir ao fundo da questão, Dr. Abilio lhe informaria que na página 197 do livro “Linguagem Médica” escrito pelo Prof. Joffre Marcondes de Rezende, o assunto esta discutido com detalhes. Aliás, é bom que se realce, como informa este nosso Professor, não existe ainda um consenso de como pronunciar a palavra polipo, se com acento no ( i ) ou no primeiro (o).
Aposto que não voltariam a fazer-lhe novas indagações !
- Para os seus vizinhos de fazenda, acho que a expressão “nó na tripa”, como o senhor mesmo sugere, seria realmente a ideal.
Esta “doença” (nó nas tripas), há alguns anos, era tida como acontecimento muito grave e o indivíduo que tivesse este problema, teria muita chance de visitar a “cidade dos pés juntos”.
Como o senhor está tão bem disposto, até com alguns quilinhos a mais, vai passar a fama de ser indivíduo extremamente forte e gozando de grande proteção Divina. O senhor sabe que esta fama corre mundo na boca dos vizinhos ...
- Para os seus pares da Academia de Letras, eu concordo, como aliás o senhor sugere, que devêssemos enveredar a discussão para o lado da poesia das flores .
Inicialmente, por uma questão de etimologia e para não provocar ciúmes na natureza, creio que deveria ser, pelo menos considerado para discussão, em primeiro lugar a samambaia, pela semelhança dos termos - polipo e polipodiáceas ( apelido dado pelos botânicos a esta planta tão simpática).
Como existe cerca de 3.000 espécies de samambaias e como acredito que todas elas são mais ou menos semelhantes, eu preferiria a espécie samambaia-douradinha, cultivável em qualquer xaxim, mantendo-se sempre verde e viçosa.
Por outro lado, o senhor tem razão, todas as vezes que colocamos uma flor nas nossas discussões, abranda-se qualquer pensamento negativista.
Entre todas elas, prefiro a rosa, por ser a mais exigente, escolhendo com cuidado o terreno onde poderá florir.
Se o seu intestino foi escolhido para servir de moradia para este monumento da natureza é bom sinal, pois toda flor perfuma o ambiente ao seu redor
Finalmente, para os Jornalistas, o senhor precisaria ser um pouco mais explícito, eles necessitam de um pouco de sensacionalismo.
O grande poeta Ursulino Leão ter sido operado e continuar vivendo, não é noticia para manchetes de jornais.
Se eu fosse o senhor, colocaria um pouco de “sal” nas informações:
- Fui operado de divertículo por um cirurgião famoso de Goiás (a expressão "famoso" o senhor dirá como muita ênfase, para acharem que o seu caso mereceria, realmente, uma manchete nos jornais), ao qual não tenho autorização para declinar o nome pois ele acha que vocês não lhe dariam mais sossego.
A cirurgia foi semelhante a do Tancredo Neves, foi retirado um pequeno polipo (também igual a do Tancredo) e consegui sair são e salvo, sem a necessidade de conseguir um porta voz para narrar minha via sacra.
Dr. Ursulino, posso lhe revelar um segredo?
- " Há pessoas as quais quero bem, porém, gostaria de ter a capacidade de querê-las muito mais! Um exemplo? Dr. Ursulino Leão!
(Hélio Moreira, membro da Academia Goiana de Letras, Academia Goiana de Medicina, Instituto Histórico e Geográfico de Goiás)