A criação do espaço para a acomodação do universo, até o ponto em que alcança o nosso conhecimento, remonta à ideia de concepção do próprio universo e do que nele se insere. Logo nos vêm as perguntas: o que havia antes do espaço? Apenas uma abstração (ideia) para a criação do mesmo? Sendo assim, esta ideia estaria alocada onde? Em algum metafísico cérebro onipotente e onisciente? E qual seria o seu propósito? Perguntas que os limites racionais e espaciais da inteligência humana não responderam até o momento.
Segundo os modernos conhecimentos físicos e astronômicos, concomitantemente à origem do espaço, criou-se o tempo. Este, também, reconhecido por muitos cientistas como uma mera abstração. Na verdade, o que existiria de fato é tão somente o lugar (espaço) em que as coisas evoluem em ciclos, à semelhança de uma peça teatral, onde cenário e atores são substituídos de tempos em tempos.
Assim como um escritor imagina o ambiente em que vai desenvolver a sua estória, também o fez a imaginação deste esplendoroso cérebro onipotente e onisciente. Se tal cérebro caracteriza-se pelos atributos referidos, sua supremacia estaria em todo lugar, logo o abarcando, sendo, desta feita, o próprio espaço, o universo nele subjacente, bem como o detentor de todo conhecimento possível. Mas a partir desta ótica, teríamos de adentrar os campos metafísico, filosófico e religioso, o que demandaria outras vertentes, as quais não é o propósito deste ensaio.
Segundo a teoria do Big Bang, o espaço sideral teria sido criado, concomitantemente ao tempo, a partir de uma descomunal explosão, em um ponto mínimo de densidade absoluta e gravidade zero, e continua a se expandir. Portanto, ainda está sendo criado, visto que se expande continuamente. Se isto de fato ocorre, as forças que o expandem devem ser extraordinariamente poderosas ao ponto de empurrarem os grilhões (Seriam os grilhões da imaginação do mega cérebro?) que delimitam o próprio espaço. Mas, a partir de tais conjecturas, deduz-se que chegará o tempo em que estas forças se arrefecerão, o movimento cessará e tudo ficará estático, preso dentro de seus limites, isto é, em uma bolha definitiva. Assim, é de se pensar que outros universos, em outras dimensões, estejam evoluindo (ou estáticos em bolhas) pelo mesmo processo de formação.
Em escalas menores, foram sendo criados outros espaços para a acomodação do que surgiu com a evolução expansionista do Big Bang. Milhares de galáxias, sóis, buracos negros, constelações, satélites, planetas e demais astros ocupam o espaço-mor, mas configuram e abarcam, por sua vez, espaços secundários onde energia e matéria se interagem.
Entre os planetas, a Terra é a nossa casa, isto é, o espaço em que os componentes da natureza residem, entre eles seres vivos dos reinos animal e vegetal. Sem descartar o reino mineral, com seus cursos de águas fluviais e oceânicas, montanhas e cordilheiras etc, espaços contendo as composições geológicas fundamentais para que seres dos outros reinos prosperem. Para acomodar os mares, houve necessidade das depressões abaixo do nível da terra, sendo as águas oceânicas o lugar perfeito para vicejar toda flora e fauna marinha. Em uma cavidade de uma escarpa no pico de uma montanha, acomodada no espaço do seu ninho, a ave de rapina observa a vastidão da planície, para capturar a presa cujas vísceras preencherão o faminto espaço estomacal dos seus filhotes.
Nosso planeta é verdadeiramente um útero abastecido dos nutrientes primordiais para que a vida nele prospere. Por outro lado, úteros menores, de várias espécies de animais (e de algumas plantas) desenvolveram nos seus espaços diversas formas de vida, que se multiplicaram. Coube, entre tantos, a um espaço sagrado, o útero da mulher, o lugar onde, ternamente, nós, seres humanos, racionais, fôssemos gerados. Uma vez formado, no corpo humano desenvolveram-se os espaços internos para a acomodação dos órgãos vitais que, por sua vez, tem os seus próprios espaços. No espaço craniano, reina o cérebro; no espaço sensorial, a alma.
É comum a luta por espaço em uma sociedade competitiva, onde a batalha pela sobrevivência é ferrenha. Com efeito, é preciso, mesmo a duras penas, criar o nosso espaço, tanto socialmente quanto nos campos afetivo, profissional e cultural. Porém, sem a democratização das oportunidades e meios de realização individual e coletiva, o que tanto contribui para a harmonia social, outros espaços indesejados foram surgindo para que neles se “abrigassem” os marginalizados, os excluídos econômico e socialmente, hordas de desamparados, criminosos, dependentes químicos etc. Enfim, espaços estes gerados pela incúria do próprio homem, negligente na efetivação de espaços humanitários, onde se desenvolve positivamente o indivíduo e a sociedade.
Alguns homens, cujos poderes são outorgados por outros homens, vão ocupar espaços políticos primordiais para que os representados tenham cidadania e melhor qualidade de vida. Nos cérebros decisivos dos governantes, sinapses cruzam-se freneticamente, em decisões essenciais para que os representados conquistem os seus espaços. Isto quando o pensamento deles é direcionado para o bem, caso contrário, o resultado será nefasto aos anseios legítimos do indivíduo e da sociedade. Assim, no espaço do pensamento de alguns pode estar o destino de muitos homens, assim como o do planeta onde habitamos.
Quando alguém, no auge da irritação diz: Ora vá ver se estou na esquina! Ou quando se tem a impressão de que já esteve em outro lugar, em outro tempo, são possivelmente variações mentais da dimensão espaço/tempo. Ora, ninguém ou qualquer objeto pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, caso isto ocorra estará fora da percepção humana. Mas a ciência debruça-se sobre a filosofia epistemológica no intuito de desvendar outros espaços até então desconhecidos, mesmo em dimensões metafísicas, o que em muito contribuiria para a redefinição de seus rumos, bem como da cosmovisão humana e do seu destino final.
O homem é o único animal que, em plena consciência, tenta conquistar o seu espaço (ganhar a vida) caminhando inexoravelmente para a morte. O destino transcendental, se é que existe, deve inserir-se, com efeito, num espaço metafísico até então desconhecido e temido pelo homem. Este, apesar de racional, tem como uma das suas principais ambições, no campo temporal, adquirir espaços pomposos ou extensos, como por exemplo, mansões e fazendas. Porém, num átimo, tudo cai por terra... Todos os seus desejos e projetos são interrompidos quando, involuntariamente, vê-se (Será?) alocado em exíguo espaço sob a terra, mas o bastante para o recolher ao eterno e merecido repouso.
(Joaquim de Azevedo Machado, professor/escritor/poeta – jazevedo@hotmail.com.br)