Nos agarrar a afirmação de que as fake news são criações da nossa “modernidade”. As notícias falsas ou as “mentiras que se tornam verdades” existem muito antes do advento da Internet. Moderna mesmo é a forma de disseminação utilizadas pelas redes sociais para espalhar as notícias falsas. As fake news usadas, sobretudo, de modo sensacionalista e pretenciosa, saltam do mundo virtual para alterar ou pelo menos encobrir a realidade material em tempos de pós-verdades.
Segundo o historiador americano Robert Darnton, em entrevista concedida à Folha Digital (19/02/2017), afirma que a existência das mentiras intencionadas data de pelo menos desde o século 6. A “Anekdota” utilizada por Procópio do império bizantino, foi uma das maiores fake news responsáveis por declinar o imperador Justiniano. No século 16 o jornalista Pietro Aretino, na Roma de 1522, utilizou poemas curtos e hilariantes conhecidos como “pasquinadas”, para difamar, caçoar, atacar e chantagear personagens religiosas e figuras públicas do império romano.
Na semana em que se comemora o dia do professor é preciso ressaltar que a História faz parte da nossa história e é a ela que recorremos sempre que identificamos semelhança e dessemelhanças nos fatos. A importância do professor e do ambiente escolar não é, ainda, menos importante que o ambiente virtual, apesar de ser uma ferramenta extremamente útil na “alfabetização”. O universo virtual tem se tornado propício, não somente para a disseminação das chamadas fake news, como também tem se configurado uma versátil e estratégica ferramenta de disputas hegemônicas, e ainda um forte instrumento na substituição do debate público.
Sem indícios de que haverá diminuição das disseminações de mentiras a questão que se coloca é: como frear a devastação que as fake news promovem. Se até em países com altos índices de escolaridade têm encontrado problemas para checar a credibilidade de informações, imaginem em um cenário como o da nossa sociedade. O nosso país, de extensão continental, distribui de forma desigual as nossas riquezas produzidas. Produzimos muito para poucos e desse muito, quase nada, para muitos. No Brasil uma desigualdade infindável persiste para nós trabalhadores.
O nosso modo de produzir a vida nega aos desvalidos desde o acesso a tratamento básico de esgoto ao acesso mínimo a pelo menos uma refeição diária decente, digna, saudável, equilibrada nutricionalmente.
Apesar do Brasil ser o 4º país em usuários de internet com aproximadamente 69% dos brasileiros com acesso ao mundo virtual, o quantitativo de analfabetos é alarmante. O analfabetismo supera a casa dos 11 milhões, segundo IBGE. De modo que, o nosso modo de produzir a vida, afasta em torno de 25 milhões de jovens entre 14 a 29 anos da escola/universidade (IBGE, O Globo, 21/12/17). Com esses índices fica cada vez mais distante a possibilidades de que esses usuários se proponham a ações de checagem de credibilidade dos noticiários.
Ou seja, impor às notícias fakes news qualquer ponderação crítica ou o benefício da dúvida. Desse modo, o combate ao analfabetismo tanto o das letras, quanto o funcional me parece ser a via de combate às fake News e ao sensacionalismo. Contudo, pouco provável sem uma mudança cultural e sem passar por uma educação de massa séria, de qualidade, laica, universal e gratuita. Esse tipo de educação que está ameaçada de extinção por projetos que canalizam cada vez mais a iniciativa privada, para a qual os jovens trabalhadores empregados ou desempregados só terão passagem por meio de mais um produtor de desigualdade: o voucher pedagógico.
Ainda que nos ofertem a cicuta, assim como na Grécia de Sócrates, professores como eu, seguiremos lutando para que os saberes se fundem nos fenômenos e nos fatos da realidade. Longe de sermos doutrinadores, como querem nos fazer parecer os sectários fundamentalistas, somos educadores que desejam uma sociedade onde a VIDA dos trabalhadores, pobres, periféricos, negros, indígenas, quilombolas, LGBTs, mulheres e crianças importam. Esse bilhete não é fake.
(Magda Borges, professora de História, marxista, integrante do Núcleo de Mulheres Ana Montenegro)