... “Parei! Chegando havia algo ao cimo da montanha/aspérrima e tamanha/ o sol morreria além/ Parei! Sentei-me só à beira do caminho/ sentei-me ali sozinho/ eu só e mais ninguém/ Olhei atrás e avante, os largos horizontes/ que debruçavam nos montes/ e longes por além/ de branco azul e fogo e púrpura toucados/ diziam contristados: / Tu só sem mais ninguém”. Félix de Bulhões, poeta, sensível e apaixonado por Goiás, deixou registrado toda a essência do sonhar vilaboense, da cidade cor de prata, de luar banhada. Cidade dos outeiros, a velha capital!
Goyaz, Goiaz, Goiás!
Os viajantes estrangeiros que conheceram a velha Capital de Goiás destacando-se Johan Emmanoel Pohl, Augustin François César Provençal de Saint- Hilaire, em épocas próximas, descreveram a cidade em diferentes aspectos, constituem, hoje, documentação preciosa. Todos eles, no conjunto, resumiram a história, discutiram as vantagens e desvantagens de sua localização, descreveram suas ruas, tipos, lugares, a população (a maioria constituída de mestiços); descreveram a carência de recursos, a alimentação, a vida social, o comportamento feminino, o mau exemplo dado pelas autoridades e o procedimento pouco edificante dos eclesiásticos.
Nota-se sempre, nas obras desses viajantes, uma crítica picante da conduta moral e social dos habitantes da cidade de Goiás e do restante da Província, mas deve-se observar que a formação dos mesmos, por ser estrangeira, era moldada dentro dos rígidos preceitos europeus, a razão pelo espanto do mesmo em relação aos modus vivendi do povo no coração do Brasil, no fundo do sertão.
No plano econômico, segundo a historiadora Maria Elizabeth Martins Dolles, a Província de Goyaz mantinha uma situação econômica inalterada, apesar do advento da Independência do Brasil, permanecendo uma agricultura de subsistência e um comércio fraco pela carência de excedentes exportáveis, pela dificuldade de acesso e comunicação e a supremacia da pecuária, pelo gosto do goiano por uma alimentação mais à base de carne.
Na esfera política, a primeira Constituição Brasileira, datada de 1824, instituiu nas províncias do Império os chamados “Conselhos Fiscais”, que tinham por objetivo primordial reconhecer e garantir, a todo cidadão, o direito de intervir nos negócios de sua Província; o que, na prática, não foi devidamente levado a efeito devido ao caráter centralizador desta e a preocupação com a preservação da unidade territorial brasileira.
Com o advento da Independência, o pensamento político do Brasil norteou pelos ditames do Federalismo na América do Norte, fator que detonou nas províncias ideais essencialmente federalistas; o que foi mola propulsora para a primeira reforma constitucional brasileira, consubstanciada na Lei de 12 de agosto de 1832, denominada “Ato Adicional”.
Na província de Goyaz, no plano político, após a Junta Provisória, tomou posse o Bacharel Caetano Maria Lopes Gama (14/09/1824 a 24/10/1827), seguido pelo Brigadeiro Miguel Lino de Morais (24/10/1827 a 14/08/1831), depois assumindo o Padre Luiz Bartolomeu Marques (14/08/1931 a 31/12/1831), passando a Previdência ao Coronel José Rodrigues Jardim, que governou de 31 de dezembro de 1831 a 20 de março de 1837, primeiro goiano a ocupar tal cargo.
Em 15 de julho de 1826, a bula do Papa Leão XII elevou Goyaz à categoria de Bispado, quando ficou à frente da Diocese Dom Francisco Ferreira de Azevedo, prelado já nomeado e em exercício. Por esse tempo, os padres residentes na Província de Goyaz possuíam uma invejável cultura, destacando-se Luiz Antônio da Silva e Souza conhecedor de historia e arte poética; Bartolomeu Luiz Marques (Moral); Emídio Marques (Latim); Lucas Freire de Andrade (Advocacia); Manoel Rodrigues Jardim (Política Administrativa), dentre outros.
O padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, tido por “Pacificador do Norte”, assumiu a presidência da Província de Goyaz, por carta imperial de 15 de janeiro de 1837, tomando posse em 20 de março de 1837, governando até 04 de setembro de 1839, quando a província interna e questões de lutas de fronteiras com Mato Grosso e Maranhão.
Ao verificar as péssimas condições de funcionamento do Hospital da Caridade São Pedro de Alcântara, idealizou a primeira Loteria de Goyaz, denominada “Loteria da Província de Goyaz”, baixada por Resolução nº 055 de 27 de julho de 1837, e que funcionou por dez anos, quando levou uma renda pequena para o Hospital, mas que, pelo gesto pioneiro e arrojado do padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, intensificou os gestos caridosos dos habitantes da cidade de Goyaz, “bastando isso para o seu nome (o do Padre Camargo Fleury) fosse relembrado com simpatia e com amor”, segundo narra o historiador Odorico Costa, em artigo na Revista Oeste, em 1942.
Em 1837, chegava à Cidade de Goyaz, Dr. Francisco Sabino Alves da Rocha Vieira, chefe principal do motivo revolucionário que teve palco na Capital baiana, intitulado “A Sabinada”, de caráter inflamado, o que fez mais de duas mil mortes. Foi, por sentença judicial, exilado em Goyaz, sob as vistas do Presidente da Província, e que aqui se casou com Ana Vieira, porém, sempre fiel aos seus ideais revolucionários, lança “O Zumbi”, jornal de caráter polêmico, manuscrito que não passou do primeiro número, mas que foi mola propulsora para sua retirada para Província de Mato Grosso, sob as vistas do Almirante Augusto Leverger, em Cuiabá, local onde veio a falecer em 1846.
Em 19 de fevereiro de 1839, a Cidade de Goyaz, após chuvas torrenciais, conheceu a maior enchente de sua historia, quando o Rio Vermelho de águas enfurecidas, devassou a parte baixa da cidade, destruindo as pontes de Cambaúba, Lapa, Carmo, Pinguelona, e carregando a Igreja de Nossa Senhora da Lapa, datada de 1794, com todas as suas alfaias, imagens e o sino; o que causou grande prejuízo aos moradores do centro da antiga capital e conhecida como a maior de sua história.
Foram nomes ilustres na antiga capital por essa época: Mariano Teixeira dos Santos (1810 – 1902), nascido em Pirenópolis e falecido no Arraial de Ouro Fino, que exerceu o cargo de diretor da tipografia do Correio Oficial, primeiro jornal vilaboense e ainda o Dr. Vicente Moretti Foggia (1803 – 1894), que foi, desde fevereiro de 1831, quando chegou a Goiás, proveniente da Itália, abnegado, regente da cadeira de matemáticas elementares do Lyceu de Goyaz e examinador das águas termais de Caldas Novas; além de caridoso servente da medicina até idade avançada de 91 anos de trabalho ininterrupto, em favor da Cidade de Goyaz que, sem sombra de dúvidas “perdeu o título de capital, mas não perdeu o dom do encantamento” no escrito antológico de Mariana Augusta Fleury Curado.
“... Acima dos tesouros dos seus casarões e das igrejas, o mais importante em Goiás é a sua atmosfera, que a migração para capital nova como que purificou, refinou. Os inquietos, os ambiciosos, partiram. Nela ficaram os escolhidos, os felizes que sabem apreciar o seu silêncio, a paz doce e digna...” Assim se expressou a grande dama da literatura brasileira Rachel de Queiroz – ligada à antiga capital por laços afetivos – publicada na Revista Cruzeiro, em 1958, demonstrando todo o amor da escritora cearense pela cidade eterna de nós os goianos, cor de violeta, cor da saudade.
Por volta de 1830, na antiga capital, cidade de Goyaz e, surgiu uma entidade clandestina dedicada à libertação de escravos, composta de 04 membros, escondidos sob pseudônimo, que acabaram por se tornar nomes de famílias ilustres: Serradourada, Tocantins, Caiapó, Corumbá, Bonsolhos e Milameixas. Esta entidade de vida efêmera conseguiu libertar alguns negros e serviu de embrião para os verdadeiros ideais libertários que, mais tarde, ganhariam o corpo eclodindo no famoso 13 de maio de 1888, que foi selo para o expirar da monarquia.
Em 01 de agosto de 1835, foi fundada na Cidade de Goyaz a “Loja Maçônica Azylo da Razão”, que teve decisivo papel no movimento abolicionista encetado a partir da segunda metade do século XIX. Também, em 1840, chegava à antiga capital, proveniente de Meia Ponte, o artista José Joaquim da Veiga Valle, tido por “Aleijadinho de Goyaz”, que deixou obras sacras valiosíssimas nas igrejas e museus da velha capital.
No ano de 1841, Veiga Valle contraiu matrimônio com a filha do presidente da Província, José Rodrigues Jardim, passando a residir no Largo do Rosário, quando realizou importante trabalho como santeiro e como homem público, político conceituado. Dentre suas obras sacras destacam-se São José de Botas, Nossa Senhora do Parto (como os anjos carecas), São João Batista, Deus Menino, Nossa Senhora da Conceição, dentre outras. Depois de uma vida laboriosa e produtiva, faleceu Veiga Valle na Cidade de Goyaz, em 19 de janeiro de 1874.
Em 01 de janeiro de 1842, o Capitão Antônio José de Castro tomou posse do cargo de Provedor da Fazenda Provincial, ao realizar importante trabalho no setor. No ano anterior, tomava posse no cargo de Presidente da Província de Goyaz, Dom José de Assis Mascarenhas, que ficou de 04/09/1839 a 19/09/1845, sendo substituído interinamente por vice-presidentes por curtos períodos, dentre esses destaca-se José Rodrigues Jardim e Francisco Ferreira dos Santos Azevedo.
Em 19/09/1845 tomava posse do cargo de Presidente da Província Joaquim Inácio de Ramalho, Barão de Ramalho, Professor de Direito da Faculdade de Direito de São Paulo, que permaneceu no poder até 19 de fevereiro de 1848. Durante seu governo, foi criado o “Lyceu Goyano”, depois Lyceu de Goyaz, por lei provincial de 20 de junho de 1846, regulamentada pela lei nº 009 de 25 de julho do mesmo ano, instalado em 23 de fevereiro de 1847, segundo a ata lavrada por Dr. Vicente Moretti Foggia. O Lyceu de Goyaz funcionou ainda na Escola de Aprendizes e Artífices e por cumprimento das determinações testamentárias do Dr. Corumbá, passou a funcionar no prédio da rua que levou seu nome, depois ampliado. Ainda em 1906, o Dr. João Alves de Castro requereu e obteve, em 1907, a equiparação do Lyceu de Goiás ao famoso Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, então a capital do país.
Ainda no governo do Barão de Ramalho surgiu o segundo jornal vilaboense “O Goiano”, circulado pela primeira vez em 01 de janeiro de 1846 por iniciativa particular. Depois apareceram a “Gazeta Oficial”, em 1855 e “O Tocantins”, circulado pela primeira vez em 06 de janeiro de 1855. Em 1848 surgiu O Theatro São Joaquim no Beco da Lapa (há outras que afirmam ser ele inaugurado em 01 de julho de 1857), sendo propriedade do comerciante Manoel das Chagas Artiaga, adquirido em 1871 pelo Presidente da Província Antero Cícero de Assis, e destruído em 1928, há 90 anos.
Ali eram representados semanalmente operetas, dramas românticos, triolés, Soirées lítero-musicais, comédias e espetáculos variados, com refinado acompanhamento musical. Ainda no ano de 1848 foram às ruas centrais da antiga capital iluminadas a querosene.
Entre 1840 e 1850 a imagem de Nosso Senhor dos Passos, padroeiro da irmandade que leva seu nome, fundada na Cidade de Goyaz em 1746 pelo padre Perestrelo, sofreu reformas; sendo acrescido de olhos de vidro, articulação nas juntas e pintura, trabalho do artista Veiga Valle. Essa imagem, fixada na Igreja de São Francisco de Paula, não tem dados certeiros sobre a sua origem, e, segundo relatos orais, a mesma veio da Bahia carregada nos ombros pelos escravos de Goyaz, mas não há nenhuma afirmativa oficial.
Com a inplementação que se iniciava da navegação dos rios goianos, que tomaria impulso no governo de Antônio de Pádua Fleury, chegou a Leopoldina em 14 de fevereiro de 1848 os dois barcos “Natividade” e “Santo Antônio”, com, respectivamente, 1000 e 12000 quilos, fato auspicioso para a época. Neste mesmo ano, já no governo de Pádua Fleury (de 19/09/1848 a 11/06/1849), foi criada uma sociedade de Acionistas para o progresso da navegação do Rio Araguaia, sendo que a primeira viagem da nova empresa se deu em 28 de julho de 1848 com percurso até o Pará.
Ainda no governo de Pádua Fleury, houve embelezamento da antiga capital com o calçamento das ruas e a construção de parte dos Cais do Rio Vermelho, a fim de resguardar os moradores da parte baixa das enchentes do Rio Vermelho... “O Dom Francisco/ ao longe aves em bando/ ao fundo o velho cais/ que vai para o mercado/ por onde muitas vezes/ passei brincando...”.Assim escreveu Hugo de Carvalho Ramos, nome maior da literatura de Vila Boa.
Eram alguns nomes ilustres na metade do século XIX na Cidade de Goyaz: Monsenhor Joaquim Vicente de Azevedo (1794 – 1886), que foi vigário da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, membro do prestigio do Partido Liberal; major Inácio Soares de Bulhões (1819 – 1890), uma das grandes fortunas de Goyaz Imperial, cavaleiro da Ordem da Rosa e major da Guarda Nacional; Desembargador João Bonifácio Gomes de Siqueira (1816 – 1901), primeiro goiano a se formar em Direito, vice-presidente da Província e ainda íntegro magistrado; Cônego Manoel do Couto, de grande cultura, e Theodoro Rodrigues de Morais, primeiro vilaboense a se formar em Medicina. Todos amantes do torrão natal, a bela, nobre e fidalga Vila Boa de Goiás, cidade luz e a eterna inspiração dos poetas e seresteiros.
... “Como são belas as noites de luar em Goiás! No meio dele se destaca a lua branca e fria, envolva lentamente em um círculo azul esmeraldino. Sim, as nossas noites tem especial encanto...”. Assim, escreveu, com alma apaixonada, a talentosa cronista Lllydia Maria Perillo Caiado, no jornal “A Rosa”, de 24 de setembro de 1908, ao descrever o sempre eterno luar de encanto da antiga capital de Goyaz.
A partir de 1842, segundo relatórios históricos, o Dr. Theodoro Rodrigues de Morais, primeiro goiano a se formar em Medicina, passou a auxiliar, de forma gratuita, o Dr. Vicente Moretti Foggia nos trabalhos médicos do Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, até então, o único da Província.
Segundo Relatório do vice-presidente Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, apresentado em sessão ordinária da Assembleia Legislativa em 1842, publicada pela Typographia Provincial, de forma livre, denunciava o descrédito e a falta de recursos da antiga Capital nessa época: “Não podendo a Câmara Municipal desta Cidade de Goyaz construir com suas rendas, cemitério, continua-se a enterrar os corpos dos desgraçados no Campo de Força, onde não há nenhuma cerca que vede a entrada dos porcos que continuamente estão a fuçar as sepulturas, de maneira que, às vezes, chegam a aparecer os mesmos corpos, exalando sempre, e principalmente quando o sol está quente, um fétido odor, horrível, o que na verdade é prejudicial à saúde.”
O problema, mais tarde, foi sanado com a construção do Cemitério São Miguel, nas proximidades da Igreja de Santa Bárbara, poética e tristonha, envolta, ao entardecer, de brumas violáceas, como uma ècharpe cor de saudades.
No campo educacional, a Cidade de Goyaz, nos meados do século XIX, contava com Lyceu, único oficial, e ainda com o abnegado trabalho das antigas mestras do passado, como Maria Romana da Purificação Araújo, primeira a ser nomeada, Pacífica Josephina de Castro (Mestra Inhola), talvez a mais querida mestra de Goyaz, professora de dezenas de gerações vilaboenses, merecendo o ditado: “Se cadeia fosse escola, lá morava mestra Inhola”, muito corrente na época. Mestra de revigarado esforço, nascida em 1846 e falecida em 1933, Inhola teve como aluno, dentre outros, o general Custódio Dechamps Cavalcante, Donizeth Martins de Araújo e Rosentina Santana e Silva.
Com devoção, Mestra Inhola foi ainda a introdutora dos piedosos Cantos do “Perdão” e o “Bouquet” das festas religiosas da antiga Capital, que fazem parte hoje das nossas mais gratas tradições.
Outra mestra famosa em Goyaz foi Silvina Hermelinda Xavier de Brito (1835 – 1920), tida por “Mestra Silvina”. Ensinava às turmas regulares no seu casarão da Rua Direta, aulas sem férias, sem notas, sem recreio, e com “Cheiro de rabugem dos cachorros de Samélia”, segundo Cora Coralina, uma de suas alunas.
No uso de métodos antigos, Mestra Silvina repassava às crianças da velha Capital os ensinamentos que remontava os séculos. Teve por alunos, dentre outros: Leão Di Ramos Caiado (mais tarde, advogado e político); Hugo de Carvalho Ramos (expoente maior da literatura goiana); Argentina Remígio Monteiro (intelectual vibrante; fez parte de uma das secretarias do gabinete Literário Goiano); Victor de Carvalho Ramos (escritor de notável inteligência); Brenno Guimarães (poeta romântico, de grande sensibilidade que mais tarde foi assassinado); além de Apulcro de Alencastro. Depois de laboriosa jornada, Mestra Silvina aposentou-se por decreto nº 13, de 21 de julho de 1892, assinado pelo Governador e Marechal Braz Abrantes.
Outros abnegados mestres do passado, que se pode salientar pelo arrojo e pioneirismo, destaca-se Feliciano Jardim, primeiro que se tem notícia, no ramo de primeiras letras, sendo que foi ainda Inspetor Paroquial em 1859, e professor de Geografia e História do Lyceu de Goiás. Também, merece destaque o trabalho das professoras Emerenciana Monteiro e Rita Sérgio Lacerda dos Santos, ambas, renomadas mestras do antigo Arraial de Ouro Fino, das adjacências da antiga capital.
Em 1858, o Bacharel Francisco Januário da Gama Cerqueira, que governou Goyaz de 28 de março de 1857 a 01 de maio de 1860, criou uma “Escola Normal”, que, todavia, não foi levada a efeito por carência de pessoal docente e falta de um prédio próprio para a instalação. Somente em 1834, no governo de Camilo Augusto Maria de Britto (de 6 de fevereiro de 1884 a 03 de setembro de 1884), curto período, mas produtivo, é que a Escola Normal iniciou suas atividades, em anexo ao Lyceu.
Para cuidados relativos à escrita dos arquivos escolares e administrativos da Província em geral, foi criado o Cargo de Amanuense por resolução de 19 de janeiro de 1858, sendo nomeado interinamente o Miguel Bernardino Pizarro.
O Seminário Episcopal Santa Cruz (ou seminários Santa Cruz) foi fundado por força do Decreto 2543 de 03 de março de 1860, pelo esforço de Dom Joaquim Gonçalves de Azevedo, Bispo de Goyaz. A principio, atendia a alunos internos e externos. Foi instalado em 1872, fechando por período e reiniciando em 16 de outubro de 1879, por iniciativa do Cônego Joaquim Vicente de Azevedo, vigário capitular do bispado.
Existiu ainda, em Goyaz antiga capital, o “Externato Goyano” que teve vida efêmera, fundado em 01 de outubro de 1836, tendo por diretor João Batista Soares Maya, que, dentre outros, objetivava oferecer uma educação “Intelectual e Metódica”, porém, pela pouca difusão e pelo tradicionalismo, não teve muita aceitação, encerrando suas atividades em pouco tempo.
Dentre os homens notáveis desse tempo, pode-se salientar o arrojo de Felipe Cardoso de Santa Cruz, político vibrante e atuante, muito fez pela instalação do Seminário Episcopal, que acabou levando seu nome, uma merecida homenagem. Foi nessas suas lides políticas, responsável pela escolha do local onde se localizaria o “Paço Episcopal” e a sede do Seminário, hoje, todos desaparecidos.
Merece destaque o nome de Antonio José Caiado (1826 – 1899), que chegou a Deputado Provincial, que o vice-presidente e senador e, ainda sempre deverá ser lembrado o trabalho de José Joaquim de Souza (1830 – 1913), que após o curso de Direito em São Paulo, chegou a Procurador Fiscal da Tesouraria e Senador Federal, muito lutando pela antiga capital, esteio de todos nós, goianos e vilaboenses, prisioneiros, no coração e na sensibilidade, ao vale da Serra Dourada, onde nasceu pouco de Goiás. E, segundo Edmar Fleury Pereira, “Goyaz, pequenina cidade, posto que Capital do Estado, onde diversões eram minguadas, escassas, propiciava uma paz diferente, na sensibilidade de sua gente, que se alimentava no luar...”.
Só assim, aos cadinhos, com pedaços de coração de cada um é que se fez Goyaz, Goiaz, Goiás!
(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, Graduado em Letras e Linguística pela UFG. Especialista em Literatura pela UFG. Mestre em Literatura pela UFG. Mestre em Geografia pela UFG. Doutor em Geografia pela UFG. Pós-doutorando em Geografia pela USP. Professor. Poeta. bentofleury@hotmail.com)