Conduziram-no primeiramente a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o Sumo Sacerdote naquele ano. Então Anás o enviou manietado a Caifás, o Sumo Sacerdote. Caifás era quem tinha dado aos judeus este conselho: "É conveniente que um só homem morra pelo povo". (Evangelho de João, cap. 18, vv. 13, 14 e 24).
Jesus na casa do Sumo sacerdote Caifás
E os que prenderam a Jesus o levaram à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde todos os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos estavam reunidos.
Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus de longe até dentro do pátio do Sumo Sacerdote. Esse discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com Jesus no pátio do Sumo Sacerdote. Pedro ficou de fora, junto à porta. Saiu então o outro discípulo, o conhecido do Sumo Sacerdote, e falou com a porteira e levou Pedro para dentro. E entrando aí, sentou-se com os criados, aquecendo-se junto ao fogo, para ver o fim. (Evangelhos de: Mateus, cap. 26, vv. 57 e 58 - Marcos, cap. 14, vv. 53 e 54 - Lucas, cap. 22, v. 54 - João, cap. 18, vv. 15 e 16).
Jesus interrogado por Caifás
Então o Sumo Sacerdote interrogou Jesus a respeito de seus discípulos e de sua doutrina. Jesus lhe respondeu:
"Eu falei abertamente ao mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no Templo, onde todos os judeus se reúnem. Nada falei às escondidas. Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que lhes falei, pois sabem o que eu disse".
Dizendo ele isto, um dos guardas que ali estavam, deu uma bofetada em Jesus, dizendo: "Assim respondes ao Sumo Sacerdote?"
Respondeu-lhe Jesus: “Se falei mal, testifica sobre o mal; mas, se falei bem, por que me bates?” (Evangelho de João, cap. 18, vv. 19 a 23).
Depois de ser preso, Jesus foi conduzido primeiramente à presença de Anás, que não era Sumo Sacerdote de fato, mas por direito, porque o cargo de Sumo Sacerdote era vitalício a não ser que fosse deposto por razões políticas. Por isso, fala-se em Sumos Sacerdotes. O Sumo Sacerdote daquele ano, ou seja, de fato, era Caifás, genro de Anás.
O nome Sumo Sacerdote vem do hebraico guita. O Sumo Sacerdote era o principal dos sacerdotes, a mais alta autoridade religiosa e política do país, além de ser o presidente do Sinédrio. De acordo com a tradição, somente os descendentes de Arão, irmão de Moisés, poderiam ocupar o cargo de Sumo Sacerdote, mas, posteriormente, essa tradição foi abolida por interesses políticos.
A palavra Anás é derivada de Ananias; no hebraico significa "protegido por Yahweh". Anás era filho de Sete, o seu genro Caifás e seus cinco filhos ocuparam o ofício de Sumo Sacerdote. Ele foi nomeado por Quirino, governador da Síria. Anás ela líder influente entre os judeus por ter sido Sumo Sacerdote de 6 a 17 d.C., quando foi destituído pelos romanos. Quando Jesus, aos doze anos, esteve no Templo de Jerusalém, Anás era o Sumo Sacerdote. Anás tinha grande influência sobre o genro, que, certamente, alcançou o mais alto cargo graças à sua intercessão. Anás e Caifás foram os mentores intelectuais da prisão e da condenação de Jesus.
Não se sabe como foi o encontro de Jesus com Anás. Somente o Evangelho de João narra esse episódio porque João e Pedro acompanharam os passos de Jesus depois da prisão no horto de Getsêmani.
Ainda com as mãos amarradas, o Mestre foi conduzido à presença de Caifás, que havia dito aos judeus que era melhor a morte de Jesus para salvar o povo de sua influência.
Na casa do Sumo Sacerdote Caifás estavam as principais autoridades judaicas à espera de Jesus: os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos. Deveria ser início da madrugada de sexta-feira.
Caifás, ou José Caifás, do grego significa "depressão", foi nomeado pelo procônsul romano Valerius Gratus e demitido pelo procônsul Vitellius. Era saduceu e por isto era contrário aos ensinos da ressurreição e da imortalidade da alma.
É provável que apenas Pedro e João seguiram os passos de Jesus depois do episódio de Getsêmani.
A narrativa revela que outro discípulo estava com Pedro e era conhecido do Sumo Sacerdote Caifás. A tradição considera que esse discípulo anônimo foi o apóstolo João devido ao detalhe de sua narrativa quanto ao encontro com Anás e Caifás.
Não se sabe que tipo de relação existiu entre João e Caifás. Sendo João um pescador, mas voltado à vida religiosa desde quando fora discípulo de João Batista, é provável que também tenha sido conhecido por alguns membros da comunidade judaica desde o tempo em que Jesus falava nas sinagogas e pregava livremente no Templo de Jerusalém.
João era conhecido e não amigo do Sumo Sacerdote, mas era respeitado por seus assessores porque, num momento singular, teve livre acesso ao palácio de Caifás, o que não ocorrera com Pedro, que somente entrou no Palácio depois que João conversou com a porteira.
Pedro ficou no pátio e sentou-se com os serviçais, junto a uma fogueira, para tomar conhecimento do que ocorreria a Jesus. João ficou na sala onde se encontrava Jesus porque foi o único a narrar o interrogatório de Caifás.
No pátio Pedro seria reconhecido como discípulo de Jesus e negaria essa condição, conforme profetizou o Mestre.
Ao ser interrogado por Caifás a respeito de sua doutrina e de seus seguidores, o Mestre argumentou que todos os seus ensinamentos foram ditos publicamente, nada era segredo. Que a pergunta fosse dirigida aos que o ouviram na sinagoga e no Templo, onde todos os judeus se reúnem.
Jesus foi agredido por não responder diretamente a pergunta do Sumo Sacerdote. Diante da agressão, o Mestre argumentou com sabedoria: "Se falei mal, testifica sobre o mal; mas, se falei bem, por que me bates?" Jesus sabia que tudo que dissesse não mudaria o veredicto antecipado do Sumo Sacerdote. Afinal, nesses casos, nada adianta tentar convencer os que já têm opinião firmada a respeito da prática da injustiça.
Embora o império romano tenha proferido a execução de Jesus, as perseguições que o Mestre sofreu tiveram o seu início com as articulações dos Sumos Sacerdotes e seus seguidores. O que demonstra que no tempo de Jesus e desde os tempos imemoriais o poder religioso interferiu no Estado para a tomada das decisões graves na História da Humanidade. Em alguns momentos, as organizações religiosas colaboraram para o equilíbrio social, mas na maioria dos casos fomentaram guerras para a manutenção do poder religioso sobre o Estado. Poder religioso sonhado por Judas Iscariotes, mas que não logrou êxito porque "não se põe vinho novo em odres velhos" (Mateus 9:17).
A Doutrina de Jesus não coaduna com os interesses do poder temporal, mas espera que todos os povos estejam em harmonia com os desígnios de Deus. O Estado que desrespeitar a Lei de Justiça, Amor e Caridade terá de rever suas diretrizes, além de sofrer as consequências dolorosas de seus atos.
Do Império que condenou Jesus restou um vergonhoso álbum de ruínas. Dos religiosos que articularam contra Jesus, somente resta o esquecimento ou a má reputação.
A lembrança de Jesus cresce dia a dia. A sua Doutrina de Amor e seus exemplos de misericórdia crescem em todos os anseios sociais. O Reino de Jesus está cada vez mais atual e vivo nos corações de todos os seres humanos, inclusive naqueles que não se dizem cristãos. Da cruz do Calvário, herdamos o Símbolo do Amor e do Sacrifício, lembrando o sinal de + (mais) que representa a soma de todas as virtudes dos Espíritos Puros, resultado do trabalho de Deus no Espírito Imortal, uma de Suas esplendorosas e perfeitas Criações.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro tem pós-doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie. É autor da obra “O Livro dos Evangelhos”, pela Editora Boa Nova. É membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia Aparecidense de Letras)