Ao citar o período dos governos militares como “movimento de 1964”, o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), assume postura moderada, diferente da narrativa vitimista do Partido dos Trabalhadores, ao qual esteve filiado e serviu antes de se tornar ministro. Os militares definiam seus governos como “revolução” e o PT, seus puxadinhos e até agremiações de outras orientações, classificam como ditadura resultante de um golpe e – dependendo do interesse de momento – a pintam como cruel e sanguinária. Essa postura do ministro é interessante vindo de alguém que, na posição de magistrado, tem o dever cultivar as leis, colocar água na fervura e promover, da melhor forma, a pacificação nacional. É preciso entender que aquele período da história brasileira foi resultado de toda a trajetória republicana, onde os militares não só proclamaram a República, mas também a garantiram. Lembrar, ainda, que naqueles anos conflagrados, onde opositores partiram para a luta armada, ocorreram excessos de ambos os lados e não apenas dos detentores do poder, como tem sido enfadonhamente repetido e ensinado às novas gerações.
Os que dizem ter a “ditadura de 64” durado 21 anos se enganam ou querem enganar. É o que lembra Marco Antonio Villa, no seu livro sobre o período: “Não é possível chamar de ditadura o período 1964-1968 (até o AI-5), com toda a movimentação político-cultural que havia no país. Muito menos os anos 1979- 1985, com a aprovação da Lei de Anistia e as eleições diretas para os governos estaduais em 1982”. Na verdade, a luta armada foi a troca da política pelas armas escolhida por pequenos grupos radicais, e deu motivo para o governo endurecer e reprimir. Mas se comparado, o número de vítimas brasileiras dos anos 1964-85, apesar de toda a narrativa vitimista dos adversários esquerdistas, é pequeno em relação ao ocorrido nos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai. No Brasil, a Comissão Nacional da Verdade identificou 424 mortos e desaparecidos (os desaparecidos são 210). Na Argentina (1973-83) falou-se em 30 mil mortos, mas o número oficialmente reconhecido é 8.961. No Chile (1973-90), acusou-se 40 mil e o numero oficial é 4.299. No Uruguai (1973-85) estima-se 300 mortos ou desaparecidos. Para se estabelecer uma comparação, é importante lembrar que o Brasil hoje possui 207 milhões de habitantes enquanto na Argentina são 43,8 milhões, no Chile 17,9 milhões e no Uruguai 3,5 milhões.
Cultivar ódios do passado em nada contribui para o avanço do país e o bem-estar do povo. É importante conhecer a história para evitar a repetição de erros. A Lei da Anistia, de 1979, foi a forma brasileira encontrada para a busca da pacificação nacional, já que perdoou os excessos tanto de uns quanto de outros. Os que insistem em revê-la são saudosistas mórbidos e, muitas vezes nem isso, pois sendo jovens apenas repetem aquilo que irresponsavelmente lhes ensinaram não só na militância política, mas nas escolas e em outros ambientes que deveriam ser apolíticos...
(Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Aspomil (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) aspomilpm@terra.com.br)